Brasil
Sistema de pedágio confirma 6.661 registros de veículos na motociata com Bolsonaro em SP
Dado registrado no último sábado na rodovia dos Bandeirantes enfraquece narrativa bolsonarista que vem inflando número de participantes.
O sistema de monitoramento da rodovia dos Bandeirantes registrou 6.661 “passagens” de veículos na manhã do último sábado (12) no primeiro pedágio dentro do trecho bloqueado para a motociata liderada pelo presidente Jair Bolsonaro em São Paulo.
O total de 6.661 passagens de veículos, assim chamada tecnicamente, foi registrada entre 11h08 e 12h31 do sábado, no pedágio de Campo Limpo, localizado no km 39 da rodovia, logo no início do ato com o presidente, iniciada às 10h no bairro de Santana, na zona norte de São Paulo.
Apoiadores do presidente falaram em 1,3 milhão de motos no evento e que tal número havia entrado para o livro dos recordes, informação falsa logo desmentida pelo Guinness World Records.
Já o governo paulista estimou que o ato contou com a presença de 12 mil motos, isso com a ajuda de recursos de mapa e georreferenciamento, a partir de imagens registradas pelo helicóptero da Polícia Militar.
Os dados das praças de pedágio da AutoBAn, concessionária que administra a rodovia, são coletados pelo Sistema de Monitoramento de Informações de Pedágio (MIP) e foram concedidos pela Artesp (Agência de Transporte do Estado de São Paulo).
Tais registros são coletados pela Artesp para auditoria dos valores de pedágio mensurados pelas concessionárias.
A Artesp, no entanto, ressalta que, como as motocicletas não pagam pedágio na rodovia, o sistema não está programado para coletar informações sobre a passagem de motocicletas. Com isso, diz a agência, o valor real de veículos pode ser maior do que o registrado.
De acordo com Lincoln Seiji Otsuichi, especialista da Artesp em regulação de transporte, o sistema funciona com a detecção da massa metálica que passa por cima dos sensores e, com isso, motos que tenham passado pelo sensor lado a lado ou mesmo com uma distância menor do que 1,5 metro entre si podem ter sido contabilizadas como um único veículo.
Isso porque, segundo ele, no caso de várias motos passarem com pouca distância de uma para outra, o sensor pode considerar que se trata de um veículo maior com vários eixos, como um caminhão.
Seiji explica, no entanto, que, apesar de não ser possível determinar a margem de erro dos sensores no caso de motocicletas, é improvável que o valor real seja muito superior ao registrado.
Questionado, por exemplo, se os valores reais poderiam ser o dobro do registrado, o especialista afirmou que isso seria improvável.
Ao sair da marginal do Tietê em São Paulo, a motociata embocou na rodovia dos Bandeirantes onde seguiu no sentido norte até a região de Jundiaí, na altura do km 62.
Já no percurso de retorno, no sentido Sul, a motociata passou pelo pedágio de Caieiras, no km 36 da rodovia, onde foram registradas 6.216 passagens. Os registros contabilizados foram das 12h26 às 13h31.
A desinformação sobre o suposto recorde começou a circular nas redes através de postagens de apoiadores de Bolsonaro, entre eles da deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP).
Na manhã de sábado (12), durante a concentração para o ato, ela publicou um vídeo em seu canal no Youtube em que afirma que o ato seria “a maior motociata da história” e que o Guinness Book “estaria de olho” no evento.
O dado foi negado pela instituição. “Podemos confirmar que o desfile de motocicletas ocorrido em São Paulo, no dia 12 de junho, não foi uma tentativa oficial de título de recorde mundial do Guinness”.
A organização afirmou, em nota enviada à Folha, que não certifica recordes de natureza política e esclarece que não permitiu a utilização do nome ou de serviços da marca para o evento.
“Não aceitamos candidaturas a recordes que consideremos politicamente motivadas, e reservamo-nos o direito de rejeitar ou cancelar uma candidatura, caso a consideremos como promoção de uma agenda política”, diz a nota.
“Como este evento [a motociata] teve uma motivação política, não permitimos qualquer utilização do nosso nome, plataforma, ou serviços”.
A deputada federal Bia Kicis (PSL-DF) também ajudou a ventilar a notícia falsa, ao compartilhar um post no Twitter que afirmava que uma “pesquisa confiável”, realizada pela empresa, havia determinado a participação de 1.324.523 motocicletas durante o evento.
Mesmo após diferentes veículos terem divulgado posicionamento do Guinness Book desmentindo a informação, até esta quarta-feira (16), a postagem permanece no perfil da deputada, como retuíte, e sem nenhuma outra postagem fazendo algum tipo de ressalva.
O dado divulgado nas postagens supera também a frota total de motocicletas na cidade de São Paulo, de 1.217.655 unidades em 2020, segundo dados consolidados do Ministério da Infraestrutura.
As informações são da Folha.
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