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Brasil

Indígenas da Amazônia carregam mutação que protege contra Chagas, apontam cientistas

Após analisar 600 mil marcadores do genoma de indígenas da Amazônia, estudo da USP descobriu que eles têm maior proteção natural contra a doença de Chagas

Indígenas isolados em terras no sul do Amazonas. (Foto: Reprodução)

Cientistas da Universidade de São Paulo (USP) descobriram que os povos indígenas que vivem na Amazônia carregam uma mutação que aumenta os seus níveis de proteção contra a doença de Chagas, transmitido pelo barbeiro (triatomíneos). Com a variante no gene PPP3CA, os risco de contraírem formas graves da doença é menor que o de outras populações.

A mutação que confere maior resistência ao parasita Trypanosoma cruzi surgiu há aproximadamente 7,5 mil anos, quando os indígenas da Amazônia se separaram dos povos dos Andes, segundo modelagem matemática. A descoberta justificaria o fato da doença não ser endêmica para os grupos da floresta Amazônia e ser para aqueles que vivem no sul do Peru e norte do Chile.
Por que os indígenas da Amazônia têm maior proteção contra a Chagas?

Publicado na revista Science Advances, o estudo da USP analisou 600 mil marcadores do genoma de 118 pessoas, vindas de 19 povos indígenas — inclusive habitantes da Amazônia brasileira. Segundo os autores, uma das variantes do gene PPP3CA que protege contra a Chagas estava presente em 80% dos indivíduos analisados.

“Ao analisarmos as regiões endêmicas da doença na América do Sul, a área das populações analisadas [na Amazônia] é justamente onde a doença menos ocorre. Isso poderia se dar por uma baixa frequência do barbeiro, mas não é o caso, pois é onde ele tem a maior diversidade [e os casos são menos frequentes]”, explica Tábita Hünemeier, professora do Instituto de Biociências (IB-USP), em comunicado.

Variante genética pode ser encontrada em outras populações

Além dos povos da Amazônia, a variante também está presente em outras populações. No entanto, a frequência é significativamente menor. Por exemplo, é encontrado em 10% dos europeus e em 59% dos africanos. Inclusive, os autores do estudo defendem que a porcentagem é mais alta na África, porque, lá, existe um parasita semelhante, o Trypanosoma brucei, causador da doença do sono. Em ambos os casos, a seleção natural favoreceu indivíduos com essa habilidade.

Benefícios da mutação genética que protege contra a doença de Chagas

“Esse fator provavelmente levou os ancestrais dos indígenas amazônicos que tinham a variante protetora a serem menos infectados e sobreviverem mais à doença, passando esse traço para seus descendentes”, afirma a pesquisadora Kelly Nunes sobre o impacto da mutação em suas vidas.

No entanto, isso não é o mesmo que ser 100% imune contra a doença. “Não quer dizer que os povos nativos amazônicos nunca tenham Chagas, mas os que são infectados poderiam não desenvolver com tanta frequência essa fase crônica e até mortal”, reforça Nunes sobre as conclusões da descoberta.

 

As informações são do Terra.


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