Economia
Diesel cai 27,4% na Petrobras; nas bombas, a redução ficou em apenas 6,9%, mostram dados do ministério
O preço médio nacional do diesel passou de R$ 6,51, em janeiro de 2023, para R$ 6,06 atualmente — queda de apenas 6,91%, de acordo com dados do Ministério de Minas e Energia.
Apesar da redução nos preços cobrados pela Petrobras das distribuidoras, o valor do diesel pago pelo consumidor final segue praticamente imune aos cortes feitos pela estatal desde janeiro de 2023. O preço médio do litro caiu 27,4%, mas, nas bombas, a redução ficou em apenas 6,9%, de acordo com dados do Ministério de Minas e Energia.
Diesel fica mais barato na Petrobras, mas consumidor sente pouco. No primeiro reajuste autorizado pelo governo Lula, em 7 de janeiro de 2023, o diesel vendido pela Petrobras às distribuidoras custava, em média, R$ 4,05 o litro. No último reajuste, em 6 de dezembro de 2025, esse valor caiu para R$ 2,94, segundo dados oficiais do Ministério de Minas e Energia. O desconto, no entanto, não chegou ao consumidor. Na bomba, o cenário foi outro. O preço médio nacional do diesel passou de R$ 6,51, em janeiro de 2023, para R$ 6,06 atualmente — queda de apenas 6,91%.
Parte da explicação está nos impostos. No fim do governo Bolsonaro, como forma de compensar caminhoneiros diante da disparada dos preços — que chegaram a R$ 7,67 por litro em julho de 2022 — o governo federal zerou os tributos sobre o diesel. Hoje, a cobrança voltou: a União arrecada R$ 0,32 por litro em impostos federais.
Os estados também ampliaram sua fatia. A partir de fevereiro de 2025, os estados uniformizaram a tributação do ICMS sobre combustíveis em todo o Brasil, em sistema que foi denominado como tributação monofásica. Se no começo de 2023, cobravam R$ 0,79 por litro, agora cobram R$ 1,12 pela mesma quantidade. Ou seja, R$ 0,33 a mais por litro, um aumento de 41,77% no período, mas praticamente o mesmo que foi acrescido no combustível pelo governo federal.
Produção pesa mais no diesel, mas impostos e margens travam queda. “O preço final do diesel é uma combinação de diferentes fatores, sendo o preço de produção – a parcela da Petrobras – o maior componente”, explica Márcio D’Agosto, professor titular de engenharia de transporte da COPPE (Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia) da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). “Outros fatores incluem impostos federais (PIS/Cofins) e estaduais (ICMS), o preço referente à adição de biodiesel, e a margem da distribuidora e a dos postos de combustíveis.”
Venda da BR é apontada como raiz do problema. Para D’Agosto, a privatização da BR Distribuidora, hoje Vibra Energia, é um ponto-chave da distorção. “O governo perdeu o controle sobre os preços praticados pelas distribuidoras”, afirma. Segundo ele, a mudança reduziu a concorrência e enfraqueceu instrumentos de política pública sobre combustíveis, que envolvem não apenas economia, mas segurança energética.
Margem da distribuidora é o último componente do preço final do diesel. No atual sistema, as companhias de distribuição recebem o combustível na sua base (100% diesel), pagam os custos de produção, impostos federais e estaduais, e o valor referente à adição de biodiesel, que elas são as responsáveis por adicionar à mistura. A essa soma, elas acrescentam uma margem que inclui a logística de distribuição, estocagem e transporte. “Mas essa margem é um segredo comercial e, claro, não é divulgada pelas distribuidoras.”
O biodiesel, insumo que é misturado ao diesel no Brasil, aumentou no período 2023-2025. O percentual de mistura passou de 10% para 15%, enquanto o preço do insumo subiu de R$ 0,58 para R$ 0,88 por litro. “O biodiesel hoje é mais caro que o diesel fóssil”, explica Edmar Almeida, professor do Instituto de Energia da PUC-Rio. “Isso eleva o preço médio final.”
Em 2024, o Brasil consumiu 67 bilhões de litros de diesel, o principal combustível utilizado no transporte rodoviário de cargas no Brasil. Esse tipo de modal responde por 60% da movimentação de todas as mercadorias no país. O diesel representa até 40% dos custos operacionais de uma transportadora. E o custo do frete corresponde a 30%, na média, do custo total dos produtos transportados.
“A única forma de baratear o preço dos combustíveis, na atualidade, é diminuir os impostos incidentes sobre eles. Mas isso significaria que os governos iriam abrir mão de algo próximo a R$ 75 bilhões, sendo R$ 21 bilhões, a parte do governo federal, e R$ 53,6 bilhões, a parte dos estados aproximadamente”, diz Edmar Almeida, professor do Instituto de Energia da PUC-Rio.
Do lado dos postos, a Fecombustíveis rejeita o papel de vilã. “As margens estão cada vez mais apertadas”, afirma James Thorp, presidente da entidade que representa 44 mil postos no país. Segundo ele, custos operacionais subiram e o valor cobrado na bomba reduziu pouco, mas reduziu. “Estamos pagando pela descarbonização da economia com o biodiesel”, diz.
O setor de transporte também sente os impactos. “O mercado está instável, com baixo volume de carga, o que dificulta aplicar reajustes”, afirma Marcelo Rodrigues, presidente do SETCESP (Sindicato das Empresas de Transporte de São Paulo). Ele também aponta a privatização da BR Distribuidora como um dos fatores que impedem a queda do diesel.
Procurada pelo site UOL, a Petrobras afirmou, em nota, que “o preço de venda para as distribuidoras é apenas uma das parcelas que compõem os preços nas bombas. O preço de revenda ao consumidor final ainda inclui o custo das distribuidoras com a mistura obrigatória de etanol anidro, para gasolina, e de biodiesel, para o diesel; tributos; e outros custos e margens de distribuição e de revenda, sobre os quais a Petrobras não possui qualquer influência”.
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