Brasil
MPF questiona governo sobre objetivo de visita a indígenas isolados no Amazonas
Missionárias de organização cristã próxima à Damares foram inseridas na equipe; Sesai diz que elas atuarão como intérpretes
O Ministério Público Federal no Amazonas (MPF-AM) pediu à Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), do Ministério da Saúde, explicações sobre a visita que o governo federal realizará, de amanhã (12) até 22 de fevereiro, ao território dos indígenas suruwahás. De acordo com a BBC Brasil, duas indígenas de uma organização missionária cristã próxima à ministra Damares Alves compõem a equipe, o que levantou o questionamento sobre um possível caráter religioso da iniciativa
Segundo a matéria, o governo alega que a viagem busca sanar uma crise de saúde mental, marcada pelo suicídio, em 2019, de cinco indígenas da etnia isolada, localizada no Amazonas, que tem, atualmente, menos de 200 integrantes.
A Sesai diz que as indígenas Muwaji e Inikiru Suruwahá trabalhão como intérpretes na viagem. Elas são ligadas à entidade Jovens com uma Missão (Jocum), que, de acordo com o Ministério Público Federal, já foi expulsa do território suruwahá por “atividades proselitistas e discriminatórias”.
Na semana passada, o Ministério Público Federal no Amazonas enviou um ofício à Sesai pedindo explicações sobre as medidas adotadas para impedir a prática de proselitismo religioso na visita. O procurador José Júlio Araújo Júnior, que coordena o Grupo de Trabalho do MPF sobre Povos Indígenas e Regime Militar, diz que o caso ilustra uma “etapa avançada da tentativa de colocar o Estado a serviço de interesses de missões religiosas”.
A psicanalista Vera Iaconelli, doutora em Psicologia pela Universidade de São Paulo (USP), disse à BBC que o suicídio tem sentidos diferentes dependendo da cultura e que a psicanálise parte do pressuposto de que “todo sujeito tem um direito inalienável de acabar com a própria vida”.
A viagem é uma iniciativa do ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, chefiado por Damares, e da Sesai.
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