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Amazonas

Amazonas precisa vacinar quase 10 vezes mais para ter controle da pandemia, diz estudo

A conclusão está no segundo relatório de um estudo dos cientistas do Grupo Ação Covid-19, que determina periodicamente a cobertura vacinal mínima para frear o vírus.

A vacinação para profissionais de saúde será realizada na Escola de Enfermagem, bairro Adrianópolis. (Foto:Prefeitura de Manaus)

No atual cenário de descontrole da covid-19 no Brasil, 12 Estados brasileiros e o Distrito Federal têm de vacinar mais de 40% de suas populações com primeira e segunda doses para controlar a pandemia. Só então haverá queda sustentada no número de casos da doença. No caso do Amazonas, que vacinou apenas 4,66% com as duas doses, seriam necessários 35,39% de vacinados. A conclusão está no segundo relatório de um estudo dos cientistas do Grupo Ação Covid-19, que determina periodicamente a cobertura vacinal mínima para frear o vírus.

O levantamento aponta que a imunização necessária para controlar a doença chega a um pico de 60,56% da população no Ceará. O Estado tinha a condição mais crítica do país nos 30 dias até 19 de abril, período sobre o qual incidem os cálculos. No outro extremo, o Maranhão é o que precisa vacinar o menor percentual para frear a pandemia, 21,45%. Até domingo, no entanto, a vacinação em duas doses só tinha alcançado 5,94% dos brasileiros, segundo o consórcio de imprensa.

Simulações para os meses anteriores permitem associar as menores demandas vacinais a medidas de isolamento tomadas precocemente, diz o documento. É o caso do Maranhão que, embora tivesse imunizado somente 3,1% no período avaliado e 6,1% até ontem – 20º percentual do país – foi eficiente ao restringir mobilidade, o que lhe garantiu a menor taxa de transmissão. Com isso, o percentual de vacinação necessário para conter a doença é mais baixa. A Bahia, que antecipou o isolamento na segunda onda, também viu a cobertura mínima baixar, de 76,7% em janeiro para 32,9% em abril.

Com 21 nomes de relevo internacional nas ciências biológicas, exatas e humanas, o Grupo Ação Covid-19 alerta que, no ritmo atual de imunização, as coberturas mínimas são “impraticáveis” a curto prazo. Eles citam São Paulo, Estado que mais vacinou e, ainda assim, tinha distância de 33 pontos percentuais entre vacinados e cobertura ideal (40,64%) até semana passada.

Na comparação de 21 Estados e DF, São Paulo tem a 12ª maior necessidade de vacinas. A vacinação com a segunda dose no Estado saltou de 6,8% para 10,5% nos sete dias até ontem, o que, dizem os cientistas, reduz o percentual requerido, mas está longe de resolver o problema.

“A vacinação sozinha ainda não dá conta da crise”, diz Beatriz Carniel, epidemiologista e doutora pela Universidade de Liverpool. “Só é possível antecipar a saída da pandemia e evitar surtos se combinarmos vacina com isolamento e ‘lockdown’ intermitente, acionados pelo risco de lotação no sistema de saúde.” A recomendação contraria o entendimento do governo federal, que encara a vacina como “bala de prata” e atua contra restrições.

Patrícia Magalhães, física e pesquisadora do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), conta que o grupo calculou a média da taxa de transmissão do vírus (R) de cada Estado a partir dos números de infectados, recuperados e “suscetíveis” indicados por secretarias estaduais durante 30 dias. O R indica para quantas pessoas um infectado é capaz de transmitir o vírus e, se for superior a 1, como em todo o país, há avanço da doença. Com o indicador, é possível estimar quanto de cada população precisa estar imunizada para levá-lo a valor igual ou menor que 1.

Vacinados são computados como suscetíveis, mas “pesados” pela eficácia da vacina. O modelo
considera apenas a eficácia da Coronavac, 50,38%, devido à sua prevalência na campanha, superior a 80% até aqui. “Um vacinado não necessariamente freia o contágio. Ele só tende a não ser hospitalizado. Até por isso é um erro contar só com a vacinação”, afirma Patrícia.
A falta de consistência no repasse de estatísticas diárias inviabilizou o cálculo para alguns Estados.

Além disso, os casos de Sergipe e Paraná, com R superior a 2, são considerados extremos e não
permitem estimativas precisas. “Pela gravidade, o objetivo deveria ser avançar na vacinação dessas populações o mais rápido possível.”

Devido à diversidade e variação do cenário, é “essencial” alterar a distribuição de vacinas, apontam os pesquisadores. Elas devem ser concentradas nas regiões em situação mais grave, em vez de distribuídas pela proporção populacional. Isso, diz Patrícia, também reduziria desigualdades do atual modelo, com vacinação de idosos e pessoas com comorbidades, duplamente concentrados no Sudeste e nas faixas de maior poder aquisitivo.

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