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Amazonas

Pandemia: pobreza no Amazonas sobe de 46,7% para 49,7%, diz estudo da FGV/Ibre

No Amazonas, a parcela de população pobre subiu de 46,7% em 2019 para 49,7% em 2021. Estado tem 622 mil pessoas no Mapa da Fome.

Estudo do economista Daniel Duque, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ibre), mostra que o percentual da população pobre aumentou em 24 das 27 unidades da federação brasileira entre o primeiro trimestre de 2019 e janeiro de 2021.

No Amazonas, a parcela de população pobre subiu de 46,7% em 2019 para 49,7% em 2021.

Os três únicos Estados que não tiveram expansão da pobreza tinham participação acima de 30% dos pobres na população geral: Acre (46,4%), Pará (45,9%) e Tocantins (35,7%). Como referência, a fatia de população pobre na média do Brasil como um todo passou de 25,2% no primeiro trimestre de 2019 para 29,5% em janeiro de 2021.

Ainda que com alguma expectativa de melhora para os dados mais recentes, por causa da retomada do pagamento do auxílio emergencial a partir de abril e de início de reação do mercado de trabalho informal, a expectativa entre economistas é de que os níveis de pobreza se mantenham acima do verificado antes da covid-19.

Em São Paulo, por exemplo, a parcela de população pobre subiu de 13,8% em 2019 para 19,7% em 2021. No Rio de Janeiro, ultrapassou um quinto da população, passando de 16,9% para 23,8%.

Os cálculos foram feitos a partir de dados de renda da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua e da Pnad Covid 19, do IBGE. Além disso, consideram a classificação de pobreza do Banco Mundial, de renda per capita de até US$ 5,50 por dia, ou cerca de R$ 450 por mês, considerando a taxa de câmbio pela paridade do poder de compra.

O trabalho mostra ainda que ocorreu expansão da parcela da população em pobreza extrema em 18 das 27 unidades da federação, considerando renda per capita de US$ 1,90 por dia (cerca de R$ 160 por mês, também pela paridade do poder de compra). No Brasil, a fatia dos brasileiros em pobreza extrema passou de 6,1% no primeiro trimestre de 2019 para 9,6% em janeiro de 2021.

“A pobreza aumentou na maioria dos Estados e teve altas bastante elevadas em grandes centros urbanos, no Sudeste e no Nordeste. As economias dos centros urbanos são muito focadas em serviços, como alimentação, alojamento e entretenimento, que foram mais atingidos pelas características desta crise”, explica Duque.

Desde o início da pandemia, a dinâmica da pobreza está muito ligada à distribuição ou não de auxílio emergencial em cada período e qual o valor desse auxílio. Nos meses iniciais de pagamento do benefício, houve queda mais intensa da pobreza, já que os valores eram de R$ 600, mas chegavam a R$ 1.200 em alguns casos. No último trimestre de 2020, o valor do auxílio foi reduzido e depois não houve pagamento entre os meses de janeiro e março. A ajuda só foi retomada em abril e terá ao todo sete parcelas em 2021.

Os dados do estudo sobre pobreza regional são influenciados, portanto, por esta situação, já que se referem ao mês de janeiro, quando o auxílio estava suspenso. Economistas apontam, no entanto, que ainda que os números mais recentes possam mostrar alguma melhora devido à retomada do pagamento em abril, os valores são muito menores — entre R$ 150 e R$ 375, com grande parcela do público na faixa mais baixa.

A tendência, indicam, é que a pobreza e a pobreza extrema no país permaneçam em níveis mais elevados que os observados antes da pandemia. “A gente ainda deve ter alguma melhora da pobreza, tem o auxílio de R$ 150 e depois algum efeito de Auxílio Brasil e também de uma reação do mercado informal. Mas tudo leva a crer que ela vai se estabilizar numa situação pior que antes da pandemia”, diz Daniel Duque.

Ele cita a influência negativa de dois fatores: o mercado de trabalho fragilizado e a inflação. “O mercado de trabalho segue fragilizado e a inflação também tem contribuído para puxar os rendimentos para baixo. Mesmo com perspectiva de aumento do Auxílio Brasil, a renda é afetada pela inflação, especialmente dos alimentos, que têm peso maior no orçamento dos mais pobres”, complementa Duque.

Professor do Departamento de Economia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Cláudio César de Paiva concorda: “A pobreza cresceu muito e a saída será lenta. Os efeitos sociais da pandemia são muito expressivos e serão duradouros. Mesmo que ocorra alguma melhora, a pobreza ainda deve ficar acima do pré-pandemia”, diz ele, lembrando que as projeções para a expansão do PIB brasileiro vêm sendo revistas para baixo.

Na sua avaliação, o estudo corrobora indicações observadas em outros trabalhos, como o aumento da população em insegurança alimentar, pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), embora considere a mesma linha de pobreza para diferentes Estados, quando há diferenças no custo de vida.

“Uma pessoa com R$ 400 de renda é pobre no Rio de Janeiro, mas não necessariamente é no Maranhão. Mas o fato é que a pesquisa traz resultados importantes”, ressalta.

No caso de São Paulo, por exemplo, Paiva afirma que esse aumento da pobreza tem sido observado em diferentes municípios do Estado. Cidades com economia dinâmica, como Ribeirão Preto, Araraquara e São Carlos, diz ele, viram crescer a população em situação de rua. “A pobreza atinge todo o território nacional e é preciso uma ação articulada entre União, estados e municípios”, defende o professor da Unesp.


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