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Amazonas possui 2 áreas protegidas no alvo da mineração de terras raras, aponta levantamento

Segundo dados da ANM , existem 2,9 mil pedidos ativos para explorar terras raras no país – desse total, 82% foram protocolados a partir de 2022.

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Floresta Estadual do Sucunduri. (Foto:Reprodução)

De acordo com dados divulgados pelo site Repórter Brasil, o estado do Amazonas possui duas áreas de florestas protegidas por legislação na mira da mineração para exploração de terras raras. De acordo com o levantamento, o Parque Estadual da Serra do Aracá, situado no município de Barcelos, e a Floresta Estadual do Sucunduri, em Apuí, fazem parte de requerimentos minerários ativos em trâmite na Agência Nacional de Mineração (ANM).

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Amazônia

Ao menos 41 áreas protegidas na Amazônia Legal, entre terras indígenas, comunidades quilombolas e unidades de conservação ambiental, são afetadas por requerimentos para mineração de terras raras. É o que revela levantamento exclusivo da Repórter Brasil, com base em dados da ANM (Agência Nacional de Mineração) e de outros órgãos federais.

Terras raras são um conjunto de 17 elementos químicos, como neodímio, escândio e praseodímio, usados na produção de ímãs para turbinas eólicas, carros elétricos, indústria aeroespacial e bélica. O Brasil tem a segunda maior reserva no mundo, atrás apenas da China. A Agência Internacional de Energia projeta um crescimento da demanda entre 50 e 60% até 2040.

Na segunda-feira (4), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), afirmou que o Brasil pode discutir a inclusão das terras raras nas negociações das tarifas impostas pelos Estados Unidos. O país já havia sinalizado o entusiasmo nas reservas brasileiras no final de julho, quando o encarregado de negócios dos EUA no Brasil, Gabriel Escobar, declarou que o governo Trump tem interesse nos minerais estratégicos – terras raras entre eles.

Segundo dados da ANM analisados pela Repórter Brasil, existem 2,9 mil pedidos ativos para explorar terras raras no país – desse total, 82% foram protocolados a partir de 2022. A maior parte, porém, está em fase de autorização de pesquisa, etapa inicial do processo.

O levantamento foi realizado com apoio da Rainforest Investigation Network (Pulitzer Center) e do grupo PoEMAS, da Universidade Federal de Juiz de Fora.

Dos 157 requerimentos na Amazônia, 103 estão dentro ou a menos de 10 km de territórios protegidos. Ao todo, são 41 áreas afetadas: três territórios quilombolas, quatro terras indígenas e 34 unidades de conservação.

Foram analisados os mapas oficiais dos territórios, fornecidos por ANM, Funai, Incra e Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima.

A Floresta Estadual do Amapá é a mais afetada, com 57 requerimentos minerários próximos.

Na sequência estão o Parque Nacional Montanhas do Tucumaque, também no Amapá, com 12 pedidos, e o Quilombo Kalunga do Mimoso (TO), com seis. Cada processo minerário pode afetar um ou mais territórios.

A legislação ambiental não proíbe atividades minerárias a menos de 10 km de áreas protegidas. Porém, especialistas dizem que empresas e órgãos reguladores devem considerar os impactos nos territórios. Na Amazônia Legal, uma portaria federal de 2015 determina estudos específicos e a consulta às comunidades indígenas e quilombolas afetadas nestes casos.

“[A distância de 10 km] É uma referência importante tanto para a avaliação dos impactos quanto para proposição de medidas mitigadoras e de monitoramento”, explica Juliana Siqueira Gay, engenheira ambiental e professora no Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental da USP.

“Sob o discurso de inovação tecnológica e transição energética, a mineração pode ter um novo boom, avançando sobre áreas protegidas, causando impactos, danos e possíveis novos desastres no país”, aponta Fábio Ishisaki, advogado e assessor de Políticas Públicas do Observatório do Clima.

Isso se agrava, segundo ele, com a aprovação da nova lei de licenciamento ambiental, que flexibiliza o regramento para áreas ainda em processo de demarcação. Esse é o caso do quilombo Kalunga do Mimoso e de outros 1.152 territórios quilombolas.

“O Brasil tem uma reserva significativa de minerais críticos, mas temos que ter responsabilidade na hora de explorar esses minerais. Não podemos aceitar a pressão externa e atropelar a responsabilidade ambiental e social”, alerta o procurador Bernardo Meyer Cabral Machado, do MPF-TO (Ministério Público Federal do Tocantins).

“Esse argumento que a mineração vem para desenvolver o país ou uma energia limpa é para um grupo isolado. O Brasil até hoje é um país explorado para enriquecer outros países, sobretudo da Europa, EUA e China. A população preta, parda, pobre, indígena, quilombola e as demais comunidades tradicionais não têm nenhum usufruto dessa riqueza”, finaliza Vandeli Paulo dos Santos, coordenador da Conaq (Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas).


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