Brasil
Cinemateca: cópias de filmes e documentos históricos estavam em galpão que pegou fogo
Segundo especialistas, acervo tem filmes do Cinejornal, as primeiras câmeras que chegaram no Brasil no início do século XX, cópias de filmes do cinema mudo e registros da participação da FEB na Segunda Guerra.
Ainda não se sabe ao certo o que foi perdido no incêndio que atingiu um galpão da Cinemateca Brasileira, na Zona Oeste de São Paulo, no fim da tarde desta quinta-feira, 29/7. Mas o cineasta Roberto Gervitz, coordenador do grupo SOS Cinemateca, adiantou o que estaria no acervo deste edifício anexo.
“Pode ter se perdido quatro toneladas da documentação da história do cinema brasileiro, do Instituto Nacional do Cinema, da década de 1960. Quatro toneladas da história do nosso cinema”, lamentou Gervitz. “Há cópias de filmes que já estavam num estado pior de conservação, entre elas cópias do Canal 100, com filmes de futebol”.
Estima-se ainda que o galpão reunia 2 mil cópias de filmes, entre eles registros em 35 mm e 16 mm, produzidos com material altamente inflamável. Não seriam, porém, os originais, e sim cópias usadas para exibições.
O preservador Tiago Castro, que entrou na Cinemateca em 2016 e integrava a equipe que foi demitida no ano passado, avalia que boa parte do material incendiado pode pertencer à documentação da antiga Embrafilme. Os documentos correlatos aos filmes, como são chamados pela preservação, ficavam na Vila Leopoldina enqunato não eram inventariados.
Além de cópias de filmes, Castro acredita que o acervo de Cinejornal que eram mantidos no local eram únicos. O espaço também mantinha equipamentos, como câmeras, tripés e moviolas (mesas para edição de filmes). Os técnicos demitidos estão preparando um documento oficial com todo o acervo que estava no local.
— Há um ano não tem corpo técnico, só seguranças, bombeiros e equipe de limpeza, o básico para abrir as portas. Sem equipe de preservação, não é possível nem avaliar o risco que o acrvo está correndo — alerta Castro.
Também na GloboNews, Francisco Campera, diretor da Roquette Pinto (ex-administradora da Cinemateca), citou outra parte do material que estaria no galpão: “As primeiras câmeras que chegaram no Brasil no início do século XX, cópias de filmes do cinema mudo, registros da participação da Força Expedicionário Brasileira (FEB) na Segunda Guerra, arquivos da TV Tupi, de expedições do Marechal Rondon. E não só filmes do governo federal, mas também da prefeitura de São Paulo, filmes particulares de herdeiros, documentos, roteiros, cartazes… Até equipamentos de um século atrás”.
Tragédia anunciada
A Cinemateca já havia sido atingida por um incêndio em 2016, mas em outro endereço. Em 3 de fevereiro, o fogo destruiu 270 títulos e outras 461 obras que tinham cópia de segurança no prédio principal da instituição, na Vila Clementino, Zona Sul da capital paulista.
Maior centro audivisual da América do Sul, a Cinemateca é responsável pela preservação de 40 mil títulos que contam a história do audiovisual do Brasil desde 1897. São filmes de curta, média e longa-metragens, além de programas de TV e registros de jogos de futebol.
A Cinemateca está fechada desde agosto do ano passado, quando expirou um contrato entre o governo federal e a organização social que administrava o local.
Uma ação civil pública movida pelo Ministério Público Federal de São Paulo (MPF-SP) no mês seguinte estimava em 250 mil o tamanho do acervo de rolos de filmes no edifício da Vila Clementino.
A situação da instituição preocupava ainda mais, desde o ano passado, pelo imbróglio na administração da Cinemateca, que, após muita disputa, passou ao governo federal.
Diretor de “Feliz ano velho” (1987) e um dos organizadores do movimento SOS Cinemateca, Roberto Gervitz fez, no ano passado, um manifesto endossado por mais de 70 associações, entre elas os festivais de Berlim e Cannes. Na época, ele avisou da gravidade da situação.
— Estamos correndo o risco de viver um novo Museu Nacional. É uma tragédia anunciada — alertou Gervitz na época, em referência ao incêndio na instituição no Rio que transformou em cinza 20 milhões de itens de seu acervo em setembro de 2018.
A situação da Cinemateca não preocupava apenas os brasileiros. No Festival de Veneza do ano passado, o diretor do Festival de Cannes, o francês Thierry Frémaux, lamentou a situação da instituição:
— Quero expressar meu apoio à Cinemateca Brasileira, ameaçada pelo atual governo — disse ele em entrevista coletiva com os diretores dos sete maiores festivais de cinema da Europa.
O secretário especial da Cultura, Mario Frias, que está em Roma acompanhando o ministro do Turismo, Gilson Machado, na primeira cúpula dos ministros da Cultura do G-20, não se pronunciou em suas redes sobre o incêndio. Além de Frias e Machado, integram a comitiva outros servidores do ministério, como o secretário Nacional de Fomento e Incentivo à Cultura, André Porciúncula, a chefe da Assessoria Especial de Relações Internacionais do Ministério do Turismo, Débora Gonçalves.
As informações são de O Globo.
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