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Amazonas

O Globo: Auxiliar de Pazuello e Queiroga confirma ao MPF que planejou ida a Manaus para difundir cloroquina

Mayra Pinheiro organizou ação na capital amazonense dias antes de colapso na Saúde.

Conhecida como “Capitã Cloroquina”, a secretária de Gestão do Trabalho do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, confirmou, em depoimento obtido com exclusividade pelo jornal O Globo, que ela foi a responsável pelo planejamento de uma comitiva de médicos que difundiu o uso de medicamentos sem eficácia comprovada contra a Covid-19 em Manaus dias antes de o sistema de saúde do Amazonas entrar em colapso, em janeiro último. O depoimento foi dado ao Ministério Público Federal (MPF) no Amazonas.

A promoção de remédios sem eficácia e as ações do Ministério da Saúde antes e durante o colapso em Manaus são alvo das investigações da CPI da Covid no Senado.

Mayra é uma das seis pessoas que respondem a uma ação por improbidade administrativa movida pelo MPF no Amazonas por conta da ação dos governos estadual e federal durante a crise no sistema de saúde do estado. Além dela, são alvos da ação o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello e o ex-secretário-executivo da pasta Élcio Franco, entre outros. Já há pelo menos um requerimento pedindo a convocação de Mayra para testemunha na CPI da Covid.

No depoimento aos procuradores da República no Amazonas, Mayra admite que, por delegação de Pazuello, ela foi a responsável por planejar o ciclo de visitas de médicos a unidades básicas de saúde de Manaus nos dias que antecederam o caos no sistema: “Todas as atividades que foram demandadas inicialmente foram feitas por mim porque foi delegada essa competência pelo ministro da Saúde (Eduardo Pazuello). Nós fizemos uma série de ações que foram planejadas inicialmente por mim. Uma delas foi de levar os médicos voluntários (às unidades de saúde)”.

As visitas a unidades básicas de saúde em Manaus dias antes do colapso do sistema foram alvo de polêmica, sobretudo depois de um ofício assinado por Mayra cobrando os profissionais de saúde de Manaus a aderirem ao chamado “tratamento precoce” contra a Covid-19. O “tour” de médicos percorreu 13 unidades básicas de saúde da capital.

Questionada, Mayra confirmou que o ofício em que cobrava a adesão dos médicos ao tratamento precoce incluía a orientação ao uso de medicamentos como cloroquina, hidroxicloroquina e azitromicina, drogas sem comprovação científica contra a Covid-19.

— Essa questão dos tratamentos e da orientação aos médicos. Aí se insere a cloroquina e a hidroxicloroquina? — indagou um procurador que conduzia o depoimento.

— O ministério disponibilizou uma orientação para os médicos brasileiros para, que de acordo com a autonomia que foi dada a eles pelo Conselho Federal de Medicina e a sua autonomia de prescrever e a autonomia do paciente de querer, que eles pudessem orientar medicamentos com doses seguras (de remédios) como cloroquina, hidroxicloroquina, azitromicina, que naquela época só tinham comprovação in vitro, e que hoje têm mais de 250 referências — respondeu Mayra Pinheiro.

Em outro trecho, Mayra volta a defender o uso de cloroquina e hidroxicloroquina alegando que as duas teriam ficado estigmatizadas por conta da “politização” da doença.

— E aí, como médica, é preciso que a gente tenha um discurso que não seja cansativo mais para população, a gente, numa pandemia, tem que dispor de todo um arsenal para salvar vidas (…) não só mais a cloroquina e a hidroxicloroquina… essas duas ficaram estigmatizadas por conta da politização da pandemia, que é ruim para o debate científico.

Em outro trecho, Mayra defendeu a ivermectina, outra droga sem comprovação científica contra a Covid. Ela chega a dizer que, “nos próximos dias”, a Organização Mundial de Saúde (OMS) “liberaria” o uso como antiviral contra a Covid. Mas, em março, a OMS emitiu comunicado recomendando que a substância não fosse usada no tratamento da Covid. Em abril, estudo publicado na revista científica “Nature”, apontou que a hidroxicloroquina pode estar associada a um aumento na mortalidade de pacientes com Covid-19.


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