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Economia

Galípolo: ‘Inflação está acima da meta e bastante disseminada, não é pontual’

Presidente do Banco Central participa de uma audiência pública da Comissão de Assuntos Econômicos no Senado Federal.

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O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, disse nesta terça-feira, 22, que a inflação do Brasil está acima da meta de 3% e bastante disseminada, não sendo pressionada por alguma razão pontual. A afirmação foi realizada em audiência pública da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal.

“A inflação acima da meta está bastante disseminada, ela também não é algo pontual. Tanto que quando olhamos para o IPCA para os segmentos mais voláteis, administrados ou alimentação domicílio, conseguimos enxergar uma inflação que está bastante acima da meta, fora inclusive da banda superior da meta, disseminada por diversos produtos, sejam bens industriais, sejam serviços, seja através do IPCA ou administrados ou alimentação a domicílio”, afirmou Galípolo aos senadores.

E alertou: “As expectativas de inflação passam, então, a sofrer uma desancoragem, isso é um elemento muito importante na gestão da política monetária, o manejo das expectativas de inflação.”

Controle de câmbio

O presidente do BC disse que o mandato da autoridade monetária visa o controle da meta de inflação, e não o controle do câmbio, cujo regime no Brasil é flutuante.

“Sobre o tema cambial, por exemplo, o primeiro ponto a reforçar é que o regime do Brasil é de câmbio flutuante”, disse, frisando que toda a discussão envolvendo o câmbio diz respeito aos impactos na inflação. “O mandato do Banco Central Brasil é a meta de inflação e o câmbio vai ter o impacto a partir do peso que ele tem para a inflação, é isso que a gente vai estar sempre analisando e o câmbio flutuante é um amortecedor”, afirmou.

Política monetária

O presidente do Banco Central disse que, em reuniões no exterior, é comum haver questionamentos sobre como o Brasil tem juros altos e uma economia dinâmica, o que indica que os mecanismos de transmissão da política monetária aqui são menos fluidos. Uma normalização da política monetária, para aumentar sua efetividade, demandará reformas contínuas, porque não existe uma “bala de prata” para solucionar o problema.

Ele disse que o questionamento que surge não é simplesmente sobre o patamar dos juros, mas como a economia se mantém dinâmica, tendo inclusive desemprego baixo e maior nível de renda das famílias. “Talvez, os mecanismos de transmissão da política monetária no Brasil não apresentem a mesma fluidez que a gente consegue observar em outros países. Talvez existam alguns canais entupidos de política monetária, o que acaba demandando com que as doses do remédio sejam mais elevadas para que você consiga atingir o mesmo efeito”, comentou.

O presidente do BC avalia que “é óbvio que é desejável” uma normalização da política monetária para redução do nível de juros, a um patamar mais semelhante ao dos pares, mas de maneira que a potência da política monetária seja aumentada.

“A normalização da política monetária vai demandar uma série de reformas contínuas, muitas vezes reformas que não estão simplesmente dentro da alçada do Banco Central e que não vamos ter uma bala de prata disponível, vai demandar bastante debate com a sociedade, discussão, para que a gente possa conquistar isso”, afirmou Galípolo.
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Tarifas de Trump

Gabriel Galípolo afirmou que a diversificação da pauta comercial brasileira e o mercado doméstico relevante para sua pauta econômica tornou o País um potencial local de proteção diante da guerra tarifária.
“Não é que fique melhor com a guerra tarifária, mas voltamos àquela ideia da relatividade. O Brasil pode ser uma economia que tem os pares e, por isso, se destaque positivamente pela sua diversificação na pauta comercial, nas relações comerciais e pela relevância do mercado doméstico do ponto de vista do dinamismo”, disse Galípolo.

Questão fiscal

O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, também disse que é importante para a autoridade monetária avaliar como a questão fiscal afeta o preço de ativos, mas reiterou que não é papel do BC comentar a condução da política fiscal.

“Do ponto de vista fiscal, para o Banco Central interessa menos ou importa menos ter uma opinião sobre o que está sendo feito. Me interessa analisar como que os outros estão julgando e como é que isso está precificando os ativos”, reiterou o presidente do BC.

