Brasil
Sete andares de altura, peso de 20 carros e 27 vezes mais veloz que um Boeing: como é o foguete que o Brasil vai lançar
Operação Spaceward 2025 inaugura modelo de cooperação entre setor público e iniciativa privada no país; missão leva oito experimentos — sete brasileiros — para testes.
Com cerca de 21 metros de altura — o equivalente a um prédio de sete andares —, o HANBIT-Nano impressiona não apenas pelo porte, mas também pela capacidade. O foguete sul-coreano — que tem lançamento previsto para 17 de dezembro, a partir do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão — pesa aproximadamente 30 toneladas, o mesmo que 20 carros populares, e pode atingir velocidades próximas a 30 mil km/h, mais de 27 vezes a de um avião Boeing comercial. Projetado para missões orbitais leves, ele é capaz de levar pequenos satélites e experimentos científicos ao espaço, marcando um passo importante para o Brasil.

Quando deixar a base de Alcântara, o HANBIT-Nano, desenvolvido pela empresa privada sul-coreana Innospace, marcará a entrada do Brasil no mercado global de lançamentos espaciais comerciais — hoje dominado por EUA, Europa e China. Operada pela Força Aérea Brasileira (FAB) e braço militar do Programa Espacial Brasileiro (PEB), a base aeroespacial na Região Metropolitana de São Luís será palco da Operação Spaceward 2025, missão que vai inserir cargas úteis, como satélites, no espaço a partir do território brasileiro.
O lançamento envolverá a participação de 400 profissionais, dos quais 300 são militares. O HANBIT-Nano levará a bordo um total de oito dispositivos — sete brasileiros e um indiano — definidos como “experimentos”. Entre eles estão dois nanossatélites desenvolvidos pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que permitirão o estudo de um sistema de comunicação de baixo consumo energético utilizado na aplicação da Internet das Coisas (IoT, na sigla em inglês), rede integrada de objetos eletrônicos inteligentes.

O foguete também vai transportar um satélite educacional equipado com versões teste de tecnologias como placas solares e instrumentos de navegação, além de mensagens de alunos da rede pública local, especialmente crianças e jovens de comunidades quilombolas. O Pion BR2-Cientistas de Alcântara foi desenvolvido pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA) em parceria com a Agência Espacial Brasileira (AEB), o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e a startup PION.
Marco Antônio Chamon, presidente da AEB, que representa a parcela civil do Programa Espacial Brasileiro, destaca não só o pioneirismo da ação do país, mas também a importância estratégica do lançamento, que dará uma “carona” para instrumentos de pesquisa nacionais.
— Uma mudança de paradigma ocorre com a abertura das bases nacionais para empresas privadas, sejam elas brasileiras ou estrangeiras — avalia. — A Operação Spaceward 2025 não só irá dar visibilidade ao CLA no mercado de lançamentos privados, o que atrai investimento para a exploração espacial nacional, mas também servirá para lançar cargas úteis 100% brasileiras, isto é, satélites e sondas, ao espaço.
Chamon explica que, por enquanto, os experimentos que serão lançados na órbita brasileira ainda não pertencem à elite da tecnologia do ramo, mas que já representam um avanço da exploração nacional e proporcionam novos métodos de pesquisa, mesmo sendo considerados dispositivos de pequeno porte.
— Não estamos falando de satélites capazes de transmitir programas de televisão em cadeia nacional, mas sim da possibilidade de se transmitir um sinal para o espaço que será repetido e captado por uma estação em terra, geralmente na própria universidade — esclarece. — Estamos falando de cubos de até 10cm de altura, largura e profundidade e que pesam de um a três quilos.
Parceria Público-Privada
A dinâmica da Operação Spaceward em Alcântara envolve uma cooperação do setor público com a iniciativa privada. A base é militar e todos os seus sistemas, dos portões às antenas e painéis de controle, são operados por oficiais brasileiros da FAB. A empresa sul-coreana ficou responsável por trazer o foguete desmontado até o país com uma equipe de engenheiros para a montagem e seus próprios sistemas de verificação.
Já a AEB atua como entidade reguladora responsável pelo licenciamento, que é dado antes da empresa sequer firmar contrato para a decolagem, e pela fiscalização do foguete e da estrutura montada, realizada às vésperas da operação.
Amanhã, o HANBIT-Nano deverá levantar voo às 15h com uma leve inclinação na direção leste. O motivo da rota é facilitar a entrada em órbita, além de cumprir a norma internacional para lançamentos do tipo, que prevê o direcionamento da decolagem para o oceano com o fim de evitar a queda de fragmentos no solo.
Autonomia pós-acidente
A missão carrega simbolismo por ocorrer 20 anos após o acidente de 2003 que vitimou 21 técnicos e engenheiros civis em Alcântara. Na ocasião, o foguete brasileiro VLS-1 passava por ajustes finais para decolar quando uma ignição prematura de um dos motores resultou em um incêndio e na explosão da estrutura. O lançamento também simboliza a busca do Brasil por mais autonomia e independência no setor.
Nos últimos dois anos, o governo federal atualizou publicações que guiam a exploração espacial brasileira: o Programa Estratégico de Sistemas Espaciais (PESE), que regulamenta o desenvolvimento militar de tecnologia aeroespacial, e o Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE), que guia o planejamento da exploração civil do setor. Ambos contam com aumento de verbas para desenvolvimento de tecnologias próprias em relação às edições anteriores.
Chamon explica que, apesar de o Brasil estar defasado em relação ao desenvolvimento de tecnologias aeroespaciais próprias, eventos como o lançamento do HANBIT-Nano ajudam a fomentar a busca por soluções nacionais no futuro:
— A fabricação de foguetes ainda não dominamos completamente e não temos nossos próprios satélites de meteorologia, o que seria bom ter.
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