Amazonas
No Amazonas, ONG dos EUA recebe área para erguer escola e faz casa para diretores
A ONG citada é a GTN (Global Thinkers Now) Brasil, formalizada no país em 2017

Brayan Riker/DPE-AM
Moradores da comunidade Santo Antônio, localizada dentro da RDS (Reserva de Desenvolvimento Sustentável) Rio Negro, no Amazonas, tentam expulsar uma ONG que ergueu e cercou duas casas na área. Eles alegam que as edificações foram autorizadas pela comunidade. Mas a segunda casa (de 150 m²), que deveria ser uma escola técnica, se tornou a residência do casal americano que administra a ONG. As informações são do UOL.
A RDS é uma área pública gerida pela Sema (Secretaria de Meio Ambiente do Amazonas), que informou saber do conflito desde o ano passado. Em junho de 2025, a pasta fiscalizou a região e constatou que as casas “foram construídos sem licenciamento, com danos à vegetação nativa”.
Pelas irregularidades, o Ipaam (Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas) multou a ONG em R$ 56,5 mil e deu ordem de interdição e desocupação dos imóveis —a entidade recorreu e continua no local.
A ONG citada é a GTN (Global Thinkers Now) Brasil, formalizada no país em 2017, mas que começou seus trabalhos ainda como braço da entidade dos EUA, em 2015. Ela alega ser vítima de uma campanha difamatória da associação local e diz que vai lutar para se manter na região.
Os moradores reclamam que a ONG deixou de fazer serviços para a comunidade e passou a agir de forma estranha.
“Eu sei que nós autorizamos a presença, mas eles não fizeram a escola. Fizeram foi uma mansão para o casal dono da ONG. Não posso deixar que um erro lá atrás prossiga, por isso procurei as autoridades”, afirma Mariete Miranda Pontes, 49, presidente da Associação de Produtores Agrícolas da Comunidade do Santo Antônio.
Mariete diz que a área entre as casas foi cercada e, entre elas, foi feita uma pequena ponte, às margens do rio Negro, sem autorização da comunidade. “A cerca dificulta a passagem para quem vem da cidade [de Novo Airão] porque o nosso porto é lá”, diz.
Defensoria
A associação procurou a Defensoria Pública do Estado, que abriu investigação para verificar a violação de direitos da comunidade e ambiental.
“Trata-se de uma comunidade carente de serviços, então acharam que seria uma ideia boa ter a presença da ONG e fizeram um termo cessão para que se construísse essa ‘Casa Silva’, que foi um local para se realizar atendimentos”, diz a defensora pública Daniele Fernandes.
Com a casa, diz, a ONG chegou a levar médicos e dentistas, por exemplo. Além disso, os moradores dizem que a GTN fazia doações de uma cesta básica por ano. “Mas isso também teria cessado”, afirma a defensora.
O terreno para construção da segunda casa foi solicitado à associação e autorizado em março de 2023. “A comunidade deu o aval, porque o projeto era de fazer uma escola. Mas eles fizeram uma construção num patamar muito mais elevado, que virou a casa do casal que gere a ONG”, explica.
Para a defensora, não é necessário que os moradores expulsem a ONG porque a RDS é uma área ambiental protegida por lei e de propriedade do estado, que só permite moradores da comunidade tradicional.
“Ou seja, a presença é algo irregular por si só, porque é uma terra pública, não pode haver doação”, diz Daniele Fernandes, defensora pública.
O casal responsável pela entidade é Beatriz e Robert Ritzenthaler —ela é brasileira com dupla cidadania e ele é americano.
Ao UOL, Beatriz reconhece que a casa onde mora não tem as salas de aula prometidas. Mas afirma que a comunidade sabia que o local também serviria de moradia para o casal, que diz ter se mudado em definitivo para a reserva em agosto de 2023.
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