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Brasil

Vendas de bicicletas no Brasil mais que dobram durante pico da pandemia de Covid-19

Levantamento da Aliança Bike aponta que, entre junho e julho, houve um aumento de 118% em comparação ao mesmo período do último ano.

Em tempos de isolamento e distanciamento social, muitos brasileiros se renderam às bicicletas como opção de transporte, atividade física e lazer. No auge da pandemia no país, as vendas no segmento aumentaram 118% em comparação ao mesmo período do ano passado, segundo levantamento da Associação Brasileira do Setor de Bicicletas (Aliança Bike). As informações são da revista Época.

A pesquisa foi feita junto a 40 empresas associadas à entidade entre 15 de junho e 15 de julho. O número equivale a uma alta de 19% em relação aos 30 dias anteriores. Nesse intervalo, a Aliança havia contabilizado um crescimento médio de 50% frente a 2019.

Os valores mostram não apenas a recuperação do mercado, que sofrera forte impacto no início da pandemia, mas também o colocam num patamar histórico. Entre março e abril, quando começou a quarentena na maior parte do país, mais da metade das lojas de bicicleta tiveram queda de 50% a 70% no faturamento, de acordo com o monitoramento da entidade. Cerca de um terço dos entrevistados viu sua receita despencar em percentuais ainda maiores.

“Nos últimos dois meses, tivemos números surreais, que nunca imaginamos. Isso se deve basicamente à necessidade das pessoas se locomoverem de forma individual, o que colocou a bicicleta mais uma vez em evidência pelos seus benefícios. A procura por serviços também cresceu, porque as pessoas tiraram suas bicicletas da garagem para arrumá-las. Isso automaticamente forçou o mercado e os distribuidores que tinham peças de reposição no estoque e provocou um volume absurdo de procura”, disse Henrique Monteiro, vice-presidente da Aliança Bike.

De acordo com ele, foram nas capitais brasileiras onde houve a maior adesão às bicicletas, seja para evitar as aglomerações em transportes públicos ou se adaptar às medidas de distanciamento social. As mais procuradas são as chamadas “bicicletas de entrada”, comumente usadas para fins recreativos ou amadores. A média de gasto gira em torno de R$ 800 a R$ 2 mil, segundo a pesquisa. Isso porque o preço está inflacionado por conta da demanda e da dificuldade para compra de peças do exterior.

As importações desses componentes equivalem a cerca de 80% no mercado nacional, a maioria oriunda da Ásia, especialmente da China. Com a alta significativa das vendas na pandemia, o abastecimento de vários centros, entre eles o Brasil, foi prejudicado. Tal consequência explica parte do prejuízo nos primeiros meses de quarentena no país. Mas, apesar da melhora, os problemas com atrasos de entrega seguem ocorrendo e impedem um crescimento ainda mais robusto.

“Só não se vende mais porque a cadeia de produção não conseguiu obviamente acompanhar a demanda, que foi muito mais forte. A procura está bem maior do que a capacidade da indústria de entregar. Vamos aumentar menos do que poderíamos, mas vamos aumentar bastante. Tudo o que é possível fabricar se vende”, afirmou Isacco Duek, diretor de relações institucionais da Associação Brasileira da Indústria, Comércio, Importação e Exportação de Bicicletas, Peças e Acessórios (Abradibi).

A expectativa de quem atua no setor é de que cerca de 70% do volume de importações esteja normalizado no próximo mês. Eles projetam que o faturamento anual suba pelo menos entre 30% a 40%, graças à proporção das vendas e ao preço, que encareceu devido às altas do dólar, de matérias-prima e commodities, além da própria demanda. A tendência é que o otimismo se mantenha para o ano que vem, quando o consumidor deve pagar menos pelas bicicletas, por exemplo, pela redução de impostos referentes a partes de montagem.

“Não vai ser uma loucura como essa em que a demanda aumenta 200% ou 300% por mês. Isso não é normal. Porém, muitos desses novos ciclistas que entraram na pandemia vão continuar. Não vai ser como agora, mas o produto bicicleta vai estar num patamar bem mais animado do que estava em 2019. Em geral, todo esse pessoal que migrou de um esporte, mesmo que esse esporte volte a ser praticado, vai continuar com a bike. Estou imaginando algo em torno de 30 a 40%. Vamos ter um crescimento firme, bastante consistente”, projeta Duek.

Elétricas

Em movimento similar, o mercado das bicicletas elétricas também presenciou um boom. Modelos de até R$ 4 mil estão com as vendas aquecidas e as buscas por aqueles mais caros crescem. Segundo pesquisa da Aliança Bike, no entanto, a procura ainda não se converteu em vendas.

O nicho teve um crescimento de 34% no último triênio, de acordo com estudo feito pela Aliança em parceria com o Laboratório de Mobilidade Sustentável da UFRJ (Labmob). A mesma pesquisa mostra que no primeiro semestre deste ano foram importadas 7.427 bicicletas elétricas, número equivalente a 64% das importações em 2019. No mesmo período, foram produzidas 8.350 bicicletas deste tipo no Brasil. A projeção para 2020 é de 32 mil unidades.

O modelo só não é tão disseminado no país ainda, se comparado a outras nações europeias e asiáticas, pelo elevado preço, que, em alguns casos, se iguala ao de motos — sobretudo por conta da alta carga tributária. Não à toa, as classes mais altas são as que mais usufruem da bicicleta elétrica. Conforme o estudo, a maior parte dos entrevistados declarou renda familiar entre cinco e dez salários mínimos (27%), seguido por aqueles que recebem mais de dez salários mínimos (22%).

“A bicicleta elétrica é mais usada para lazer. Muita gente também usa para acompanhar o pessoal que faz esporte. Logicamente tem um nicho de mercado. Na Europa, ela ocupa um nicho muito grande. Aqui é menor, porque o preço ainda é muito parecido com o da moto e acaba colidindo”, explicou Duek.

A produção de bicicletas no PIM (Polo Industrial de Manaus) foi de 61.283 unidades em julho, aumento de 30,6% em relação a junho (46.913 bicicletas). No comparativo com o mesmo mês de 2019, houve queda de 28% (85.131 unidades no ano passado). A falta de insumos freou o aumento na produção em referência ao ano passado, segundo a Abraciclo (Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares).

No acumulado de janeiro a julho, as paralisações das fábricas devido à pandemia da Covid-19 levaram o setor à produção total de 310.777 bicicletas, correspondendo a uma retração de 34,8% na comparação com o mesmo período do ano passado (476.319 unidades).

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