Galípolo destacou que o BC não comenta a política fiscal porque não é papel da autoridade monetária fazer isso. “Mas eu tenho consciência que a discussão sobre por que nós temos uma taxa de juros estruturalmente alta e ainda assim temos uma economia dinâmica e por que nós temos uma dificuldade de enfrentar indexações de arrecadação com receita ou níveis de engessamento por parte do orçamento vão demandar um grande debate público, amplo com a sociedade, que não vai ser feito do dia para a noite, mas que acho que são dores da democracia e eu prefiro mil vezes estar passando pelas dores que a democracia impõe”, disse

Agenda de trabalho

O presidente do Banco Central ainda detalhou a agenda de trabalho da autoridade monetária para este ano. Ele mencionou pontos como a ampliação do crédito de menor custo, a estabilidade financeira e a comunicação, além do desentupimento dos canais de transmissão.

Falando sobre a comunicação, Galípolo defendeu que o BC terá de aprender a dialogar com o público geral, algo que ele vem mencionando em falas públicas. “É uma demanda, é uma necessidade, seja por uma questão de prevenção a golpes, prevenção a fraudes, seja porque ele precisa informar sobre medidas que vão impactar a vida das pessoas no cotidiano”, afirmou.

Sobre a agenda de estabilidade financeira, o presidente do BC destacou que boa parte da liquidez fluiu dos bancos para outros agentes financeiros. Esse movimento permitiu uma arbitragem regulatória, já que há diferenças na regulação entre os diferentes tipos de agentes. Uma alternativa na mesa seria ampliar a regulação e torná-la homogênea e isonômica, disse.

Sobre a agenda de ampliação do crédito barato, Galípolo lembrou que boa parte das famílias usa crédito de alto custo, com juros muito superiores à Selic. Uma prioridade é substituir essas linhas, sem garantia, por outras linhas com garantia e colateral, o que inclusive aumentaria a potência da política monetária. “É absolutamente saudável tanto para a potência da política monetária quanto para o acesso a crédito por parte das famílias”, disse.

O presidente do BC ainda acrescentou que está havendo uma queda da poupança, usada para financiar o crédito imobiliário, e que esse movimento parece ser estrutural. Por isso, a autoridade monetária tem estudado alternativas de financiamento para esse modelo, disse.

Galípolo acrescentou ainda que várias transformações aconteceram no sistema financeiro, em parte impulsionadas pela agenda do BC. “Essas transformações e mudanças do mercado financeiro precisam de uma transformação proporcional nas ferramentas de que o Banco Central dispõe para poder fazer o processo de supervisão e fiscalização dos entes no mercado financeiro”, disse.

Arcabouço

O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, evitou responder diretamente sobre a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) número 65, que concede autonomia financeira e orçamentária à autarquia. Ele afirmou apenas que há unanimidade sobre a necessidade de “atualizar” os arcabouços do BC.

“O meu sentimento é que há uma unanimidade na casa sobre a necessidade de haver uma modernização e uma atualização sobre o arcabouço orçamentário, financeiro e legal da autoridade monetária, para que ela possa responder às suas atribuições”, respondeu, durante audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado.

Segundo o presidente do BC, ainda existe uma divisão na própria autarquia sobre o regime trabalhista dos servidores, que poderia ser alterado para o modelo celetista, segundo a PEC 65. Galípolo foi indagado sobre o tema pelo senador Plínio Valério (PSDB-AM), que é o relator da proposta.

Como mostrou o Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), Galípolo tem conversado sobre a autonomia financeira e orçamentária do BC com o líder do PT no Senado, Rogério Carvalho (SE), e com o presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Otto Alencar (PSD-BA). A PEC 65 está parada na CCJ desde o ano passado, depois de manobras do governo Lula para impedir sua votação.

Galípolo defendeu, ainda, a importância de “escapar de uma polarização” dentro do BC.

Nesta terça-feira, duas organizações de servidores do BC – o Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central (Sinal) e a Associação Nacional dos Auditores do Banco Central (ANBCB) – enviaram representantes para acompanhar a CAE. Os filiados ao Sinal usam camisetas com os dizeres “Não à PEC 65” em um fundo vermelho, e os representantes da ANBCB usam adesivos verdes dizendo “A favor da PEC 65.”

