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Brasil

Presidente da maior produtora mundial de celulose prevê desmatamento ‘catastrófico’ da Amazônia

Schalka, que fala sobre mudanças climáticas, disse que o país deveria monetizar a preservação da floresta por meio da venda de créditos de carbono.

Existem poucos líderes empresariais no Brasil tão críticos sobre o meio ambiente quanto Walter Schalka, presidente da maior produtora mundial de celulose. O executivo tem uma previsão sombria para a Amazônia: o desmatamento vai aumentar este ano. “Vai ser catastrófico”, disse Schalka, presidente da Suzano, em entrevista em Nova York. “Vai ser ainda pior do que no ano passado.”

A total extensão das recentes queimadas ainda não é conhecida porque o desmatamento de uma área é um processo que leva alguns anos para ser concluído, disse Schalka, que criticou o presidente Jair Bolsonaro por não fazer cumprir a legislação contra a extração ilegal de árvores e queimadas em 2019 que provocaram protestos em vários países.

Schalka disse que o governo deveria ser mais agressivo. “Não acho que estejam favorecendo o desmatamento, mas não estão criando condições para evitá-lo.”

Os alertas de desmatamento na Amazônia brasileira quase dobraram para um recorde em janeiro, segundo dados divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). A taxa anual de desmatamento registrou o maior salto em mais de uma década no período de 12 meses encerrado em julho, de acordo com os dados mais recentes disponíveis.

Pouco menos de 10 mil quilômetros quadrados de floresta foram derrubados nesse período, 30% a mais do que nos 12 meses anteriores.

A Amazônia, com 5 milhões de quilômetros quadrados, é um grande repositório de dióxido de carbono e desempenha papel fundamental no combate contra as mudanças climáticas. A floresta também abriga 10% de todas as espécies vegetais e animais conhecidas. E, nas últimas quatro décadas, a Amazônia perdeu cerca de 18% de seu território, segundo o Greenpeace.

Schalka, que tem falado abertamente sobre mudanças climáticas e desigualdade no Brasil, disse que o país deveria monetizar a preservação da floresta por meio da venda de créditos de carbono. Se o Brasil conseguisse conter a destruição desenfreada da Amazônia, o país seria capaz de “capturar” gases de efeito estufa e vender licenças que nações e empresas negativas em carbono poderiam comprar para compensar suas emissões.

Embora isso seja visto em alguns setores como um plano impraticável, Schalka disse que “não tem dúvidas” de que um sistema de captação e comércio de carbono será implementado mais cedo ou mais tarde como parte das iniciativas internacionais para combater a mudança climática, o que cria uma “enorme oportunidade” para o Brasil. E também para a Suzano, que destaca suas credenciais ecológicas a investidores em todo o mundo.

A empresa planta por dia cerca de 80 mil árvores de eucalipto a mais do que derruba para abastecer suas fábricas de papel e celulose. Um eucalipto pode capturar cerca de 167 kg de carbono até que esteja pronto para ser colhido em sete anos, o que faz da Suzano uma empresa negativa em carbono, de acordo com Schalka.

Embora a Suzano normalmente plante árvores em áreas usadas anteriormente como pastagens, a empresa não monitora o impacto indireto que sua expansão possa ter no desmatamento, uma vez que a criação de gado é deslocada e potencialmente levada a novas fronteiras.

Ainda assim, a Suzano pode aumentar o sequestro de carbono em cerca de 30% na próxima década, para 40 milhões de toneladas por ano – o equivalente a retirar 2,5 milhões de carros das ruas -, principalmente por meio do plantio de árvores para apoiar o crescimento da empresa.

“Queremos monetizar isso para o futuro”, disse Schalka.


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