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Brasil

Economistas liberais devem participar da transição de governo

O presidente eleito já deixou claro que precisará de nomes fora de seu partido para tratar do desenvolvimento econômico.

Coordenadores da campanha e aliados de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) estimam uma participação ativa de economistas liberais na transição de governo e mesmo na Esplanada dos Ministérios. Nas articulações da reta final do segundo turno, Lula enfatizou que seu governo não será gerido apenas pelo PT. Ainda sem apontar os nomes que comandarão pastas importantes, como a Fazenda ou o Planejamento, o presidente eleito já deixou claro que precisará de nomes fora de seu partido para tratar do desenvolvimento econômico.

“A presença de pessoas com know-how, experiência de dirigir Banco Central, Ministério da Fazenda, da Economia, Planejamento, ela nos dá uma segurança de que não vai ser uma coisa da cabeça de um iluminado. Ela vai ser fruto de um amplo diálogo com um conjunto de pessoas. O Brasil é um paciente que está na UTI. E não é um médico só que vai cuidar dos vários problemas”, argumenta o senador eleito pelo Piauí e coordenador da campanha de Lula, Wellington Dias (PT-PI).

O senador eleito diz que a união de diferentes pontos de vistas será importante já na transição. Inclusive com a participação de economistas liberais que hoje apoiam a campanha.

Não por acaso, na última segunda-feira, em um ato pela democracia no teatro da PUC-São Paulo, Henrique Meirelles e Persio Arida, estavam no palco do evento junto com Lula, enquanto Aloisio Mercadante, economista do PT e coordenador do programa de governo da campanha, estava na plateia. Além de fazer o aceno ao eleitor moderado, o agora presidente eleito tem discursado sobre a necessidade de fazer um governo de reconstrução que reúna líderes com divergências programáticas em relação ao PT em nome da governabilidade.

Henrique Meirelles disse que técnicos com inclinação liberal devem participar dos debates e dialogar com integrantes do governo Lula. Ele ressalta que reservou 100% do seu tempo para ajudar a campanha de Lula na reta final e dialogar com agentes do mercado sobre as perspectivas pós eleição. O ex-presidente do Banco Central se reuniu com empresários e a pergunta que mais ouviu — independente da escolha política do interlocutor — é como será 2023 com Lula no comando do Planalto.

“Deve haver algo nessa linha (de participação de liberais), é consistente com o que Lula fez no seu período em que foi presidente. Ele não adotou uma linha radical. Foi muito pragmático e foi a razão pela qual o governo dele deu certo. Minha expectativa é nessa direção”, declarou.

O deputado Alexandre Padilha (PT-SP), que tem participado de conversas com economistas e agentes do mercado, ressalta que esse ambiente de diálogo amplo começou no início do ano, culminando com a declaração de apoio de vários liberais no segundo turno.

“O presidente Lula já mostrou, no seu primeiro governo, como fazer um governo amplo, com representantes de várias visões, inclusive sobre economia. Ele acredita que o Brasil só vai reerguer a economia brasileira, dar segurança, previsibilidade, planejamento econômico, estimular ao máximo todos os atores econômicos, se criarmos um ambiente de diálogo e interação entre visões diferentes sobre economia”, disse.

Aliados de Lula têm comparado o momento atual à eleição de 2002, quando o petista foi eleito para o seu primeiro mandato. Naquela ocasião, o ex-presidente escolheu uma equipe que blindou o tripé macroeconômico, formado por câmbio flutuante, metas de inflação e metas fiscais. Assim, garantiu estabilidade e propiciou o crescimento.

Os petistas sabem que algumas escolhas do segundo mandato de Lula e a Nova Matriz Econômica de Dilma Rousseff são alvo de críticas dos economistas que hoje se apresentam para colaborar.

Para o senador eleito e possível integrante do governo Lula, Flávio Dino (PSB-MA), o arranjo será parecido com o de 20 anos atrás.

“A gente já viveu isso em 2003. O arranjo era similar. Você tinha uma equipe que era comprometida, em larga medida, com o tripé macroeconômico, já no comecinho do governo Lula. E lá estava o próprio Meirelles como presidente do Banco Central. Então, essa junção é plenamente possível, na medida em que haja o vértice. O vértice é o presidente da República. O Lula sempre soube e vai, mais uma vez, saber fazer o tempero entre os nossos compromissos sociais, que são indeclináveis, e a busca progressiva pelo ajuste fiscal”, analisa Dino.

Ao afirmar que não pretende buscar um segundo mandato, aliados veem no gesto de Lula um movimento para distensionar o ambiente político, imprimir uma gestão com mais espaço para diálogo e liberdade para tomar medidas duras — até mesmo que custem capital político do petista.

A três dias do pleito, Lula divulgou uma carta com propostas onde se compromete em “combinar responsabilidade fiscal, responsabilidade social e desenvolvimento sustentável”, sem detalhar como fará isso.

Resistências

Apesar do clima de otimismo e de abertura a liberais, o assunto não é tratado de forma pacífica por parte dos aliados. Em suas diretrizes de governo, a equipe de Lula desenhou um programa com forte papel do Estado na indução do desenvolvimento econômico.

Em entrevista recente ao GLOBO, o deputado Rui Falcão (PT-SP), um dos coordenadores da campanha, manifestou a insatisfação em relação a cobranças sobre o plano de governo. Durante a campanha, Lula não deixou claro como vai desatar o nó fiscal e, ao mesmo tempo, abrir espaço para mais investimentos. “O que se cobra do presidente Lula e da nossa campanha é que a gente assuma um programa que não é o nosso”, disse o parlamentar.

No início do mês, em entrevista ao Roda Viva, da TV Cultura, Guilherme Boulos (PSOL-SP) foi enfático ao dizer que Lula não seria eleito para seguir a cartilha liberal. Segundo o deputado federal mais votado de São Paulo, com mais de um milhão de votos, o vice da chapa, Geraldo Alckmin (PSB), só teria sido escolhido para ampliar a frente democrática anti-Bolsonaro. Mas não para contribuir liderar a agenda econômica. Na entrevista, ainda sobraram críticas a Meirelles. “As posições econômicas que Meirelles defende são contrárias às posições que estão no plano de governo”, disse Boulos.


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