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Economia

Mesmo com alta dos preços, brasileiro mantém o café no dia a dia

Valor do produto praticamente dobrou nos últimos 18 meses

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Como começa o seu dia? Bom, se esta mesma pergunta for feita para milhões de brasileiros, muitos dirão que é com um cafezinho, para dar aquela energia para o trabalho. Mas como o aumento no preço do produto afetou a forma de consumi-lo?

O café é uma commodity, produto elaborado em larga escala que funciona como matéria-prima, negociada nas bolsas de Nova York, Londres e São Paulo. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) apontou que, nos 18 meses entre fevereiro de 2024 e agosto de 2025, o preço do produto chegou a uma elevação de 99,46%. Ou seja, praticamente dobrou de preço neste período.

E, para o desespero de muitos, deve subir ainda mais. Foi isso que alertou o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), Pavel Cardoso, em entrevista coletiva no último dia 24.

Cardoso informou que é possível que haja um acréscimo entre 10% e 15% nos preços do produto a serem repassados aos supermercados, já que os custos com a compra da matéria-prima foram alavancados. Mas por que houve este aumento tão brusco?

Segundo Daniel Santos Kosinski, professor do Departamento de Evolução Econômica da Uerj, “a principal razão para o aumento do preço é que as safras dos últimos anos vêm apresentando perdas consideráveis em função de eventos climáticos”.

No ano passado, a produção mundial de café foi de 176,2 milhões de sacas. O Brasil, maior produtor global, costuma responder por cerca de um terço do total. A expectativa era de quase 59 milhões, mas, devido a intercorrências climáticas, a produção ficou abaixo do previsto, fechando em 54 milhões.

No Vietnã, segundo maior produtor global, a situação não foi muito diferente, problemas com o clima também impactaram as lavouras, reduzindo a safra em 10%.

“Há uma tendência de aumento das temperaturas em diferentes regiões cafeeiras importantes, como o sul de MG, atrapalhando a produção em áreas tradicionais”, destaca Kosinski.

Tarifaço

Para Kosinski, o tarifaço de Trump não é um fator determinante para o aumento do café. Ele destacou que o café brasileiro, neste caso, “fica mais caro para o americanos” e que os “produtores brasileiros podem procurar outros mercados internacionais para a venda com o intuito de seguir recebendo em dólar”.

Já para Pavel, esse tema traz incerteza para o mercado cafeeiro. O Brasil, ressalta, é hoje o maior fornecedor de café aos norte-americanos, que aumentaram as tarifas contra produtos brasileiros, como forma de pressão contra o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado.

“A ordem executiva [do governo dos Estados Unidos], publicada no dia 6 de setembro, indica que os Estados Unidos concluíram e ouviram o mercado de que o café, não sendo lá produzido, não terá tarifas. Essa leitura ainda não nos dá clareza se voltará a zero [de tarifa] ou se continuará com 10%. A leitura que nós fizemos é que não terá tarifas, porque os Estados Unidos não produzem café. Tem apenas uma produção muito incipiente, no Havaí e em Porto Rico, mas quase nada”, explica o presidente da entidade.

Mudança no consumo

A Abic encomendou uma pesquisa ao Instituto Axxus, divulgada no fim de setembro, que nos apontou uma transformação nos hábitos de consumo. O impacto do preço do café aparece na forma de comprar e consumir a bebida.

Quase quatro em cada dez consumidores (39%) afirmaram optar por uma marca mais barata, mais que o dobro de 2023 (16%). A fidelidade às marcas cede lugar à busca pelo menor valor.

Nas cafeterias, o movimento é semelhante: a frequência caiu de 51% em 2023, para 39% em 2025. O levantamento mostra que os principais motivos para a queda são preços elevados, mau atendimento e qualidade inconsistente da bebida.

“Esse recuo está diretamente associado ao encarecimento da bebida. Nos últimos dois anos, o café figurou entre os alimentos que mais subiram no IPCA, com altas superiores a 70%, segundo o IBGE”,destaca Pavel, em entrevista ao DIA. Por fim, ele deixou uma mensagem aos consumidores brasileiros:

“Junto aos consumidores, estimulamos cada vez mais o consumo consciente, sem desperdícios, ou seja, preparar apenas o que será consumido. Também estimulamos a transparência e a comunicação entre indústria e consumidor sobre os preços e tendências. O fundamental é mantermos a qualidade e pureza certificada do café que é uma paixão nacional”.

Bebida do dia a dia

Cristiane Carvalho, corretora de seguros, de 50 anos, não vive sem seu café matinal e também uma dose vespertina. Por ser uma prioridade em sua vida, ela, que mora no Recreio, na Zona Sudoeste do Rio, acaba “encarando” este aumento.
Leia mais no site O Dia


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