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Amazonas

“Pessoas literalmente morrendo sufocadas em casa”, diz especialista no AM que defende lockdown

Jesem Orellana já havia apontado, em outro “alerta” de setembro, a necessidade de medidas mais rigorosas do poder público a fim de evitar uma segunda onda da pandemia no Estado.

O número de pessoas mortas em domicílios aumentou 38% no Amazonas no ano passado, durante a pandemia do novo coronavírus, em comparação com 2019. É o que aponta um levantamento inédito da Arpen-Brasil (Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais do Brasil). As informações são do UOL.

O total de mortos em residências passou de 3.201 pessoas, em 2019, para 4.418 no ano passado. O local da morte é sinal da incapacidade do sistema hospitalar de internar, intubar e tratar os pacientes com Covid-19 , de acordo com o pesquisador e epidemiologista Jesem Orellana, da Fiocruz/Amazônia. E o colapso já se repete em 2021, de acordo com o especialista, com um crescimento anormal de mortes em domicílio nas duas primeiras semanas de janeiro em Manaus.

Levantamento da rede pública de saúde citado pelo pesquisador mostra que nos dez primeiros dias de dezembro de 2020 morreram 64 pessoas em domicílios em Manaus. Nos dez primeiros dias de janeiro, porém, o número saltou para 137 – aumento de 114%. No primeiro dia de 2021 morreram onze pessoas em residências. O número passou para 15 no dia 8, 14 no dia 9 e 27 no dia 10 de janeiro.
“Há pessoas literalmente morrendo sufocadas em suas casas”, disse o especialista. “São centenas de pacientes em fila para internação em leito clínico e de UTI [Unidade de Terapia Intensiva]. Na terça-feira recebi dois chamados desesperados de conhecidos pedindo alguma dica para internar parentes deles em Manaus. É o colapso. Um parente meu, com 80% de saturação, estava praticamente sem respirar. E não tem a menor possibilidade de internar em leito. Estou revivendo o que assisti em abril de 2020. É simplesmente uma repetição, mas em uma escala maior”, disse Orellana.

De acordo com o pesquisador, estão lotados os 465 leitos de UTI para casos confirmados de Covid-19 e 80 leitos para casos suspeitos, enquanto há “centenas” de pessoas aguardando a internação. Na comparação com setembro do ano passado, a ocupação de leitos clínicos por pacientes com síndrome respiratória aguda grave por Covid-19 aumentou 636%.

As mortes em domicílio ocorrem em meio à explosão dos óbitos gerais causados pela doença. Nesta quarta-feira (13), em um “alerta epidemiológico” enviado a diversos órgãos públicos do Amazonas e de Brasília, Orellana apontou que ocorreram, somente nos 12 primeiros dias de janeiro, 446 mortes por Covid-19, um aumento de 11,8% em relação à soma de todas as mortes registradas nos meses de julho, agosto e setembro do ano passado.

Outro número desnuda a crise humanitária de Manaus: em 12 de janeiro houve o recorde de sepultamentos num único dia, 166 enterros, “o maior ao longo de toda a pandemia”, disse Orellana.
No “alerta”, Orellana advertiu que a situação atual da epidemia em Manaus “pode, inclusive, deixar a primeira onda (março a julho de 2020) de contágio e mortalidade por Covid-19 muito próxima ou até menor do que a segunda onda em curso, caso não sejam incorporadas mais medidas sanitárias para frear a epidemia”.

“Os tomadores de decisão não podem fechar os olhos para a desesperadora realidade de Manaus, pois o esgotamento de leitos clínicos e de UTI tem levado a uma desumana e perversa fila de espera para pacientes residentes não só na capital, mas no interior onde, vexativamente, ainda inexistem leitos de UTI. Outra situação igualmente dramática é a dos trabalhadores de saúde, exaustos física e psicologicamente, bem como enlutados e desmotivados pela perda de parentes/conhecidos e de dezenas de colegas de profissão, para a mesma epidemia que tentam, como podem, ajudar a debelar”, disse o epidemiologista.

Jesem Orellana já havia apontado, em outro “alerta” de setembro, a necessidade de medidas mais rigorosas do poder público a fim de evitar uma segunda onda da pandemia no Estado. “Talvez o único caminho para frear a segunda onda em Manaus seja um lockdown rigoroso, de uns 14 dias, para que estado, município e a sociedade de modo mais amplo possam reavaliar os erros cometidos até então e, aos poucos, quem sabe, possamos retomar, de forma realmente segura, as atividades não essenciais e o tão desejado e necessário retorno das aulas presenciais.”

O especialista disse ao UOL que o lockdown “é medida muito extrema e, para ser aplicada – essa a grande dificuldade -, não pode ser do dia para a noite, precisa ser planejado. Infelizmente temos certeza de que o lockdown, se for aplicado, será mal aplicado”. Ele mencionou que há muitas festas clandestinas em Manaus e baixa participação da sociedade a fim de implementar um distanciamento social mais sério.

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