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Amazonas

Mais de 6 em cada 10 pobres no Amazonas são adolescentes e crianças, indica estudo do IMDS

O cenário de pobreza infantil deve se mostrar ainda pior quando saírem as informações relativas ao ano passado, em outubro, diante das consequências da pandemia.

Crianças e adolescentes respondiam, em 2019, por 66,6% de todos os pobres no Amazonas. O Estado é o terceiro do Brasil do ranking nacional de maior índice de crianças e adolescentes entre os pobres, segundo estudo do do Instituto Mobilidade e Desenvolvimento Social (IMDS) divulgado nesta terça-feira pelo jornal Valor Econômico.

Crianças e adolescentes respondiam, em 2019, por 40,3% de todos os pobres brasileiros. Ao todo, eram 20,8 milhões de pessoas que enfrentavam, no início de suas vidas, restrições que comprometem as oportunidades para o futuro. O estudo do IMDS calcula que são necessários R$ 49,8 bilhões por ano para erradicar a pobreza infantil no país, considerando uma linha nacional e única para a definição do critério de pobreza.

Quando se considera a pobreza por linhas regionalizadas (que refletem diferenças no custo de vida local), o número de crianças e adolescentes é menor (15,8 milhões) e também é inferior a parcela do total de pobres (31,2%). Por esse cálculo, o montante estimado em transferências de renda para eliminar a pobreza infantil é de R$ 28,2 bilhões por ano.

No grupo de zero a 17 anos, a incidência de pobreza – a parcela de pobres em relação ao total da população daquela faixa etária – é de 41%, mais que o dobro que a da população acima de 18 anos (19,5%), considerando a linha nacional.

O trabalho usa os dados mais recentes disponíveis da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua anual, relativos a 2019. Mas o cenário de pobreza infantil deve se mostrar ainda pior quando saírem as informações relativas ao ano passado, em outubro, diante das consequências da pandemia e do aumento do desemprego, apontam especialistas.

“Sem dúvida, a pobreza se intensificou em 2020. A pandemia trouxe uma piora intensa do mercado
de trabalho, concentrada nos grupos de renda mais baixa. A renda é um dos critérios para a
definição de pobreza. E no Brasil tem um papel mais proeminente, já que bens públicos como
educação, saúde e cultura são mais limitados”, afirma o economista Paulo Tafner, responsável pelo estudo e diretor-presidente do instituto.

O cálculo para a erradicação de pobreza infantil do IMDS estima o valor que seria necessário em
transferências de renda para garantir que as famílias às quais essas crianças e adolescentes
pertencem deixem a chamada linha da pobreza. Na linha nacional, são usados critérios do Banco
Mundial, que correspondiam, em 2019, a cerca de R$ 436 por mês per capita.

Já na conta pelas linhas regionalizadas, há valores diferentes de acordo com a região do país, a partir de metodologia desenvolvida por Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na área metropolitana de São Paulo, por exemplo, é de R$ 392,42 por mês per capita, enquanto na área rural do Nordeste é de R$ 312,55 per capita.

Para o economista, os valores encontrados para a erradicação da pobreza infantil (R$ 49,8 bilhões e R$ 28,2 bilhões por ano) “não são muito dinheiro” para a realidade brasileira e é preciso que o país invista mais nas crianças e em mecanismos que possam ajudá-las a deixar a pobreza para trás.

“Temos mais de R$ 300 bilhões em subsídios a empresas. É preciso pensar em como criar uma
sociedade brasileira mais dinâmica em termos de mobilidade social e definir prioridades”, afirma Tafner, lembrando que o fato de nascer pobre não deveria ser determinante para o futuro das crianças. “O Brasil ainda não acordou para o fato de que a pobreza é muito concentrada entre aqueles com até 17 anos. A gente não investe no futuro.”

Diretora de Programas da ActionAid, Ana Paula Brandão diz que a pesquisa mostra em números o
aumento da pobreza que já tinha sido percebido pela organização nos trabalhos em diferentes
áreas do país, antes mesmo da pandemia, que acabou por agilizar esse avanço.

“É muito difícil romper o ciclo da pobreza no Brasil e o que se vê é que a inclusão da classe média não foi uma transformação de fato. A situação dessas pessoas é ainda muito insegura. E as crianças são muito vulneráveis, são as mais impactadas”, afirma.

Mais do que a situação atual de pobreza vivida por essas crianças, aponta o diretor-executivo da Ação da Cidadania, Rodrigo Kiko Afonso, chamam a atenção as consequências para o futuro. Segundo ele, o atual modelo da sociedade brasileira “perpetua” a pessoa na pobreza, ao não dar
condições de saída dela, por falta de acesso a renda e a direitos como saúde e educação de
qualidades.

“A realidade é muito dura para essas crianças e jovens, que precisam enfrentar muitas barreiras. Sair da pobreza é quase um milagre”, afirma Afonso, destacando que a pandemia intensificou ainda mais a pobreza e a fome. “Não consigo ter um olhar de melhoria da situação a curto e a médio prazos.”

Os dados completos do estudo foram publicados no site do Instituto Mobilidade e Desenvolvimento
Social (IMDS)


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