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Economia

Sob efeito da pandemia, 69 milhões de brasileiros pretendem comprar menos nos próximos meses

Número equivale a 42% da população adulta, segundo pesquisa nacional feita pelo Instituto Locomativa; para especialista, além da queda na renda, isolamento social está ensinando a população a racionalizar as compras.

O consumo, que é mais da metade de toda a riqueza gerada na economia e no passado já salvou o País de outras crises, não deverá ser o mesmo após a quarentena. Cerca de 69 milhões de brasileiros, ou 42% da população adulta, pretendem comprar menos nos próximos meses comparado ao que gastavam antes da pandemia do coronavírus, mostra pesquisa nacional feita pelo Instituto Locomotiva.

A freada no consumo tem relação direta com a queda na renda provocada pela pandemia. Mas uma mudança mais estrutural também está a caminho, já que o isolamento social acabou provocando alterações no comportamento do consumidor, segundo Renato Meirelles, presidente do Locomotiva.

“Há mais de cem dias dentro de casa, as pessoas descobriram o que precisam e o que não precisam”, diz Meirelles. Com a pandemia, o consumidor racionalizou as compras. “Nesse novo mundo não cabe ostentação.”

A freada nas compras, constatada em todas as classes sociais, ocorre em um cenário de queda recorde no consumo das famílias que é esperado para este ano – uma retração de 7,2%, segundo projeção feita pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). É como se, apenas neste ano, o consumo das famílias caísse mais do que as perdas acumuladas em 2015 e 2016, quando o País enfrentou uma longa recessão.

“Além de ser o item de maior peso do Produto Interno Bruto (PIB), o consumo das famílias é o que faz o brasileiro perceber se está em uma situação melhor ou pior. Ele sente que a vida está mais difícil quando sua capacidade de consumir cai”, afirma o economista sênior da CNC, Fabio Bentes.

Recuo nos gastos

A perspectiva de continuar segurando as compras nos próximos 12 meses é confirmada por outra pesquisa, da consultoria Bain & Company. A enquete ouviu 1,6 mil pessoas e foi feita no fim de junho. Aponta que, em todos os segmentos, o número de pessoas que pretende gastar menos é maior do que o dos que devem aumentar gastos depois da pandemia.

Em serviços, por exemplo, 57% dos consultados declararam que vão gastar menos em viagens, 51% em eventos, 41% em academias, 36% em restaurantes. “As pessoas não sabem quanto tempo a pandemia vai durar, por isso há mais gente prevendo desembolsar menos”, observa Frederico Eisner, sócio da consultoria. Na sua avaliação, as pessoas estão com medo e esse sentimento não combina com consumo.

Magda Maria Barbosa de Alencar, que trabalha em uma creche, é um exemplo da mudança nos hábitos de consumo. “Todo mês comprava roupa, sapato, perfume, esse tipo de coisa que hoje a gente chama de supérfluo.” A decisão agora é não comprar mais e tentar pagar o que já tem.

Diferenças entre segmentos

A freada nas compras na quarentena e no período de pós-isolamento deve ser diferente para cada segmento de consumo, segundo Meirelles, do Locomotiva. Itens como varejo online, entrega de comida, ensino a distância, por exemplo, cresceram e devem se manter em alta.

O consumo de alimentos, de serviços de telecomunicação e de produtos de limpeza também aumentou, mas deve se estabilizar. Já serviços prestados por cinemas, hotéis e restaurantes tiveram forte queda e a recuperação deve ser lenta.

Outra novidade que surgiu com força nos últimos meses foi o consumo por meio de mensagens de WhatsApp: 18% dos internautas informaram que começaram a comprar usando essa ferramenta. E os pequenos comércios e os mercadinhos de bairros ganharam a preferência, pela proximidade da casa dos clientes – o que facilita a entrega.

Daqui para a frente, 63% dos consumidores revelaram que farão mais pesquisas de preços e 42% disseram que darão mais importância às marcas que vão consumir, de acordo com o levantamento do Locomotiva.

“Isso é uma clara demonstração de que as pessoas estão mais próximas de um consumo consciente e vão cobrar as marcas pelo posicionamento que tiveram durante a pandemia”, diz Renato Meirelles, presidente do instituto e responsável pela pesquisa. Afinal, 93% dos entrevistados acreditam que, mesmo após o fim do isolamento social, a vida não voltará a ser como era antes.


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