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Brasil

Policiais negros são os que mais morrem, mesmo fora do trabalho e sendo minoria no efetivo

Em 2020, o número de agentes de segurança mortos no país chegou a 194 — 22% a mais do que os vitimados em 2019. Desse total, 155 são policiais militares.

A maioria dos agentes mortos estava fora de serviço quando foram assassinados.(Foto: Reprodução/Notisul)

A desigualdade racial nas corporações faz com que os policiais negros sejam as maiores vítimas de violência entre os agentes de segurança pública, segundo dados do Anuário de Segurança Pública, publicação anual elaborada pelo FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública). Em 2020, o número de agentes de segurança mortos no país chegou a 194 — 22% a mais do que os vitimados em 2019. Desse total, 155 são policiais militares. O índice ainda revela que a maioria dos mortos (131) estava fora de serviço quando foram assassinados.

Apesar de a maioria dos policiais brasileiros serem brancos, são os agentes negros os que mais morrem em serviço e de folga no país.

Imagem: Editoria de Arte/UOL

Os brancos —que são 56,8% do efetivo das polícias— foram vítimas de 34,5% dos homicídios. Já os negros são 42% do contingente de policiais, mas sofrem 62,7% de todos os assassinatos.

Desigualdade racial nos cargos policiais

Segundo a pesquisadora Samira Bueno, diretora executiva do FBSP e uma das responsáveis pela publicação, a explicação para a maior letalidade entre policiais negros está na desigualdade racial na ocupação de cargos nas polícias.

Enquanto postos no topo da hierarquia —como delegados das polícias Civil e Federal e oficiais da PM— são ocupados quase que exclusivamente por brancos, os negros são relegados a funções de nível inferior —caso dos praças na PM e dos agentes da Polícia Civil e da PF. “Se a gente for olhar para as instituições policiais, elas são a reprodução das estruturas do país. Ainda que os policiais negros sejam minoria no efetivo, eles ocupam os cargos com maiores riscos e têm os piores salários”, informa Samira Bueno, diretora executiva do FBSP.

Samira cita o fato de que os salários dos policiais de cargos mais baixos estimulam a prática dos chamados bicos —quando os agentes prestam serviços de segurança privada em suas folgas para comerciantes e empresários. A função é de risco elevado e frequentemente está associada a mortes de policiais em dias de folga.

Covid-19 afetou 130 mil policiais

Além do risco de morrer vitimados pela violência, os policiais tiveram que lidar em 2020 com o risco de serem contaminados pela covid-19. Profissionais essenciais com papel relevante no enfrentamento à pandemia, eles estiveram expostos e afirmam não terem sido treinados adequadamente para cuidarem da própria segurança em relação ao vírus.

Segundo números levantados pelo Anuário da Segurança, 130.946 policiais civis e militares tiveram que ser afastados do serviço por conta do novo coronavírus. Ao menos 472 morreram por conta de complicações da doença. A pesquisa aponta ainda que 71,5% dos policiais, bombeiros militares, guardas municipais e agentes penitenciários ouvidos afirmaram não terem recebido treinamento para lidar com o novo coronavírus.

Para ver o Anuário completo, acesse.


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