Conecte-se conosco

Amazonas

Maioria dos mortos por Covid-19 em Manaus, em agosto e setembro, não tomou vacina ou só tinha primeira dose, diz estudo

Para Jesem Orellana, está claro o predomínio de internações e mortes por Covid-19 em não vacinados ou naqueles com o esquema incompleto

Medida é para atender pessoas idosos em Manaus – Foto: Arquivo Semcom

Um estudo preliminar obtido com exclusividade pelo 18 Horas mostra que a maioria das mortes por Covid-19, em agosto e setembro, em Manaus, foi de pacientes que não tomaram ou só tomaram a primeira dose da vacina. O estudo é do epidemiologista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz Amazônia) Jesem Orellana e destaca a importância da vacina no combate à pandemia.
O pesquisador disse que Manaus registrou 142 mortes nos dois meses – 108 em agosto e 34 em setembro. Desse total, 19,7% (28) não tinham informação sobre o status vacinal. Para aqueles que tinham informação sobre o status vacinal (114), 79,2% (91) estavam sem vacina ou só com a primeira dose.
“Estes números reforçam que vacinas salvam vidas, mas não fazem milagre, já que enquanto o vírus circular ele seguirá fazendo vítimas fatais, especialmente entre os que resistem à vacinação contra a Covid-19, que não completaram o esquema com as duas doses, que abandonaram o uso de máscaras ou que já se aglomeram como se a pandemia tivesse acabado”, informou o cientista.
Orellana informou, também, que entre as 64 mortes de pessoas que não tinham registro de nenhuma dose da vacina contra a Covid-19, quase a metade estava na faixa etária entre 23 e 59 anos. Os óbitos sem registro vacinal nesta faixa etária, disse, foram de 45,3%, ou seja 29 das 64 mortes. Ele ressaltou que, em agosto e setembro de 2020 (ainda sem vacina), vítimas fatais com menos de 60 anos representavam menos que 27% do total de mortes por Covid-19, evidenciando que as vítimas fatais, atualmente, são cada vez mais jovens.

O epidemiologista disse que entre os 64 óbitos de pacientes sem registro de nenhuma dose da vacina, 37 foram de homens e somente três foram classificadas como pessoas “brancas”. “O que pode estar associado a um padrão socioeconômico inferior dessas vítimas não vacinadas (26,7% da população de Manaus seria “branca”, de acordo com o censo de 2010), justamente a fração mais vulnerável da população”, acrescentou.

Para Orellana, está claro o predomínio de internações e mortes por Covid-19 em não vacinados ou naqueles com o esquema incompleto, homens e não brancos. Não se pode descartar a possibilidade de uma terceira onda da pandemia na capital. “Em uma perspectiva mais conservadora, uma terceira onda com consequências imprevisíveis ainda não pode ser descartada, especialmente se surgir uma mutação capaz de burlar o efeito protetor das vacinas, o que não é o caso atualmente, ou ainda caso a resposta imunológica induzida pela infecção natural ao SARS-COV-2 e/ou pelas vacinas caia dramaticamente nove ou mais meses depois da segunda dose na população geral”, disse.

Idosos

O cientista disse que as consequências são mais evidentes nos idosos não vacinados. Segundo ele, os que só tomaram uma dose também estão adoecendo gravemente e até indo a óbito por Covid-19, “seja pelo longo intervalo entre a primeira e a segunda dose imposto pelo Ministério da Saúde (12 semanas) ou por aderir tardiamente à vacinação”.
“Sabe-se que eles (idosos) naturalmente respondem mais precariamente às vacinas, quando comparados a adultos jovens/adolescente, independente do fabricante e da doença que se espera evitar. Poderíamos ter priorizado o uso da Coronavac neste grupo etário e, com isso, maximizado o período de proteção desses idosos, já que eles tomariam a segunda dose em menos de 31 dias. Essas medidas poderiam ter evitado milhares de hospitalizações e mortes por Covid-19”, disse.