Primeira senadora do País, amazonense lembra que Casa não tinha banheiro para mulheres

Em entrevista ao UOL, a primeira senadora da República brasileira, Eunice Michiles, da então Arena, partido que dava sustentação política à ditadura militar (1964-1985) em vigor, contou que foi recebida com buquês de flores e poesia por homens postados na entrada do plenário do Senado Federal. O ano era 1979.

Antes dela, no período do Império, a princesa Isabel (1846-1921), filha do imperador Pedro 2º, ocupou uma cadeira no Senado por “direito dinástico”.

Candidata a senadora por uma sublegenda da Arena em 1978, Eunice ficou com a segunda votação do partido situacionista (32.819 votos, 46% votos do partido) e, assim, tornou-se a primeira suplente de João Bosco de Lima (1936-1979), que morreu três meses após o início da legislatura, dando lugar a ela.

“Eu era uma dama no meio de homens do porte de Marco Maciel, [ex-vice-presidente da República], Paulo Brossard [(1924-2015), ex-ministro da Justiça e do STF (Supremo Tribunal Federal], e Jarbas Passarinho [(1920-2016), ex-governador ex-ministro do Trabalho, da Educação, da Previdência Social e da Justiça, além de presidente do Senado Federal]. Eram políticos influentes, grandes oradores. Eu, uma estranha no ninho”, disse Eunice.

A senadora explica que “apanhava de todos os lados”. Era vista pelos conservadores como feminista, e como “representante dos conservadores
movimentos feministas.

Somente em janeiro de 2016, 37 anos após a posse da primeira senadora da República, e numa legislatura com 13 mulheres, o senador Renan Calheiros (MDB-AL), então presidente da Casa, reduziu o espaço do banheiro masculino no plenário para instalação de um banheiro para as mulheres.

Em abril, Eunice sofreu um infarto ao ir para o culto em Brasília. Às vésperas de fazer 90 anos em 10 de julho, ela se recupera em casa cercada filhos, entre eles o ex-deputado Humberto Michiles, o único que seguiu a carreira política na família.