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Brasil

Pesquisa da UFMG mostra como falta de leitos de UTI acelerou mortes por covid no Brasil

Em abril, pacientes que procuraram atendimento no Estado do Amazonas, um dos mais afetados pela covid-19, relataram falta de leitos de UTI e equipamentos.

A falta de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) nos hospitais brasileiros voltados para a covid, como ocorreu no Amazonas, contribuiu em 58% para a taxa de mortalidade pela doença no país. O dado vem de um estudo com uso de inteligência artificial por pesquisadores
da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pela startup brasileira Kunumi.

Em abril, pacientes que procuraram atendimento no Estado do Amazonas, um dos mais afetados pela covid-19, relataram falta de leitos de UTI e equipamentos. Na époica, os casos confirmados da doença no Estado aumentaram 192% e os registros de óbitos subiram 360%.

Quando o novo coronavírus se espalhou por Manaus, ainda em março, o sistema de saúde colapsou com a quantidade de pacientes. Faltavam UTI para atender todos os infectados. No dia 19 de maio, pela primeira vez, os números de infectados pelo coronavírus no interior do Amazonas ultrapassaram a capital.

Em abril, uma imagem que circulou em redes sociais mostra um paciente inconsciente em uma unidade de Pronto Atendimento, em Manaus. O homem estava com dificuldade para respirar e os médicos tiveram que improvisar um “equipamento”: um saco plástico que funcionou como uma câmara de ar para o rapaz. 

O estudo da UFMG, que pode ser visto no site covid-19.kunumi.com, usou mais de 200 variáveis para medir o impacto da doença no Brasil e em mais 25 países. As fontes incluem número de mortes pelo coronavírus, dados de viagens, indicadores de infraestrutura de saúde, políticas públicas e dados demográficos gerais, como PIB (Produto Interno Bruto) e distribuição etária.

Cada variável influencia de maneira diferente na taxa de mortalidade de um país, calculada pela número diário de óbitos por covid a cada 100 mil habitantes. Para a análise, foram consideradas os dados do “pico de mortes” —dia em que ocorreu maior número de falecimentos pela doença. A data é variável, já que o coronavírus se proliferou pelo mundo em velocidades e períodos diferentes.

O índice de 58% de influência da falta de leitos na taxa de mortalidade da doença no Brasil é o mesmo verificado no Equador e na Itália, e superior ao encontrado na Espanha (52%). Os dois últimos países foram bastante afetados pela pandemia e chegaram a decretar lockdown para contê-la. Já no Equador, corpos de vítimas chegaram a ser deixados na rua.

Na pesquisa, o Brasil só ficou atrás de outros três na questão da falta de leitos: Reino Unido (62%), México e Nigéria (ambos com 71%).

Para o professor da UFMG Adriano Veloso, um dos responsáveis pela pesquisa, o dado não surpreendeu. “Já era algo esperado inicialmente”, destaca.

A epidemiologista e professora da Escola de Medicina da PUC-RS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul), Ina da Silva dos Santos, acredita que a alta relação entre a falta de leitos de UTI e os óbitos vem do descumprimento de medidas no combate à doença, como distanciamento social, uso de máscaras e demora para fechamento de escolas e universidades.

“Se isso não for feito de modo rigoroso, é claro que vai aparecer na ponta, nos hospitais”, observa Ina, que não participou da pesquisa, mas foi convidada por Tilt a analisar a plataforma.

A situação também se deveu, segundo Iná, à ausência de ação articulada e sincronizada dos governos municipais, estaduais e federal no Brasil. Alguns estados, como Rio de Janeiro, Minas Gerais e outros fizeram hospitais de campanha. Mas foi uma ação heterogênea.

Por outro lado, o estudo mostrou que a disponibilidade de leitos acabou freando a taxa de mortalidade por covid em outros lugares do mundo. Foi que aconteceu na Alemanha (85%), Nova Zelândia (76%), Austrália (84%), Japão (88%), Egito (15%) —o percentual de cada país corresponde à contribuição positiva deste indicador para o índice geral.

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