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ONU denuncia mais de 27 mil violações contra crianças em áreas de conflito no período de 1 ano

Pesquisa mostra que embora metade dos casos sejam cometidos por terroristas, uma grande parte é causada por forças armadas e de segurança de governos.

Menino passa correndo por prédios danificados, em área de guerra. (Foto: © Unicef/Giovanni Diffidenti)

Mais de 27 mil casos de violações contra crianças foram verificados pelas Nações Unidas no último ano. Os dados foram apresentados pela representante especial do secretário-geral da ONU para Crianças e Conflitos Armadas, Virginia Gamba, no Conselho de Segurança nesta quarta-feira.

Além de detalhar alguns crimes cometidos contra crianças e infraestruturas civis, ela destaca a necessidade de justiça e responsabilização, adicionando que embora metade dos casos sejam cometidos por terroristas, uma grande parte é causada por forças armadas e de segurança de governos.

Moçambique avaliado pela primeira vez

Virginia Gamba contou que o relatório abrange 26 situações em cinco regiões do mundo. Etiópia, Moçambique e Ucrânia estão sendo avaliados pela primeira vez. Detalhes sobre Haiti e Níger devem aparecer na edição do próximo ano.

No geral, a ONU verificou que mais de 18 mil crianças sofreram violações graves em 2022. Desse número, 8,6 mil foram mortas ou mutiladas, 7,6 mil foram recrutadas e usadas em combate e 3,9 mil foram sequestradas.

De acordo com Virginia Gamba, essas três violações aumentaram em relação ao mesmo período do ano anterior.

Violência sexual e detenção

Além disso, mais de 1 mil crianças, principalmente meninas, foram estupradas, forçadas ao casamento ou escravidão sexual, ou agredidas sexualmente. A representante da ONU destaca que alguns destes casos levaram a morte das vítimas.

Virginia Gamba contou que algumas vítimas são punidas em vez de receber proteção. No ano passado, 2,5 mil menores foram privados de liberdade por sua “possível associação” com partes em conflito.

Para ela, as crianças detidas são vulnerabilizadas, expostas a mais violações, incluindo tortura e violência sexual e, em alguns casos, foram condenadas à morte.

Escolas sob ataque

O relatório aponta que mais de 1,1 mil escolas e quase 650 hospitais foram atacados em 2022, representando um aumento de 112% em relação ao ano anterior.

Segundo Gamba, metade desses ataques partiu de forças do governo.

Ela destacou que o uso de escolas e hospitais para fins militares também continua sendo uma grande preocupação. Os casos verificados subiram mais de 60% no ano passado, tanto por forças armadas quanto por grupos armados.

Ajuda humanitária

Enquanto isso, os trabalhadores humanitários encontram dificuldades no terreno para chegar às crianças. A ONU verificou mais de 3,9 mil pedidos negados de acesso humanitário para apoiar jovens no ano passado.

O vice-diretor executivo do Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, Omar Abdi, ressaltou no Conselho de Segurança que conflitos prolongados geram mais casos de violações graves, como na República Democrática do Congo, em Israel e nos Territórios Palestinos e na Somália.

Preocupação com o Sudão

Embora a situação o Sudão não esteja no relatório, o Unicef também está preocupado com o impacto da violência para as 21 milhões de crianças do país.

Ele destacou que mais de um milhão de menores foram deslocados pelos combates e a ONU recebeu relatos, que estão sendo verificados, de que centenas de crianças foram mortas e feridas.

Omar Abdi lembrou que o trabalho da ONU e parceiros contribuíram para libertar pelo menos 180 mil menores de grupos armados nos últimos 23 anos.

No entanto, ele lamentou a falta de progresso do Conselho de Segurança em adotar as conclusões do relatório do secretário-geral e lembrou que à medida que o número de países na agenda de crianças e conflitos armados cresce, também aumenta o número de jovens que precisam de proteção e apoio.


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