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Amazonas

No Vaticano, amazonense fala sobre crise climática que assola povos originários da Amazônia

Helena Garrida denunciou os efeitos das mudanças climáticas na região, incluindo a estiagem histórica e a fumaça de queimadas que o Amazonas enfrentou no último ano

“A destruição da floresta amazônica afeta não apenas o meio ambiente, mas também a conexão emocional e espiritual dos jovens com a natureza”. Foi dessa forma que Helena Garrido, jovem liderança de 17 anos, abordou os efeitos climáticos que ameaçam a integridade dos povos originários da Amazônia no encontro “Da Crise Climática à Resiliência Climática”, realizado de 15 a 17 de maio, na Casina Pio IV, no Vaticano.

Promovido pela Pontifícia Academia de Ciências (PAS) e Pontifícia Academia de Ciências Sociais (PASS), o evento reuniu dezenas de lideranças globais e ativistas socioambientais para debater formas de adaptação, mitigação e resistência às mudanças climáticas.

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Natural da comunidade ribeirinha Tumbira, na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Rio Negro, que fica a uma hora e meia de lancha, saindo de Manaus, Helena denunciou os efeitos das mudanças climáticas na região, incluindo a estiagem histórica e a fumaça de queimadas que o Amazonas enfrentou no último ano.

“Venho de um lugar onde os rios são nossas ruas, nosso alimento, nossa vida. Venho da floresta, onde as árvores são nosso oxigênio e trago comigo as lembranças de 2023. Um cenário onde o reflexo das ações humanas afetou a vida de todos os ecossistemas. Tivemos a maior seca de todos os tempos, vi rios mortos, animais agonizando, peixes morrendo, pessoas passando fome, sem comida, sem água e sem oxigênio. Vi crianças e anciões, vivi e vi junto com eles a falta de tudo, principalmente a falta das vidas”, compartilhou.

A região amazônica tem sido alvo constante de desmatamento, garimpo ilegal, queimadas, tráfico de espécies e outras práticas predatórias para o ecossistema da floresta. No último ano, a Amazônia experimentou a maior seca da bacia do rio Amazonas, altas temperaturas e um regime de chuvas afetado. Embora haja influências naturais, o consenso científico aponta que essas condições são intensificadas por ações antrópicas.

“A destruição da floresta amazônica afeta não apenas o meio ambiente, mas também a conexão emocional e espiritual dos jovens com a natureza. A responsabilidade de cuidar da casa comum deve ser de todos, tem que ser planetária”, pontuou.

“Ver jovens saindo de seus locais [de origem] para defender sua casa é importante. Nós somos jovens que procuram entender os problemas da sociedade. Temos sérios problemas que acontecem agora, e no futuro [haverá] situações onde teremos que impulsionar outros jovens a seguirem a jornada de proteger o meio ambiente e abordar essas questões com as gerações mais velhas, que detém maior poder. Eu fico bastante honrada com essa participação, pela confiança que a FAS depositou em mim para dar voz ao Amazonas”, finalizou Helena.

Helena participou do encontro a convite do Instituto Alana, que selecionou jovens de vários países para discutirem o tema. A Fundação Amazônia Sustentável (FAS) indicou Helena para representar a região. Ela faz parte do projeto “Repórteres da Floresta”, que incentiva e empodera jovens de comunidades amazônicas a denunciarem as irregularidades que acontecem em seus territórios, por meio de vídeos, podcasts e posts nas redes sociais, além de curiosidades e outras notícias sobre cultura, gastronomia, esporte e outros assuntos.

Segundo Virgilio Viana, superintendente geral da FAS, que faz parte da Pontifícia Academia de Ciências Sociais do Vaticano, os efeitos das mudanças climáticas se tornam cada vez mais reais em várias partes do mundo e quem sofre deve falar. “É inegável que há um movimento consciente da juventude pela justiça climática. A Amazônia guarda formas e relações de vida únicas, e não há quem a proteja melhor que os próprios povos da floresta”, afirma.