Amazonas
Redução de IPI que prejudica a ZFM não derruba preços ao consumidor brasileiro
Para economistas e empresários, o IPI menor pode, no máximo, conter uma onda maior de reajustes de eletrodomésticos e veículos.
A redução de 25% na alíquota do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), sendo de 18,5% no caso dos veículos, valendo desde 25 de fevereiro, não chegou ao consumidor, apontam indicadores de inflação. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), índice oficial de inflação do governo, divulgado na sexta-feira (08/04) mostra que bens duráveis que passaram a pagar menos imposto, como geladeira, máquina de lavar, fogão e carros, desacaleraram os reajustes, mas continuaram subindo de preços nos dois últimos meses. As informações são do UOL.
De acordo com empresários e lideranças políticas do Amazonas, a redução do IPI para bens de consumo em todo o País prejudica a atividade industrial da Zona Franca de Manaus (ZFM), que tem na isenção imposto sua principal vantagem competitiva em relação às fábricas de outros estados. E esse benefício é maior se o tributo for mais elevado no resto do país.
O alívio na tributação sobre bens eletrodomésticos e veículos não está reduzindo preços desses bens de consumo duráveis por dois motivos, dizem empresários e economistas: outros itens continuam pressionando os custos; e uma parte do corte de imposto ficou no meio do caminho, ou seja, virou margem de lucro na cadeia, entre a fábrica e a loja.
Profissionais ouvidos pelo UOL dizem que o ciclo de reajustes de preços de matérias-primas continua elevando custos da indústria. Por isso, dizem, há pouco espaço para redução de preços para o consumidor nos próximos meses, mesmo com a manutenção do corte do IPI por mais tempo.
Para economistas e empresários, o IPI menor pode, no máximo, conter uma onda maior de reajustes de eletrodomésticos e veículos.
“É claro que o corte do IPI tem algum efeito. Mas o IPI é parte dos impostos, que por sua vez são parte dos custos. O preço final no varejo até pode cair algo nos próximos meses, mas uma parte da redução do imposto vai ficar na cadeia de custos. O ideal seria corte permanente da carga tributária, que hoje chega a 37%”, diz Fábio Pina, assessor econômico da FecomercioSP (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de São Paulo).
Entre os bens de consumo duráveis beneficiados pela redução do IPI, apenas o item televisores teve redução de preço em março. Mas esse movimento se deveu mais à queda do dólar. Quase todos os materiais nos aparelhos são importados, da tela aos chips.
Os demais itens duráveis até desaceleraram a alta de preços, mas os reajustes continuaram entre fevereiro e março.
Veja abaixo as variações de preços de alguns bens de consumo duráveis em fevereiro e em março, segundo levantamento do IPCA, feito pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas).
Variação mensal em fevereiro e março pelo IPCA
IPCA: +1,01% (fev.) / +1,62% (mar.) Refrigerador: +4,13% / +1,03% Máquina de lavar: +3,24% / +1,14% Fogão: +2,11% / +2,24%
TV: +0,33% / -3,02%
Automóvel novo: +1,68% / +0,47%
A indústria segue correndo contra a inflação de custos, para recompor as margens de lucros. No acumulado em 12 meses, todos os eletrodomésticos e veículos acumulam reajustes maiores que a inflação média, medida pelo IPCA.
Variação em 12 meses até março pelo IPCA
IPCA: +11,30% Refrigerador: +26,35% Máquina de lavar: +17,67% Fogão: +21,18%
TV: +12,84%
Automóvel novo: +18,24%
Redução de apenas 0,2 ponto percentual
O coordenador do Índice de Preços ao Consumidor do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), André Braz, calculou em 0,2 ponto percentual o impacto potencial máximo que o corte do IPI teria na inflação ao consumidor.
Assim, nas contas do economista do Ibre/FGV, uma inflação anual de 6,5% seria de 6,3% se o corte de imposto fosse repassado integralmente.
Mas o próprio economista descarta esse movimento porque outros custos, como o do frete e das resinas de plástico, por exemplo, continuam subindo de preço por causa da valorização do petróleo, em movimento provocado pela guerra entre Rússia e Ucrânia.
“A redução de preços dos produtos para o consumidor por causa do IPI menor pode esbarrar em outras pressões da própria cadeia produtiva. Ainda temos gargalos da época da covid. E a indústria de carros é prova disso. Vemos aumentos de custos por causa da falta de insumos”, diz André Braz.
O economista afirma que uma parte da redução do IPI deve ser usada para recompor a margem de lucro da indústria, que vem sendo afetada, de um lado, pelo aumento de custos e, de outro, pela redução das vendas. “Uma parte (da redução do IPI) pode virar margem da indústria. É difícil ver agora. O que vemos é que os preços ainda estão subindo”, disse.
Quando o corte do IPI foi anunciado, a Anfavea, que reúne as montadoras de veículos, estimou que a redução de preços ao consumidor final seria de 1,4% a 4,1%, dependendo dos modelos e da estratégia comercial de cada fabricante.
Quanto maior a alíquota do IPI, maior o peso do imposto no preço final. Como os modelos de motor mais potente pagam alíquotas maiores de IPI, esses veículos potencialmente poderiam ter uma redução de preços mais perceptível.
Mas o presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes, disse que outros insumos da indústria automobilística continuam pressionando os custos de produção. A valorização do petróleo, por exemplo, continua encarecendo plásticos e outros materiais petroquímicos.
“A inflação que estamos enfrentando continua impactando os custos de produção, de insumos, de combustíveis e energia. O IPI ajudou a atenuar os aumentos de custos, mas as montadoras fizeram um repasse da redução do IPI ao menos em parte”, diz Luiz Carlos Moraes.
O último Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) apurado pela FGV, que mede a inflação na produção e na indústria, antes de chegar ao consumidor, de fato mostrou que as pressões de custos até foram maiores em março do que em fevereiro.
O IPA de março teve forte influência dos derivados do petróleo. O aumento do diesel foi de 2,70% em fevereiro para 16,86%, em março. Na gasolina, a variação acelerou de 1,71% para 12,69%. O minério de ferro, que tinha recuado 0,1% em fevereiro, teve aumento de 2,82%, em março.
Variação mensal em fevereiro e março pelo IPA
IPA todos itens: +1,94% / +2,80% Matérias-primas brutas: +1,73% / +3,64% Bens intermediários: -1,31% / +3,19% Bens finais: +1,73% / +3,64%
Consumo no varejo
Apesar desses custos crescentes na indústria, o varejo pode ser forçado a repassar em parte o corte do IPI para o consumidor final nas próximas semanas por causa da economia fraca, diz o presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo & Mercado de Consumo (Ibevar), Claudio Felisoni de Angelo.
Segundo levantamentos do Ibevar, as vendas no varejo recuaram 1,56% em março em comparação com fevereiro e deverão ter outra queda, de 1,53%, em abril em relação a março.
Para maio, por enquanto as pesquisas de sentimento com os varejistas mostram estagnação das vendas.
Esse consumo fraco é provocado pela inflação, que já supera 11% ao ano, e vai corroendo de forma contínua o poder de compra das famílias. Além disso, afirma Felisone, os juros elevados encarecem o crediário e também atrapalham as vendas do varejo, que pode ficar com estoques encalhados.
O corte do IPI será repassado ou não ao consumidor se houver competição acirrada. E, por esse quadro de demanda fraca, pode ser que o varejo tenda a repassar em parte ou todo o corte do imposto, analisa Felisone.
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