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Polícia prende haitiano que vive nos EUA e contratou colombianos que mataram o presidente

Diretor-geral da polícia haitiana diz que Charles Emmanuel Sanon contratou parte do grupo para fazer a sua segurança e que mercenários ligaram para ele antes de serem detidos na quarta.

O chefe da Polícia Nacional do Haiti, Leon Charles, fala durante uma entrevista coletiva sobre o assassinato do presidente do país, Jovenel Moise, em em 11 de julho de 2021. (Foto: Ricardo Arduengo/Reuters)

A polícia do Haiti anunciou no domingo (11) a prisão de um cidadão haitiano que vive nos Estados Unidos e contratou parte dos colombianos suspeitos de assassinar o presidente do país, Jovenel Moise. A informação é do G1.

O diretor-geral da Polícia Nacional, Léon Charles, afirmou que Charles Emmanuel Sanon, de 63 anos, “entrou no Haiti a bordo de um avião particular com objetivos políticos” (veja no vídeo abaixo).

Nas redes sociais, Sanon se diz médico e já publicou vídeos e mensagens em que fala sobre a política no Haiti há cerca de dez anos.

Charles diz que Sanon chegou ao Haiti em junho, acompanhado de colombianos contratados para fazer a sua segurança, mas “depois a missão foi alterada”. “A missão era deter o presidente da República, e daí se montou a operação”.

Os colombianos foram contratados por meio de uma empresa de segurança venezuelana chamada CTU, que tem sede na Flórida, e a polícia chegou a Sanon após interrogar os detidos. Segundo Charles, os suspeitos de matar o presidente ligaram para Sanon quando foram cercados.

“Quando nós, a polícia, bloqueamos o avanço desses bandidos depois de terem cometido seu crime, a primeira pessoa para quem um dos agressores ligou foi Charles Emmanuel Sanon”.

O chefe da polícia disse que, na sequência, Sanon “entrou em contato com outras duas pessoas que consideramos autores intelectuais do assassinato do presidente Jovenel Moise”. A identidade destes dois suspeitos não foi revelada.

Charles disse ainda que os policiais encontraram na casa de Sanon no Haiti um chapéu com o logotipo da agência antidrogas dos Estados Unidos, 20 caixas de balas, peças de armas, quatro placas de automóveis da República Dominicana, dois carros e correspondências com pessoas não identificadas.

Militares colombianos envolvidos

A polícia haitiana divulgou na quinta-feira (8), antes de chegar a Sanon, que ao menos 28 pessoas participaram do crime: 26 colombianos e dois americanos de origem haitiana (veja no vídeo abaixo).

No mesmo dia, o governo da Colômbia anunciou que parte dos suspeitos é militar da reserva e enviou o chefe do diretório nacional de inteligência e o diretor de inteligência da Polícia Nacional do país para o Haiti, para ajudar nas investigações.

A polícia haitiana já prendeu 18 colombianos e 3 haitianos americanos (incluindo Sanon), segundo o diretor-geral. Cinco colombianos ainda estão foragidos e três foram mortos.

Já o governo de Taiwan revelou na sexta-feira (9) que 11 homens armados invadiram sua embaixada em Porto Príncipe após a morte e autorizou a polícia haitiana a entrar no local e prender os suspeitos.

“A pedido do governo haitiano — e para ajudar na detenção dos suspeitos —, a embaixada deu permissão à polícia haitiana para entrar no perímetro da embaixada”, afirmou a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores de Taiwan, Joanne Ou.

Metralhadoras, celulares e passaportes apreendidos com os suspeitos de assassinar o presidente do Haiti, Jovenel Moise, são mostrados à imprensa em Porto Príncipe em 8 de julho de 2021 — Foto: Estailove St-Val/Reuters

Membros do governo americano chegaram ao Haiti no domingo (11) para ajudar nas investigações e se reuniram com o diretor-geral da Polícia Nacional. São funcionários do FBI (a Polícia Federal dos EUA) e dos departamentos de Estado, de Justiça e de Segurança Interna.

A delegação americana também teve reuniões em separado com os principais atores políticos locais, como o primeiro-ministro interino do país, Claude Joseph, e o presidente do Senado, Joseph Lambert.

