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Brasil

Pesquisa diz que Brasil levará 120 anos para ter equilíbrio entre homem e mulher na política

O cálculo foi feito pela pesquisadora gênero e política e professora da UFRJ, Hannah Marucci, doutoranda em ciência política pela USP.

Mulheres encontram dificuldades para entrar na política, diz pesquisa. (Foto:Reprodução)

“A igualdade entre os sexos é o único caminho para a evolução da pátria”. Era 1888 quando a pernambucana Josephina Álvares de Azevedo escreveu essa frase em seu jornal, “A Família”. Ela foi uma das primeiras sufragistas do Brasil —movimento feminino pelo direito ao voto— e morreu sem ver a conquista dos direitos pelos quais lutou. Apenas em 1932 as mulheres foram autorizadas a participar da vida política do Brasil.

Desprezando o período da ditadura militar (entre 1964 e 1985), há pouco mais de 30 anos de direitos igualitários para homens e mulheres nas eleições brasileiras. Atualmente, a taxa de representação feminina no Congresso brasileiro é de apenas 15% dos parlamentares, sendo que as mulheres constituem 52,8% do eleitorado brasileiro. Uma estimativa levando em consideração esse percentual, feita a partir de cálculo proporcional, leva à assustadora conclusão de que, para chegar à paridade de gênero na Câmara dos Deputados e no Senado, o Brasil levará mais 120 anos. Seriam 254 anos após Josephina escrever sobre o tema em seu jornal.

“Essa conta não é precisa. É uma estimativa que considera a manutenção das regras eleitorais e das condições sociais e políticas do país. Mas, nas atuais condições, a paridade dificilmente seria alcançada em menos tempo do que isso”, afirma Hannah Maruci, professora da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), doutoranda em ciência política pela USP (Universidade de São Paulo), pesquisadora de gênero e política —e autora do cálculo, feito a pedido de Universa.

No relatório “Mulheres no Parlamento”, publicado em 2021 pela ONU Mulheres em parceria com a UIP (União Interparlamentar), o Brasil ocupa a 142ª posição em representatividade feminina —num total de 192 países. Levando em consideração apenas a América Latina, só o Haiti —sem nenhuma mulher no Legislativo— está pior do que o Brasil no ranking.

Dos primeiros lugares no ranking entre as nações latinoamericanas, vêm as lições de que a paridade não é uma utopia, mas um objetivo que pode ser atingido a partir do esforço coletivo. O México, por exemplo, já atingiu 49% da representação feminina segundo o IPP (Índice de Paridade Política), divulgado em 2020. A Bolívia, nas últimas eleições, em 2020, atingiu a marca de 56% de mulheres no Senado — na chamada Câmara Baixa do Parlamento, elas representam 48%.

As barreiras sociais não foram eliminadas quando instituímos o direito de votar e se eleger às mulheres. O racismo, o machismo, a violência política de gênero e raça, o subfinanciamento de campanhas de mulheres, sobretudo negras, tudo isso contribui para a manutenção e o aprofundamento das desigualdades- explica Maruci. As estatísticas do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) com relação aos partidos políticos mostram uma desigualdade menor: cerca de 45% do total de 16 milhões de pessoas registradas em agremiações são mulheres. No entanto, essa considerável participação feminina na vida partidária não se reflete no número de dirigentes.

“Das 33 siglas registradas atualmente, apenas seis são presididas por mulheres. “Os partidos até estão se movimentando, mas eles são muito patriarcais. Nada que uma legislação faça vai ser suficiente para convencer uma história partidária de 20, 50 anos excluindo mulheres dos quadros”, afirma Christine Peter, secretária-geral do TSE e uma das autoras do livro “Constitucionalismo Feminista” (ed. Juspodivm).

A advogada e doutoranda em ciência política na UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) Fernanda Cordeiro, também pesquisadora do tema, conheceu de perto esse problema. Trabalhei dentro de partidos, tanto de esquerda quanto de direita, e o que percebo é que não há um incentivo concreto para que mulheres sejam eleitas. Elas são procuradas de última hora, para cumprir a cota, não têm capacitação. O que temos ainda são muitas mulheres que pavimentam o caminho dos homens e fortalecem candidaturas masculinas.

 

Para ver a pesquisa completa, acesse UOL.

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