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Aumento do desmatamento da Amazônia gerou prejuízo de R$ 1,18 trilhão para o mundo, aponta estudo de pesquisador da FGV

Estudo inédito de economista da FGV quantifica os danos futuros na saúde da população mundial e nas cidades.

O economista Bráulio Borges, pesquisador da Fundação Getulio Vargas (FGV) e da LCA Consultores, calculou o prejuízo causado pelo aumento do desmatamento da Amazônia nos últimos anos. De acordo com o estudo, informou o jornal O Globo, de 2019 a 2022 “o forte aumento dos desmatamentos e emissões de gases de efeito estufa (frente a 2018) gerou um prejuízo econômico para o mundo de R$ 1,18 trilhão”.

Isso, explica, corresponde a US$ 229 bilhões, ou 12,3% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro deste ano.

Dois fatores são considerados pelo economista: as queimadas que aumentam a emissão dos gases do efeito estufa e a redução da floresta que absorve carbono. O estudo estima que, este ano, teremos a maior área desmatada desde 2005.

De 2019 a 2022, o total destruído da floresta amazônica deverá chegar a 49 mil quilômetros quadrados, um acréscimo de 72% frente ao período anterior, entre 2015 e 2018, e de 125% na comparação aos anos entre 2011 e 2014.

Na terça-feira, o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) mostrou que a área de floresta derrubada na Amazônia Legal atingiu 9.069 quilômetros quadrados entre janeiro e setembro deste ano. Segundo o Imazon, é a maior devastação em 15 anos.

O cálculo feito por Borges leva em conta os efeitos danosos para a saúde da população e para as cidades — com aumento dos extremos climáticos que já começam a acontecer com mais regularidade, como secas e enchentes —, além das consequências do aumento de temperatura do planeta, sintetizados no custo social do carbono.

É um método usado internacionalmente para estimar os prejuízos econômicos do desmatamento e das queimadas. ” Há um custo econômico com o meio ambiente deteriorado, um prejuízo ao longo dos próximos anos e décadas. Ao sintetizar o número dessa perda, é possível orientar melhor as políticas públicas nessa área”, explica Borges.

O economista de meio ambiente Sergio Margulis, pesquisador sênior associado à consultoria de sustentabilidade WayCarbon, afirma que “o argumento de que é preciso algum desmatamento para expandir a fronteira agrícola não se sustenta”: “É uma balela em todas as dimensões, inclusive econômica. Em várias séries históricas, o pico do desmatamento coincide com a contração da economia, e o controle do desmatamento, com o crescimento do PIB”.

De acordo com Borges, “num mundo ideal, a floresta absorve mais carbono do que joga na atmosfera”. Mas, com o aumento do desmatamento e das queimadas, essa situação mudou:”É uma visão atrasada achar que preservar o meio ambiente é um entrave econômico. Há meios de conciliar o desenvolvimento econômico e social com preservação. Por isso, é importante valorar essas emissões”, afirma Borges.

Borges também calculou o ganho acumulado com a queda no desmatamento entre 2003 e 2011, que reduziu as emissões líquidas. O ganho financeiro foi de R$ 2,6 trilhões.

Clarissa Gandour, coordenadora de Avaliação de Políticas Públicas de Conservação no Climate Policy Initiative/PUC-Rio, diz que o Brasil já foi líder na discussão sobre meio ambiente, mas “virou um pária nesse sentido”.

Ela lembra que o Brasil já conseguiu diminuir substancialmente o desmatamento, que caiu de 27 mil quilômetros quadrados em 2004 para cerca de 4 mil quilômetros quadrados em 2012. Para isso, o Brasil atuou com uma atuação interministerial, apertou a fiscalização e implantou o monitoramento por satélites, ressalta ela.

“Em anos recentes, houve um enfraquecimento desses esforços. O monitoramento continua funcionando bem, mas limitou-se a capacidade de resposta do controle ambiental. Isso é muito grave. Enquanto houve uma escalada do desmatamento, teve queda muito expressiva no número de autuações e embargos, que são um termômetro do que está acontecendo”, afirma Clarissa.

Ela explica que a fiscalização foi o principal motivo para queda do desmatamento. A “inação da fiscalização diminui o custo do desmatamento ilegal”, diz: “Quando vemos essa queda nas autuações, na prática, joga-se o custo do desmatamento para zero, sinalizando que está liberado.
Margulis acrescenta que houve ainda uma política deliberada, com mudança nas definições da lei, bem como na sua aplicação e nos cortes no orçamento do setor”, diz.

“Estamos falando de algo que sabemos fazer. Mas a dinâmica do desmatamento atual traz novos desafios, como o combate ao crime organizado, o que afasta quem quer atuar na região, que está tomada pela criminalidade. Isso precisa fazer parte da nova estratégia de proteção florestal”, afirma Clarissa.


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