Desinflação

O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, disse nesta terça-feira que a revisão da projeção de crescimento global feita pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), na esteira da guerra tarifária, já mostra alguns desdobramentos possíveis para o ano em função do cenário dos Estados Unidos.

Ele disse que há interpretações possíveis. Uma delas é de que a guerra tarifária pode “desescalar”, com acordos sendo firmados entre os países. “Essa desaceleração vai se esvaindo e você vai caminhando para a trajetória que já era mais ou menos aguardada e retomando a trajetória que era pensada”, comentou.

Outra possibilidade é uma escalada nas tarifas, provocando desarticulações nas cadeias produtivas. “O trade-off tradicional, a troca tradicional que você está imaginando entre preços e atividade econômica, talvez não responda da maneira que a gente foi treinado para pensar num cenário como esse. Você pode ter menos atividade econômica e com preços mais elevados”, explanou. Nesse caso, há a possibilidade de se importar desinflação em função de uma desaceleração global que tende a reduzir os preços de commodities.

Outra perspectiva é de racionalizar onde os Estados Unidos possam chegar a um termo com a maior parte dos países que são historicamente parceiros e aliados, restringindo a disputa tarifária à China. “Estamos em um ambiente de elevada incerteza tanto sobre o que deve ocorrer quanto sobre quais são as consequências da aplicação das tarifas”, reiterou.

Cenário internacional

O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, disse que o cenário internacional tem sido o principal vetor para determinar os preços de mercado e que atualmente se está em uma nova fase que é a leitura do mercado sobre o governo de Donald Trump.

Galípolo frisou que a leitura que ele faz é a de como o mercado entende o governo, e que essa interpretação do governo Trump se deu em três etapas. Na primeira, correspondente ao último trimestre de 2024, havia uma leitura de que a nova gestão do republicano seria mais pró-mercado, com redução de impostos e regulamentação sobre empresas. Já no primeiro trimestre de 2025, a interpretação de que o impacto das mudanças tarifárias poderia desacelerar a economia americana e, por consequência, a economia global, foi ganhando força.

O presidente do BC explicou que essa corrente estendeu o entendimento para a possibilidade de desaceleração das tarifas, num cenário de muita incerteza sobre o que vai ocorrer, em virtude das idas e vindas das decisões do governo americano e seus desdobramentos. “Você tem dúvidas sobre o que vai ocorrer e quais são os efeitos sobre aquilo que vai ocorrer. Esse cenário foi ganhando força ao longo desse primeiro trimestre, o que sinalizou já uma ideia de um dólar mais fraco e uma atividade econômica mais fraca nos Estados Unidos”, disse.

No atual momento, Galípolo pondera que impera a interpretação que oscila entre a desaceleração em função da incerteza e um cenário de possível aversão ao risco, indicando uma escalada na disputa tarifária com consequências mais abruptas.

“Num cenário como esse, é comum que os investidores busquem se proteger com ativos mais líquidos e ativos que ofereçam menos risco. O que costuma já ser absolutamente desafiador para economias emergentes, quando isso acontece, não é positivo do ponto de vista da dinâmica econômica. Porém agora está num cenário ainda mais complexo, porque nós estamos falando de um cenário de aversão a risco, onde aquilo que é conhecido como o ativo de última instância, ou o ativo mais seguro da economia, está sendo um pouco questionado. Ou seja, historicamente, quando você tem um cenário de aversão de risco, o que você costuma fazer é correr para o dólar, ou correr para títulos soberanos norte-americanos”, explicou.

Ao iniciar sua fala, o presidente destacou que cabe à autoridade monetária explicar e dar transparência sobre o que faz. “Eu tenho sempre defendido que cabe à autoridade monetária explicar e dar cada vez mais transparência sobre o que faz e o porquê faz Esse é um fórum absolutamente privilegiado para eu ter esse tipo de oportunidade. Agradeço demais ao presidente Renan Calheiros pela possibilidade de poder vir aqui explicar e também ouvir, não só falar, mas também ouvir, que é super importante para todos nós”, disse.


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