Vácuo de poder

País mais pobre das Américas, o Haiti vive uma grave crise política, econômica e social, com aumento da violência e da pobreza e piora da pandemia. E há controvérsias sobre quem deve comandar o país após a morte de Moise.

O primeiro-ministro interino, Claude Joseph, chegou a assumir, também interinamente, a presidência. No mesmo dia, ele decretou estado de sítio por 15 dias.

O então presidente do Haiti, Jovenel Moise (ao centro), ao lado da primeira-dama, Martine Moise, e o primeiro-ministro interino do país, Claude Joseph (à direita), em 18 de maio de 2021 — Foto: Joseph Odelyn/AP

Mas, pela Constituição haitiana, Joseph não poderia assumir o cargo por ocupar o cargo interinamente e o presidente da Suprema Corte do país estaria na linha sucessória. Só que René Sylvestre morreu de Covid-19 há menos de um mês e ainda não foi substituído.

O médico Ariel Henry já havia sido anunciado como sucessor de Joseph, mas ainda não tinha tomado posse formalmente. Ele também chegou a reivindicar que deveria assumir a presidência.

Henry afirmou ao jornal haitiano “Le Nouvelliste” que não considerava Joseph o primeiro-ministro legítimo. “Acho que precisamos conversar. Claude deveria permanecer no governo que eu teria”.

Na sexta (9), o presidente do Senado, Joseph Lambert, foi declarado presidente interino do Haiti pelo Senado. “Eu me reuni com a delegação americana e, juntos, valorizamos a resolução do Senado que me elegeu presidente interino da República”, afirmou Lambert.

Presidente assassinado

Inúmeras perguntas sem respostas permanecem cinco dias após o assassinato de Moise, que foi morto a tiros em sua casa, durante a madrugada da quarta-feira (7). A primeira-dama, Martine Moise, foi baleada e hospitalizada.

Gravemente ferida, Martine foi transferida para Miami, nos Estados Unidos, onde segue internada. Os três filhos do casal, Jomarlie, Jovenel Jr. e Joverlein, estão em um “local seguro”, segundo as autoridades.

Moise levou 12 tiros e foi encontrado no chão, de costas, e coberto de sangue. O escritório e o quarto do presidente foram saqueados. Ainda não se sabe quem foi o mandante nem o motivação do crime.

O presidente foi eleito com 600 mil votos em um país com 11,3 milhões de habitantes. Pouco conhecido antes das eleições, ele conseguiu vencer com o apoio do ex-presidente Michel Martelly.

Desde que assumiu o cargo, em 2017, Moise enfrentava protestos contra seu governo —primeiro por alegações de corrupção e por sua gestão da economia, depois por seu crescente controle do poder.

Ele tinha dissolvido o Parlamento e governava por decreto há mais de um ano, após o país não conseguir realizar eleições legislativas, e queria promover uma polêmica reforma constitucional.

Em fevereiro, autoridades do país disseram ter frustrado uma “tentativa de golpe” de Estado contra o presidente, que também seria alvo de um atentado malsucedido.

Pobreza extrema

O Haiti é a nação mais pobre das Américas e tem um longo histórico de ditaduras e golpes de Estado. Nos últimos meses, enfrentava uma crescente crise política e humanitária, com escassez de alimentos e violência nas ruas.

O PIB per capita do país é de US$ 1,6 mil por ano (cerca de R$ 8,5 mil), e cerca de 60% da população vive com menos de US$ 2 por dia (pouco mais de R$ 10).

O Haiti tem 11,3 milhões de habitantes, faz fronteira com a República Dominicana na ilha Hispaniola, no Caribe, e tem um dos menores IDHs (Índice de Desenvolvimento Humano) do mundo: 0,51.

Colonizado em 1492, após a chegada de Cristóvão Colombo à América, o Haiti foi o primeiro país do continente a conquistar a sua independência e a primeira república a ser liderada por negros, quando derrubou o domínio francês no começo do século XIX.

O país já foi invadido e sofreu intervenção dos EUA no século XX e tem um longo histórico de ditadores, como François “Papa Doc” Duvalier e seu filho, Jean-Claude “Baby Doc”. A primeira eleição livre do país ocorreu em 1990, mas Jean-Bertrand Aristide foi deposto por um golpe no ano seguinte.


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