Economia
Dívida pública federal ultrapassa R$ 4,5 trilhões com prazo menor para liquidar
O Tesouro Nacional verifica que investidores manifestam incertezas sobre o direcionamento da política fiscal brasileira e sobre novas ondas do coronavírus pelo mundo.
A dívida pública federal registrou aumento de 2,6% em um mês e passou a marca de R$ 4,5 trilhões em setembro. Diante de incertezas de investidores, o custo médio para o Tesouro Nacional aumentou e o prazo médio para o País honrar compromissos diminuiu. As informações são do jornal Folha de S.Paulo.
Os números são registrados no momento em que o País vê aumento expressivo na necessidade de recursos, enquanto investidores manifestam incertezas sobre o direcionamento da política fiscal brasileira e sobre novas ondas do coronavírus pelo mundo.
Com isso, o mercado cobrou taxas maiores para emprestar ao País no longo prazo. “Esse aumento na curva de juros acaba se refletindo nos leilões do Tesouro. Tivemos em setembro títulos com taxas mais altas do que em meses anteriores”, afirmou Luis Felipe Vital, coordenador-geral de operações da dívida.
O custo médio do estoque no acumulado dos últimos 12 meses teve aumento, de 8,54% ao ano em agosto para 8,72% ao ano em setembro. Enquanto títulos com prazo de dois anos saíram no fim do mês com taxas de 4,57% ao ano, contribuindo para valores médios de emissão ainda historicamente baixos, papeis de dez anos saíram a 7,67% ao ano.
Diante do cenário, o Tesouro tem procurado emitir títulos a prazos mais curtos. Com isso, o prazo médio da dívida pública apresentou redução, de 3,9 anos, em agosto, para 3,83 anos, em setembro. O percentual de vencimentos para os próximos 12 meses apresentou aumento de 21,65% em agosto para 26,03% em setembro.
Nas emissões com prazos curtos, o custo é beneficiado principalmente pelo baixo patamar da Selic (a taxa básica de juros, que está em 2% ao ano). Nos prazos mais longos, o aumento das taxas cobradas é desencadeado principalmente pelo avanço da inflação.
A inflação medida pelo IPCA no acumulado em 12 meses foi de 3,14% em setembro, acima da meta estipulada pelo Banco Central, de 2,5% para 2020.
O Banco Central já havia afirmado no mês passado que os preços deveriam se elevar no curto prazo. A autoridade monetária citou na ocasião que políticas fiscais de enfrentamento à Covid-19 e uma possível frustração nas reformas podem elevar o risco e empurrar a inflação para cima.
Também contribui para as incertezas movimentos de governo e aliados sobre medidas econômicas. Apesar de expressarem a vontade de uma expansão do programa Bolsa Família, por exemplo, ainda não anunciaram uma solução definitiva para a iniciativa que obedeça o teto de gastos.
O Tesouro citou especificamente “as incertezas sobre o direcionamento da política fiscal” como fatores que contribuíram para pressionar os prazos intermediários e longos da curva de juros futuros. Além do cenário doméstico, o mercado foi influenciado também pelas preocupações com uma potencial segunda onda de infecções de Covid-19 na Europa, além da frustração em relação a novos estímulos econômicos em grandes economias.
Em meio às incertezas, o CDS (Credit Default Swap, indicador de risco) do Brasil registrou elevação de 16,1%, fechando o mês em 250 pontos base. O número ficou acima de pares como Colômbia (152), México (152), Peru (77) e Chile (69).
Os investidores estrangeiros aumentaram a participação na dívida pública federal interna de 9,4% em agosto para 9,44% em setembro, o segundo crescimento do percentual após cinco meses seguidos de queda.
Segundo os técnicos do Tesouro, o aumento de participação dos estrangeiros é pontual e acontece devido às taxas mais atrativas. “Em momentos de aumento na taxa de juros ou flutuação na taxa de câmbio, o investidor encontra momentos mais favoráveis para a aplicação”, afirmou Vital.
Já as instituições financeiras alcançaram 27,4% de participação da dívida interna, sendo agora o principal grupo detentor (ao passar os fundos de investimento). Em relação a outubro, os dados prévios observados pelo Tesouro apontam que as expectativas de novos estímulos econômicos nos Estados Unidos têm contribuindo para melhorar o ambiente dos mercados.
Com isso, o CDS do Brasil acompanhou o movimento observado em outros países e registrou queda de 14,9% neste mês, alcançando o valor de 212 pontos base no dia 23 (redução mais tímida que de todos os pares internacionais acompanhados pelo Tesouro, que tiveram retração de 19,8% a 24,1% no período).
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