Amazonas
UOL: Covid facilita ataque de “piratas” a comunidades ribeirinhas da Amazônia
Os chamados “ratos do rio” (grupos de “piratas” da própria região) têm como alvos principalmente agricultores e pescadores.
A covid-19, que já matou mais de 10,4 mil pessoas no Amazonas, está facilitando o ataque de “piratas” aos moradores das comunidades ribeirinhas do rio Solimões, segundo o Ministério Público, a polícia e moradores ouvidos pela coluna. As informações são do UOL.
São os chamados “ratos do rio” (grupos de “piratas” da própria região), que têm como alvos principalmente agricultores e pescadores que se deslocam em pequenas embarcações pelo rio Solimões até Coari (AM), município a 360 km de Manaus, e outras cidades para vender seus produtos.
Maior produtor de petróleo do Amazonas, o que garante uma receita mensal de cerca de R$ 20 milhões por mês em royalties, Coari ganhou destaque na imprensa no mês passado por ter registrado, no dia 19, a morte de oito pessoas por covid-19 devido à falta de oxigênio.
“Devido ao isolamento social, os ribeirinhos passaram a andar cada vez mais sozinhos em sua rabetas e são covardemente atacados e até torturados por esses ‘ratos do rio'”, afirmou ao UOL o empresário Marco Antônio Maciel, 51 anos, que disse ter deparado com um grupo de “piratas” no feriado de Carnaval perto de Coari.
Segundo Maciel, os “piratas” estavam acampados na margem direita do rio Solimões. “Por sorte, estavam dormindo e não nos viram. Caso contrário, eu não estaria aqui para contar essa história.”
A mesma sorte não teve o pescador Manoel dos Santos, de 26 anos. No fim do ano passado, quando retornava de Coari com seu barco, ele foi atacado por um grupo de “ratos do rio”.
“Levaram todo meu dinheiro, barco e motor. Me espancaram na cabeça e me jogaram no rio. Sobrevivi por um milagre”, disse o pescador.
O promotor de Justiça Wesley Machado, que foi obrigado a abandonar a comarca de Coari depois de ter sido ameaçado de morte por um grupo de “piratas”, disse que o pouco tráfego de barcos na região devido à pandemia deixa os grupos de criminosos “sem vigilância”, se sentindo mais livres para saquear as comunidades.
Machado explicou que a “pirataria” nos Solimões é praticada por dois tipos distintos de quadrilha: os “ratos do rio”, que “como o próprio nome diz, vivem das sobras” (como armas artesanais e pequenas quantidades de dinheiro saqueadas dos ribeirinhos), e os grandes “piratas”.
Armados com fuzis, escopetas e metralhadoras, essas organizações criminosas, ao contrário dos “ratos do rio”, atacam principalmente grandes embarcações carregadas de drogas trazidas da Colômbia e de petróleo extraído pela Petrobras na região.
O promotor disse ainda que os municípios às margens do rio Solimões atraem os “piratas” por estarem na rota do tráfico de drogas que liga o município de Tabatinga (AM), na divisa com a Colômbia e o Peru, a Manaus.
Segundo ele, a miséria que toma conta da região e que se agravou com a pandemia está levando algumas comunidades ribeirinhas a trabalhar para os “piratas” em troca de combustível e comida. “Os ‘piratas’ escondem suas drogas e armas nas terras de algumas comunidades ribeirinhas, que ainda lhes fornecem informações sobre os passos da polícia e dos grupos de ‘piratas’ concorrentes”, disse o promotor.
Base
A atuação das quadrilhas organizadas de “piratas” levou o governo do Amazonas a montar, no ano passado, a Base Fluvial do Arpão a fim de tentar conter os saques a embarcações e o tráfico internacional de drogas.
Formada por policiais militares, civis e federais, a base está instalada em um barco ancorado às margens do rio Solimões em Coari. Apesar de contar com um “efetivo reduzido”, a base tem obtido sucesso, segundo o MP, em operações para conter os grupos criminosos.
No sábado do último Carnaval, por exemplo, os policiais conseguiriam prender Roney Queiroz de Jesus, 37 anos, conhecido como “Xupa”, suspeito de liderar um grupo de “piratas” que praticava roubo nos rios e atuava no tráfico de drogas.
O irmão de Roney, Ronaldo Queiroz, e outros líderes de “piratas” da região, no entanto, continuam foragidos. Os irmãos Queiroz já haviam sido presos pela polícia em 2019, mas foram postos em liberdade por decisão da Justiça.
Segundo a assessoria de imprensa do governo do Amazonas, a base fluvial tem ajudado também a conter crimes ambientais. Até setembro, haviam sido apreendidos mais de oito toneladas de animais silvestres, alguns considerados sob risco de extinção, e de pescados como o pirarucu, cuja pesca só é permitida com autorização de órgãos ambientais.
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