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CPI: Witzel se defende de impeachment, duela com Flávio e se diz perseguido

Quando começou a ser mais questionado sobre os supostos casos de corrupção no Rio de Janeiro na pandemia, Witzel disse que iria se retirar com base na permissão do habeas corpus.

Ex-governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, em depoimento à CPI. (Foto:Agência Senado)

Em depoimento hoje à CPI da Covid, o ex-governador do Rio Wilson Witzel se defendeu das acusações pelas quais teve o mandato cassado e, durante a reunião, trocou farpas com o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e seu ex-aliado.

Em relação à pandemia da covid-19, o ex-governador disse à comissão que o governo federal deixou governadores e prefeitos “desamparados”. Segundo ele, houve atraso na destinação de recursos do Ministério da Saúde, que teriam chegado “em cima do laço”.

Witzel compareceu à comissão na condição de testemunha convocada. Inicialmente, ele optou por não fazer uso do direito a habeas corpus deferido ontem (15) pelo ministro Kassio Nunes Marques, do STF (Supremo Tribunal Federal). No entanto, por volta das 14h10, quando começou a ser mais questionado sobre os supostos casos de corrupção no Rio de Janeiro na pandemia, Witzel disse que iria se retirar com base na permissão do habeas corpus.

O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), disse que não poderia fazer nada para impedir sua saída e, assim, encerrou a sessão.

“Não contribuiu em nada”, reclamou o senador governista Jorginho Mello (PL-SC), após agradecimento e despedida de Witzel. A decisão da Corte autorizava o depoente a se ausentar, sob argumento de que ele teria o direito de “não produzir provas contra si mesmo”, pois já é investigado pelo MPF-RJ (Ministério Público Federal do Rio).

O vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), informou que solicitou novo depoimento de Witzel. “Acreditamos que o ex-governador ainda tem muito a falar e não podemos deixar o relatório da CPI ser atingido por interferência e intimidações externas.”

Witzel disse ter um “fato gravíssimo a revelar” relacionado a possíveis intervenções do governo federal em sua administração, mas só poderia dizê-lo em uma sessão em segredo de Justiça.

Tese de perseguição

Por mais de uma vez no decorrer da oitiva, o ex-chefe do Executivo fluminense declarou que se considera um “perseguido” político e, sem provas, vinculou o impeachment aprovado no RJ em 30 de abril de 2021 às investigações do caso Marielle.

“A partir [das investigações] do caso Marielle é que eu percebi que o governo federal começou a me retaliar. Após esse evento, não fui mais recebido no Planalto, tinha dificuldade de falar com os ministros. Encontrei Paulo Guedes no avião e ele virou a cara e saiu correndo ‘não posso falar com você’. Fiquei em situação de vulnerabilidade por uma perseguição política”, disse.

Sem base em fatos apurados pelas instituições competentes, Witzel sustentou a tese de que ele deu autonomia às forças policiais durante a apuração do caso Marielle e que tal fato teria motivado uma vingança por parte de oponentes políticos —ele não fez menção direta a eventuais adversários, mas inseriu a família Bolsonaro dentro desse contexto.

Durante o embate com Flávio, Witzel citou o episódio do depoimento de um dos porteiros do condomínio Vivendas da Barra, na Barra da Tijuca, na zona oeste carioca, a residência de Jair Bolsonaro antes da vitória na eleição de 2018.

À Polícia Civil fluminense, o porteiro afirmou em 2019 que alguém “com a voz” do então deputado federal teria autorizado um dos suspeitos de matar Marielle a ingressar no condomínio para uma visita. Posteriormente, laudo pericial apontou que a suposta voz não era de Bolsonaro.

Flávio rebateu as alegações de Witzel e o acusou de usar o espaço de fala na CPI para se debruçar sobre fatos sem conexão com o objeto de investigação, isto é, com a pandemia da covid-19. Após provocações por parte do congressista, o depoente retrucou e o chamou de “mimado”. “Se o senhor fosse um pouquinho mais educado e menos mimado, o senhor teria respeito pelo que eu estou falando. O senhor me respeite”.

Os conflitos continuaram depois de questionamentos formulados pelo relator da comissão, Renan Calheiros (MDB-AL). O emedebista verbalizou declarações antigas de Witzel com referências a Flávio e ao caso da “rachadinha”, episódio em que o filho do presidente é investigado, no Rio, por um suposto esquema de corrupção praticado durante o período em que ele era deputado estadual.

