Brasil
Governo federal vai usar R$ 150 mi do Fundo Amazônia para combater queimadas no cerrado e pantanal
Decisão inédita de usar recursos para apoiar brigadas em estados fora do bioma amazônico pretende impedir repetição de recorde de áreas incendiadas em 2024.

Pela primeira vez, os recursos do Fundo Amazônia serão usados para auxiliar ações de combate a incêndios em outros dois biomas, o cerrado e o pantanal. O plano, articulado pelos ministérios do Meio Ambiente e da Justiça do governo Lula (PT) prevê o repasse de R$ 150 milhões do fundo para utilização em cinco estados: Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Goiás, Bahia, Piauí, além do Distrito Federal.
Conforme informações publicadas pelo jornal Folha de São Paulo, o pedido de financiamento do chamado “Projeto Manejo Integrado do Fogo” foi enviado pelo Ministério da Justiça ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) há cerca de duas semanas.
O plano está em análise pelo banco de fomento, responsável pela gestão do fundo, apoiado por um comitê gestor. Ainda não há uma data para a aprovação.
Desde 2008, quando o Fundo Amazônia foi criado, seus recursos, majoritariamente de origem estrangeira, nunca foram usados em ações de combate a queimadas fora dos nove estados que compõem a região da Amazônia Legal. O tema, porém, tornou-se preocupação central do governo, após o estrago recorde causado pelo fogo no ano passado.
Em 2024, as queimadas atingiram uma área total de 592,6 mil km² em todo o país, o pior resultado da série histórica medida pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), iniciada em 2003.
O cerrado respondeu sozinho por 242 mil km². No pantanal, a área queimada cresceu mais de duas vezes em relação a 2023, chegando a 27 mil km² no ano passado.
A preocupação do governo é adotar medidas que impeçam o avanço desses números na temporada do fogo deste ano, principalmente devido à exposição mundial que o Brasil terá na área ambiental, ao receber a 30ª conferência das Nações Unidas sobre mudança do clima, a COP30, que acontece em novembro em Belém.
Os dados parciais registrados de janeiro a maio são preocupantes. Um total de 30,8 mil km² foram queimados neste ano, volume próximo dos 36 mil km² registrados no mesmo período de 2024. O que já faz desse período o segundo pior já contabilizado pelo Inpe nos últimos 22 anos.
Confirmado o repasse, os recursos do Fundo Amazônia serão usados para bancar gastos com aquisição de equipamentos, insumos e veículos, por exemplo, em apoio às operações de brigadistas. Não é autorizado o pagamento de mão de obra.
Em seu pedido ao BNDES, a pasta comandada por Ricardo Lewandowski afirma que os estados incluídos no plano concentraram cerca de 17% dos focos de calor registrados no país em 2024, com destaque para Mato Grosso do Sul (13 mil focos), Minas Gerais (11,7 mil) e Piauí (10,5 mil).
Só no Distrito Federal, de janeiro a setembro de 2024, a área queimada aumentou 319% em comparação com o mesmo período de 2023.
O prazo para aplicação dos recursos é de 24 meses, não apenas para este ano. Em outros programas ambientais que já apoiou, o Fundo Amazônia chegou a financiar ações fora do bioma amazônico, mas sem relação com combate a queimadas. O apoio ao Cadastro Ambiental Rural, por exemplo, é um desses casos.
Ao jornal Folha de São Paulo, a pasta do Meio Ambiente, chefiada por Marina Silva, afirmou que o novo projeto prevê a compra de equipamentos para reforçar as estruturas da Força Nacional de Segurança Pública e dos Corpos de Bombeiros Militares e brigadas voluntárias ou comunitárias nos estados envolvidos. Os repasses para os estados da Amazônia Legal já estão garantidos.
“Desde 2023, quando teve sua governança retomada, o Fundo Amazônia aprovou a destinação de R$ 405 milhões para apoiar os Corpos de Bombeiros dos nove estados da Amazônia Legal no combate a incêndios florestais”, diz a nota.
O ministério explica que, do valor total, já foram contratados R$ 370 milhões. O montante financiado para Roraima, Amapá, Pará, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso e Tocantins é de cerca de R$ 45 milhões para cada um em recursos não reembolsáveis. Acre e de Rondônia tiveram operações contratadas nos valores de aproximadamente R$ 21 milhões e R$ 34 milhões, respectivamente, ainda de acordo com a pasta.
Em nota, o Ministério da Justiça afirmou que, “considerando o cenário dos últimos anos, é imprescindível a ampliação da capacidade de enfrentamento aos focos de incêndio com equipamentos de ponta e ações coordenadas, integradas e conjuntas”.
Segundo a pasta, está prevista a aquisição e distribuição de mais de 2.000 equipamentos, incluindo bombas costais, sopradores, equipamentos de proteção e GPS, destinados a brigadas e bombeiros militares.
A diretora socioambiental do BNDES, Tereza Campello, disse que a iniciativa de apoiar medidas de combate a incêndio se deve, em boa parte, à dimensão que esse problema tomou.
“Hoje, o fogo, diferente do que ocorria em outros momentos da história, é uma ação criminosa e um mecanismo que substitui o desmatamento tradicional. Antes, alguém pegava dois tratores com um correntão e destruía a floresta. Agora, o fogo está sendo o vetor desse desmatamento e isso não era a tradição”, diz.
“Por isso, resolvemos usar o Fundo Amazônia nestas ações, até porque que existe, inclusive, previsão legal para usar os recursos do fundo para ações de comando e controle fora da Amazônia”, completa.
O Fundo Amazônia soma R$ 4,112 bilhões, com 129 projetos apoiados pelo programa. Desse valor total, R$ 1,924 bilhão já foi desembolsado.
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