Brasil
Cresce o número de vítimas do golpe da falsa renegociação de dívidas
De acordo com a pesquisa da Serasa, o Brasil registrou este ano 11 milhões de tentativas de fraudes.

O Brasil tem atualmente mais de 71 milhões de consumidores com o nome negativado nos serviços de proteção ao crédito. O dado confirmado pela Serasa e pelo Clube Nacional dos Diretores Lojistas (CNDL) faz com que empresas, instituições financeiras, operadoras de telefonia e concessionárias de serviços públicos promovam regularmente campanhas para quitação dos débitos. Contudo, o que favorece o cidadão também representa uma oportunidade para quadrilhas especializadas em aplicar o golpe da falsa renegociação de dívidas.
De acordo com uma pesquisa da Serasa, este ano o Brasil registrou mais de 11 milhões de tentativas de fraudes — crescimento de 9,4% em relação a 2024. Especialistas alertam que os ataques estão cada vez mais sofisticados. Os criminosos criam sites falsos de empresas, reproduzindo o layout das páginas verdadeiras; montam falsas centrais de atendimento 0800; e usam dados pessoais vendidos na deep web para dar veracidade aos contatos com as vítimas.
O presidente do Instituto Gestão de Excelência Operacional em Cobrança (Igeoc), Rodrigo Mandaliti, destaca que as quadrilhas não apenas simulam o contato das empresas, mas criam um cenário capaz de convencer até mesmo quem está atento aos golpes mais comuns. Diante de um quadro tão grave, as companhias buscam proteger seus sistemas de cobrança e o bolso de quem quer quitar seus débitos.
“As empresas estão investindo cada vez mais em segurança, em autenticação e em canais certificados. A fraude digital não lesa somente o consumidor, ela compromete a estrutura da economia no Brasil”, explica.
A sofisticação dos golpes estabeleceu um ambiente de insegurança no sistema de recuperação de crédito. Para minimizar os riscos, a Serasa sugere alguns cuidados básicos na hora de renegociar dívidas:
– Se o contato ocorrer pela internet, verificar se o site indicado é o oficial da empresa ou da instituição financeira;
– Jamais fornecer dados pessoas em ligações recebidas de centrais 0800 ou de telefones celulares;
– Ao receber um boleto bancário para pagamento da dívida, conferir os dados do beneficiário;
– Priorizar as negociações por canais homologados das instituições financeiras ou empresas;
– Desconfiar de ofertas vantajosas demais, com descontos muito acima dos normalmente oferecidos nas campanhas de quitação de dívidas.
Pressão para pagamento
Mandaliti diz que um dos artifícios usados pelos criminosos é pressionar a pessoa para que faça o pagamento rapidamente, inclusive recorrendo a ameaças de medidas como bloqueio de contas bancárias ou ações judiciais de execução rápida.
A balconista J.R.R. — que prefere não se identificar — foi vítima dessa pressão. Negociou o pagamento da dívida com um criminoso que se passava por representante da administradora de cartão de crédito.
“Não paguei o cartão de crédito e fiquei com o nome sujo. Um dia, recebi uma ligação me cobrando. O cara tinha todos os meus dados, até o meu endereço, e o valor da dívida. Falou que, se eu não pagasse, a minha conta bancária seria bloqueada. Na hora, bateu o desespero e aceitei parcelar a dívida em 12 vezes, sendo a primeira no Pix. Paguei R$ 99,66 no ato da negociação. Ele disse que em cinco dias úteis o meu nome sairia do Serasa”, conta.
Mais tarde, o marido da balconista a alertou para o risco de golpe. Ela esperou o prazo e constatou que o nome dela ainda tinha restrição nos serviços de proteção ao crédito. A entrar em contato com a administradora do cartão de crédito, soube que não havia nenhum acordo de parcelamento em vigor. Ao tentar ligar para o número do golpista, o número estava sem receber chamadas.
“Eu me senti uma otária. Perdi dinheiro e continuo com o nome sujo. Mas, na hora da pressão, a gente fica meio sem ação e termina caindo no golpe. Registrei um boletim de ocorrência na delegacia, mas não consegui reaver os R$ 99,66. Aprendi a lição”, lamenta.
Mais sorte teve o aposentado João Carlos das Neves, de 64 anos. Ele recebeu um e-mail com a oferta de renegociação de uma dívida em atraso. O layout da mensagem era idêntico ao de outras já enviadas pelo banco. Havia um link para quem desejasse fechar um acordo — muito vantajoso. Ao clicar, foi direcionado para um site idêntico ao da instituição financeira, no qual havia um formulário para ser preenchido. Depois disso, seria enviado o boleto para o e-mail dele.
“Preenchi tudo direitinho. Em menos de 10 minutos, recebi o boleto da quitação da dívida, com desconto de 95%. Minha filha viu, achou estranho e foi conferir o boleto. Era de uma associação; não tinha nada que dissesse que era o pagamento de uma dívida. Liguei para o banco para checar e me informaram que era golpe”, diz Neves.
No caso do aposentado, os golpistas usaram o artifício do desconto para atraí-lo. A vantagem de uma grande redução do valor a pagar faz com que a vítima se apresse em fechar o acordo.
“Admito que foi o desconto de 95% que me chamou a atenção. Quis fazer o acordo logo para me livrar de uma dívida que me tira o sono. Nessas horas, a pressa joga contra a gente.”
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