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Amazonas

Terceira onda da Covid-19 no Amazonas preocupa cientista; governo disse que ‘culpa’ será da população  

Não isolamento social, vacinação lenta, flexibilização nas restrições, são ações que podem culminar na terceira onda da doença, diz pesquisador Lucas Ferrante

Desespero das famílias marcou a falta de oxigênio em Manaus. (Imagem: Edmar Barros/Estadão Conteúdo)

A frase “terceira onda” tem se reverberado com apreensão nos últimos dias em Manaus. Na semana passada, o próprio governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), que flexibilizou as medidas de restrição da pandemia, chegou a afirmar a empresários locais que “então, nós vamos ter, sim, uma ‘terceira onda’”.  Na terça-feira (16/04), o presidente da Fundação de Vigilância em Saúde (FVS-AM), Cristiano Fernandes, indagado sobre a possível “terceira onda”, respondeu que o comportamento da população vai ser preponderante para que haja ou não uma nova fase acentuada de contaminação no estado.

“Parece que as pessoas têm memória curta, não lembram da tragédia que aconteceu há poucos dias. Continuam promovendo aglomerações, em festas clandestinas, não usando máscaras e nem tomando cuidados simples”, disse Cristiano ao site BNC.

Para o doutorando do Programa de Biologia pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Lucas Ferrante, que previu a segunda onda em Manaus, a flexibilização das medidas restritivas impostas pelo Governo do Estado e a lentidão da vacinação contra a Covid-19 somadas ao não isolamento social farão com que a capital amazonense volte a registrar um novo pico da doença. Até o momento, foram vacinadas em Manaus pouco mais de 312 mil pessoas.

“A lentidão da vacinação, que tem sido uma vacinação pingada, a conta gotas, para a população, junto com a não adoção de medidas de isolamento social rígida, aliás Manaus nunca realizou de fato uma medida de isolamento social rígida, tende a causar a terceira onda com certeza. Esses serão os fatores. Nós teremos outros fatores como retorno precoce às aulas”, analisou Lucas, ressaltando que os pais devem adotar cautela no retorno dos filhos às aulas. “Os pais não devem enviar os filhos, principalmente, por essa variante ser mais agressiva sobre os jovens e o que é preocupante, além disso, o retorno das aulas vai aumentar a circulação viral na cidade, causando a terceira onda”, disse.

Variante da variante

Lucas Ferrante destacou também que a comunidade científica está em alerta, em razão da preocupação do surgimento de uma nova variante em Manaus, pior do que a encontrada entre dezembro de 2020 e fevereiro deste ano. O temor é que as vacinas não sejam tão eficazes no combate à doença. Para ele, um fator que poderia evitar o novo pico seria o lockdown na capital.

“As taxas de vacinação aplicadas, hoje, em Manaus, não são suficientes para conter a terceira onda. A única alternativa apontada pelos modelos epidemiológicos é um lockdown de 21 dias, com restrição da mobilidade de 90% da população. A não realização deste lockdown tende a causar a terceira onda justamente porque não seremos capazes de frear essa maior transmissão viral. Maior preocupação é que a terceira onda, (possivelmente) com maior transmissão viral tende a fazer com que surja uma nova variante, podendo esta ser resistente às vacinas. E, aí, nós vamos estar reiniciando uma pandemia aqui na Amazônia que tende a se tornar um problema global”, afirmou.

Transmissão

Ferrante salientou que a taxa de transmissão ainda é alta no Amazonas, porque a nova variante encontrada em Manaus (P.1) é muito mais virulenta. “Além disso, a carga viral no organismo dessas pessoas, é cerca de dez vezes maior, ou seja, ainda há muito mais risco do que o ano passado, após a primeira onda. O retorno das aulas presenciais é um problema, porque isso tende a inflar essa transmissão comunitária em Manaus, causando um grande colapso no sistema público de saúde novamente. Preocupante, essa nova cepa, atinge principalmente, os mais jovens. E mesmo crianças têm apresentado e vindo a óbito. Além disso, as sequelas são extremamente graves”, disse.

Até esta segunda-feira (05/04), a Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-AM), tinha contabilizado 352.976 casos da doença no estado e  12.107 mortes.

 

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