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Brasil

Folha: Desmatamento na Amazônia e mudança climática agravam crise hídrica, dizem especialistas

Escassez de chuvas afeta hidrelétricas, ameaça setor elétrico e encarece energia

As florestas degradadas na Amazônia Legal somaram 99 km² em abril, o que representa um aumento de 60% em relação ao mesmo mês no ano passado. (Foto:Reprodução/Ariquemes Online)

O fenômeno natural La Niña ajuda a entender, mas não explica toda a crise hídrica que ameaça o setor elétrico no país, indicam especialistas. Segundo eles, a escassez de chuvas também pode ser associada a questões como a mudança climática provocada pelo aquecimento global e até o desmatamento na Amazônia. As informações são da Folha.

Durante o verão, não choveu o suficiente para encher reservatórios de importantes usinas hidrelétricas no Sudeste e no Centro-Oeste do país. A situação exige o acionamento de térmicas, que custam mais caro e elevam o preço da energia para os brasileiros.

O La Niña é visto como um dos motivos da crise porque afeta a distribuição de chuvas. No país, esse fenômeno costuma provocar estiagem no Centro-Sul, justamente onde estão os principais reservatórios para geração de energia.

“O fenômeno é causado pelo resfriamento das águas superficiais do Pacífico Equatorial, na região da costa do Peru. Quando as águas estão mais frias do que o normal, geram uma alteração na circulação de ventos e umidade. Na região Centro-Sul do Brasil, a tendência é de estiagem”, sinaliza Renata Libonati, professora do Departamento de Meteorologia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
Renata também vê, na crise hídrica, reflexos do desmatamento da Amazônia. É que a região, lembra a professora, exerce papel importante em fluxos de umidade que levam chuvas para Centro-Oeste e Sudeste. Esses processos ocorrem por meio dos chamados rios voadores da Amazônia.

“A floresta funciona como uma bomba que suga a umidade do oceano Atlântico. Essa umidade entra na Amazônia, causando chuva. A floresta acaba gerando mais umidade, que é carregada por ventos até a Cordilheira dos Andes. A umidade bate na cordilheira, faz uma espécie de curva e volta para o Centro-Sul. Estudos demonstram que o grande desmatamento altera essa fonte de umidade”, diz.

De janeiro a maio, os avisos de desmatamento na Amazônia Legal alcançaram área de 2.540 km², alta de 24,7% em relação a igual período do ano passado. Os dados aparecem no sistema de monitoramento Deter, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

Levantamento do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia) também indica piora no quadro. Conforme o instituto, uma área de floresta quase do tamanho do município do Rio de Janeiro foi desmatada apenas em maio. O Imazon detectou 1.125 km² de desmatamento no período, maior saldo da série histórica para o mês nos últimos dez anos.

Paulo Artaxo, estudioso da Amazônia há 37 anos e doutor em física atmosférica pela USP (Universidade de São Paulo), avalia que as perdas registradas na floresta podem ter impacto na seca deste ano, assim como o La Niña. Outro possível fator para a escassez de chuvas é o aquecimento global, lembra o pesquisador.

“Todos os modelos climáticos preveem redução nas precipitações com o aumento da temperatura no Brasil central. O aumento da temperatura altera a circulação atmosférica. Isso, por sua vez, altera as trajetórias de massas de ar que poderiam trazer vapor de água”, diz o pesquisador.

“Com a elevação da temperatura, há aumento da incidência de eventos extremos, como grandes cheias e grandes secas”, acrescenta.

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