Conecte-se conosco

Brasil

‘Tocava nas partes íntimas’; mulheres contam na TV sobre assédio sexual do presidente da Caixa

Segundo a servidora, Pedro Guimarães fazia o assédio e oferecia “proteção” e “ascensão profissional”.

Presidente da Caixa, Pedro Guimarães – Foto: Reprodução

Após denúncias de suposto assédio sexual, que teria sido cometido pelo presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, três servidoras de carreira contaram que os casos geralmente ocorriam na sede do banco, em Brasília, mas principalmente durante as viagens de trabalho, enquanto as equipes se hospedavam no mesmo hotel.

Em entrevista à TV Globo, exibida hoje, uma das denunciantes —que preferiu não se identificar, com medo de represálias— disse que, entre um abraço e outro, o executivo e aliado do presidente Jair Bolsonaro (PL) tocava em seus seios e em outras partes íntimas.

“É tudo muito sensível e que gera muito medo. Funcionário, mulher, a gente se sente impotente. [Ele pedia] Abraços mais fortes. [Dizia] ‘me abraça direito’. E, nesses abraços, o braço escapava e tocava nos seios, nas partes íntimas atrás. Era dessa forma”, disse a funcionária, que entrou em depressão e pediu licença.

Outra funcionária relembrou à reportagem o dia em que Guimarães pediu que ela levasse um carregador até o quarto dele, no hotel em que se hospedavam durante viagem a negócios. O executivo abriu a porta apenas de cueca samba canção e a convidou para entrar. Segundo a servidora, Guimarães oferecia em troca “proteção” e “ascensão profissional”.

“Eu me senti muito invadida, muito desrespeitada como mulher e como alguém que estava ali para fazer um trabalho. Já tinha achado que não era apropriado me chamar para ir ao quarto dele tão tarde e ainda me receber daquela forma. Me senti humilhada. Ele dizia que quem estava com ele tinha a garantia de proteção, de ascensão profissional e que quem fosse leal seria recompensado por essa lealdade”, relatou a servidora, em entrevista à TV Globo.

Uma terceira funcionária disse que, já sabendo da “fama” do executivo, tentou manter distância, mas que ele sempre pedia uma “abraço maior”. “Eu tentei manter a distância. ‘Ah, me dá um abraço maior’. Aí eu fiquei muito sem graça, que eu já vi que ele… né? A gente já sabe da fama. Eu sabia da fama dele já. Então eu já me reservei o máximo possível. E aí ele: ‘não, mas abraça direito, abraça direito. Por que [não abraça direito]? Você não gosta de mim? Não sei o quê…’ E tudo. Aí, na hora em que ele… na terceira vez que ele fez ‘eu’ abraça ele, ele passou a mão na minha bunda”, disse a funcionária citando a ‘fama’ de Guimarães.

Pedro Guimarães é presidente da Caixa desde o início do atual governo. O chefe da estatal é presença frequente em eventos ao lado de Jair Bolsonaro, além de participar várias vezes da live semanal do mandatário.

Durante o dia de ontem, políticos foram às redes sociais para pedir a investigação de Guimarães pelos supostos assédios, divulgados inicialmente pelo site de notícias “Metrópoles”. O MPF (Ministério Público Federal) abriu investigação para o caso.

Nesta quarta (29), Guimarães rebateu as denúncias durante participação de um evento da Caixa que inicialmente havia sido cancelado, após as denúncias serem divulgadas. Ele compareceu à cerimônia acompanhado da mulher, Manuella Pinheiro Guimarães.

“Quero agradecer a presença de todos vocês, da minha esposa. São quase 20 anos juntos, dois filhos e uma vida inteira pautada pela ética. Tanto é verdade que, quando eu assumi o banco, ele tinha os piores ratings [classificações] das estatais. [Foram] dez anos de balanços com ressalvas. E hoje a gente é um exemplo. Então tenho orgulho do trabalho de todos vocês e da maneira como eu sempre me pautei em toda a minha vida”, disse Pedro Guimarães, em evento.

Entenda as denúncias

As denúncias, que incluem toques íntimos não autorizados, abordagens inadequadas e convites incompatíveis à relação de trabalho, começaram a surgir no fim do ano passado. Todas as mulheres que falaram ao site Metrópoles, sem que seus nomes fossem divulgados, trabalham ou trabalharam em equipes que atendem diretamente ao gabinete da presidência da Caixa.

As cinco entrevistadas disseram que se sentiram abusadas em diferentes ocasiões, e sempre em compromissos de trabalho. Os casos aconteceram, muitas vezes, em viagens relacionadas ao programa Caixa Mais Brasil.

Segundo relato, o presidente do banco escolhe, preferencialmente, “mulheres bonitas” para as comitivas nas viagens. De acordo com Ana*, uma das funcionárias que denunciaram o assédio, o comunicado de escolha é como um prêmio. Outra prática comum, segundo as funcionárias, é que mulheres que despertam a atenção de Guimarães durante as viagens sejam chamadas para atuar em Brasília, muitas vezes promovidas hierarquicamente sem preencher requisitos necessários. A prática deu, inclusive, origem a uma expressão usada para se referir a elas: “disco voador”.

Em contato com o UOL, o Ministério da Economia disse que não irá se manifestar sobre o caso. Em nota, a Caixa afirma que “não tem conhecimento das denúncias apresentadas pelo veículo e que adota medidas de eliminação de condutas relacionadas a qualquer tipo de assédio.”

Ainda no texto enviado ao UOL, a instituição diz que “o banco possui um sólido sistema de integridade, ancorado na observância dos diversos protocolos de prevenção, ao Código de Ética e ao de Conduta, que vedam a prática de ‘qualquer tipo de assédio, mediante conduta verbal ou física de humilhação, coação ou ameaça'”. O UOL também entrou em contato com Pedro Guimarães por e-mail e por telefone para comentar as denúncias.

“Conduta abominável”

Em nota enviada ao UOL, o Sindicato dos Bancários de São Paulo pediu investigação às denúncias de assédio sexual envolvendo o presidente da Caixa e funcionárias do banco. “É imprescindível que seja instaurada uma investigação e, se confirmadas as denúncias, que condutas abomináveis como essas não fiquem impunes.

A luta contra o assédio sexual e moral faz parte de uma política permanente do sindicato, com reivindicações que intensificam a luta, dentro dos bancos, contra o machismo e racismo institucional e assédio sexual e moral, com normas e condutas rígidas”, diz o comunicado.


Clique para comentar

Faça um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

20 − 3 =