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Economia

Cenário para crédito melhora, mas é preciso cautela para evitar endividamento

Especialistas recomendam prudência para evitar volta do endividamento no após Desenrola

O alívio no orçamento com a adesão ao programa Desenrola Brasil e as quedas sucessivas na taxa básica de juros têm levado famílias brasileiras a retomar a contratação de empréstimos e financiamentos. Os bancos observam um aumento na procura por linhas de crédito, enquanto cresce também o assédio aos consumidores. As ofertas, que chegam direto no celular, agilizam a contratação, mas acendem o alerta entre especialistas: ainda é preciso prudência e cautela para evitar o endividamento.

Números do Banco Central (BC) compilados pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) dão conta de que a concessão de empréstimos para a compra de bens por pessoas físicas subiu 18% no acumulado em 12 meses até fevereiro, a maior alta dos últimos cinco anos.

A procura se reflete no comprometimento do orçamento. A última edição da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic/CNC) mostrou que o percentual de famílias com dívidas a vencer – o que inclui cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, crédito consignado, empréstimo pessoal e prestações de carro e casa – foi de 78,1% em março, acima dos 77,9% de fevereiro.

Além disso, depois de cinco meses em queda, o volume de famílias inadimplentes, ou seja, com dívidas em atraso, voltou a subir, passando de 28,1% para 28,6%.

Economista da CNC, Izis Ferreira analisa que os resultados apontam para uma demanda maior das famílias por crédito, principalmente com um fôlego no orçamento após as renegociações do Desenrola, mas também com o mercado de trabalho mais forte e a Selic mais baixa.

– O contexto é mais favorável em termos de custo de crédito, mas é um cenário de atenção. O endividamento continua alto e crescendo, e a exposição ao crédito aumentou, o que é um problema para quem tem uma dificuldade de gestão com o crédito – diz.

Efeito que demora a chegar

 

De agosto de 2023 ao mês passado, o Banco Central reduziu a taxa básica de juros de 13,75% ao ano para 10,75%. Ela serve de baliza para as taxas praticadas pelo mercado. Por isso, com a redução, se espera que o crédito fique mais barato para as famílias.

Mas o efeito não é instantâneo. O gerente da Serasa Lucas Barleta explica que a forma como a taxa básica de juros está reduzindo não causa um impacto imediato na ponta, no crédito ao consumidor.

– As operações ainda não estão baratas. O movimento é de médio prazo – afirma.

 

Para se ter uma ideia, cálculos da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) mostram que, no cenário anterior, a taxa média de juros anual do cartão de crédito era de 416,30%, o que chegou a 414,10% com a redução da Selic (-2,20). Já a do empréstimo pessoal passou de 56,80% para 56,00% (-0,80), enquanto as taxas praticadas pelo comércio caíram de 85,40% para 84,50% (-0,90).

Na Caixa Econômica Federal, por exemplo, a contratação de crédito aumentou em cerca de 9% entre janeiro e março, na comparação com o último trimestre de 2023. Crédito consignado e antecipação do Saque Aniversário do Fundo de Garantia – linhas com risco de inadimplência menor, já que são atreladas à garantia, e por isso têm taxas mais atraentes – são as mais buscadas.

Santander e Itaú também informaram ter identificado um aumento na procura de crédito nos últimos meses, sem especificar quanto.

Prudência e paciência na contratação

Especialista em finanças pessoais e professora da Escola de Negócios da PUC-Rio (IAG), Graziela Fortunato analisa que, apesar de condições econômicas mais favoráveis, como juros baixando e inflação reduzida, as famílias continuam endividadas, principalmente as de baixa renda, mais vulneráveis.

– As taxas de juros baixaram, mas não estão baixas ainda. As pessoas não estão tão endividadas como antes, com débitos em atraso, mas seguem com o orçamento comprometido. É preciso resolver as contas pessoais, para depois retomar. Ainda existe um estoque de dívida que precisa ser resolvido para evitar que se crie uma bola de neve – diz.

Ela recomenda cautela e muita análise antes de decidir pela contratação de crédito:

– Tem que pensar direito. A sugestão é que ainda não é o momento para realização dos desejos. Esperar um pouco seria mais prudente, para que o cenário fique mais favorável.

Barleta, da Serasa, avalia ainda que os cuidados que precisaram ser tomados no ano passado, quando os índices de endividamento e inadimplência bateram recordes, devem ser mantidos:

– O Desenrola aumentou a capacidade de pagamento das famílias, mas a preocupação precisa ser a mesma. Não avalio que esse fôlego no orçamento seja um sinal verde de contratar crédito que não seja necessário, porque pode levar a um retorno para um quadro de endividamento.

Atenção aos cuidados

Fôlego

Barleta orienta ainda que a tomada de um empréstimo ou compra financiada só deve acontecer caso o consumidor enxergue no orçamento a capacidade de pagamento de um novo produto de crédito.

Prioridades

Por isso, é preciso colocar na ponta do lápis o que se ganha e o que se gasta mensalmente para saber se há espaço nas finanças da família antes de contratar crédito, principalmente se o objetivo for um gasto não-urgente, como fazer uma reforma ou comprar um eletrodoméstico ou eletrônico.

50-30-20

Ele explica que a chamada regra do “50-30-20” pode ajudar no processo:

– Nesse cálculo a família soma sua renda líquida, ou seja, sem os descontos e contribuições. A partir daí, metade tem que ser derivada para as despesas fixas, como o aluguel, as contas de água e luz e os gastos com alimentação. Outros 30% ficam para os custos variáveis, como as assinatura

de streaming, uma viagem, gastos com lazer. E os 20% restantes devem seguir para uma reserva de emergência, um valor que deve ser guardado, ou até investido, para um uso futuro numa possível emergência.

Troca inteligente

Graziela, da PUC-Rio, orienta ainda que um caminho vantajoso com a redução (ainda que tímida) nos juros pode ser quando o consumidor toma um empréstimo com taxas menores para pagar uma dívida mais alta, com juros mais altos.

– Além de bom negócio, é um sinal de lucidez financeira – afirma.

Pesquise:

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As informações são do Extra.

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