Além de se referir ao caso Marielle como suposto motivo pelo qual teria sido “perseguido”, o ex-governador apontou outra razão para a mesma finalidade: os planos de concorrer à Presidência da República em 2022. Na versão dele, a intenção de disputar a corrida presidencial contra Bolsonaro no ano que vem teria levado o Palácio do Planalto a “retaliar” o governo fluminense.

Em um dos atos em prejuízo ao estado, supostamente por motivação política, o Ministério da Justiça e Segurança Pública teria ordenado o retorno de um delegado federal que estava baseado no Rio de Janeiro. O depoente mencionou uma reunião da qual teria participado com o então ministro Sergio Moro. “Sou convidado por Moro a conversar, achei estranho porque ele não quis tirar foto comigo, anunciar o meu nome e disse que não poderia estar dando publicidade à minha presença no Ministério da Justiça”, relatou Witzel. “Quando eu cheguei lá o ministro Moro disse pra mim o seguinte: ‘Witzel, o chefe falou para você deixar de falar que quer ser presidente e, se não parar, infelizmente, não vamos poder te atender em nada’. É ou não é uma clara intervenção indevida ao estado?”, disse Witzel.

Atraso em repasses para a pandemia Segundo Witzel, as verbas federais destinadas a custear ações de enfrentamento à pandemia “vieram em cima do laço” —isto é, quase no limite do que seria um prazo aceitável. O ex-governador relatou que, em face do atraso para a injeção de recursos do Ministério da Saúde, o Executivo estadual chegou a cogitar a possibilidade de sugerir cortes nos salários do funcionalismo público.

“Demorou o auxílio emergencial, demorou os recursos que foram encaminhados para completar o orçamento dos estados. Nós tínhamos até imaginado a possibilidade de redução do salário de servidores para poder fazer frente ao controle da pandemia”, disse. “Os recursos vieram, em cima do laço, e conseguimos dar continuidade, mas até lá tivemos dificuldade”, emendou. Witzel também declarou que o dinheiro repassado a estados e municípios não foi suficiente.

Afirmou ainda ter manifestado incômodo com a demora para aprovação do auxílio emergencial (socorro financeiro criado durante a pandemia para suprir queda abrupta de renda à população mais pobre).

“Você pede para que fiquem em casa porque é necessário e a população não tem uma resposta do auxílio na mesma agilidade que as medidas de combate a pandemia eram acionadas. Evidentemente você tem dificuldade de conduzir a pandemia”, disse. Witzel disse que, se ainda fosse governador, ia ser contra “motociatas” e passeatas em meio à pandemia, em referência aos eventos que o Bolsonaro tem estimulado e participado, inclusive no Rio.

Governadores ficaram ‘desamparados’

Witzel relatou que, de acordo com o seu entendimento, prefeitos e governadores ficaram “desamparados” e sem canal de diálogo com a União durante a pandemia do novo coronavírus. Na versão do depoente, o chefe do Executivo federal “politizou” a pandemia e criou “narrativas” de enfrentamento aos governos locais por divergências em relação a temas como o isolamento social.

“Os governadores, prefeitos de grandes capitais e de pequenas cidades, ficaram totalmente desamparados do apoio do governo federal. É uma realidade inequívoca que está documentada em várias cartas que nós encaminhamos ao presidente”, disse Witzel. “Fizemos várias reuniões suplicando ao presidente da República que nos atendesse, que pudéssemos conversar para encontrar soluções em conjunto, soluções que outros países encontraram.”

Impeachment

A cassação do mandato de Witzel foi confirmada por um tribunal especial misto (formado por deputado estaduais do Rio e desembargadores) em 30 de abril deste ano. Ele foi condenado, por unanimidade, pelo crime de responsabilidade após denúncias de corrupção durante a pandemia. Witzel nega ter cometido irregularidades.

“Vou continuar fazendo o meu trabalho e, pra decepção de muitos, vou continuar na política e não vão me impedir de ajudar a reconstruir este país e evitar que pessoas se aproveitem da boa vontade daqueles que estão acreditando numa lorota de que nós estamos numa democracia”, declarou.

Na CPI da Covid, senadores esperavam ouvir de Witzel detalhes sobre a destinação e aplicação de verbas federais para custeio de ações de enfrentamento à covid-19. Esse é um dos pontos de interesse da comissão, sobretudo da ala formada por congressistas aliados ao governo do presidente Jair Bolsonaro.

Com a pressão para ampliar o escopo da investigação e abranger governadores e prefeitos, os parlamentares da “tropa de choque bolsonarista” tentam amortecer o impacto do foco nas ações e eventuais omissões do Ministério da Saúde no decorrer da crise sanitária, que perdura desde o período entre fevereiro e março de 2020.

As informações são do UOL.


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