Amazonas
Sindicato denunciou aplicação milionária da Amazonprev em banco Master, liquidado hoje pelo Banco Central
A liquidação extrajudicial é quando o Banco Central fecha um banco que não tem mais condições de funcionar. Investidores com valores superiores ao teto poderão ter perdas, restritas ao valor que exceder os 250 mil reais.
O Sindicato dos Trabalhadores da Justiça do Amazonas (Sintjam) denunciou ao Ministério Público do Estado (MPAM) e ao Ministério Público Federal (MPF) “graves irregularidades na aplicação de recursos previdenciários do Fundação Fundo Previdenciário do Estado do Amazonas (Amazonprev)”, no Banco Master, liquidado de forma extrajudicial pelo Banco Central e cujo proprietário é Daniel Vorcaro, preso pela Polícia Federal nesta terça (18/11), durante a Operação Compliance Zero, que tem como alvo um esquema de emissão e negociação de títulos de crédito falsos envolvendo instituições financeiras do Sistema Financeiro Nacional, entre elas o Banco de Brasília (BRB).
A liquidação extrajudicial é quando o Banco Central fecha um banco que não tem mais condições de funcionar. Um liquidante assume o controle, encerra as operações, vende os bens e paga os credores na ordem prevista em lei, até extinguir a instituição. Nessa etapa, as operações são encerradas e o banco deixa de integrar o sistema financeiro nacional.
O diretor-geral da Polícia Federal (PF), Andrei Rodrigues, afirmou à CPI do Crime Organizado no Senado que a operação Compliance Zero, deflagrada nesta terçafeira contra a cúpula do Banco Master, investiga crimes financeiros da ordem de 12 bilhões de reais. O foco da ação, segundo a PF, é combater a emissão de títulos de crédito falsos por instituições financeiras que integram o Sistema Financeiro Nacional. A corporação apura os crimes de gestão fraudulenta, gestão temerária e organização criminosa.
Segundo o coordenador-geral do Sintjam), Roberto Dávila, entre junho e setembro de 2024, a Amazonprev investiu cerca de R$ 300 milhões em Letras Financeiras dos Bancos C6 e Master, sem autorização colegiada, sem análise formal de risco, e usando instituições não credenciadas”. E, com isso, “violou diretrizes de governança e normas legais”.
O Sintjam, segundo Roberto Dávila, pediu a instauração de um inquérito para responsabilizar os gestores, bloqueio de bens e comunicação ao Tribunal de Contas, “para garantir a proteção do patrimônio previdenciário dos servidores”.
A Amazonprev é a única gestora do Regime Próprio de Previdência Social do Estado do Amazonas. Tem como missão assegurar aos servidores públicos estaduais e seus dependentes os benefícios que lhes sejam devidos, gerindo os recursos de forma a observar o caráter contributivo e o equilíbrio financeiro e atuarial.
Sob a responsabilidade da Amazonprev está a gestão dos Fundos de Previdência estaduais que resguardam os recursos financeiros necessários à garantia dos direitos de aposentadoria e pensão por morte dos servidores efetivos do Amazonas.
Os valores, segundo a diretoria da Amazonprev, foram investidos em aplicações financeiras em bancos digitais, “instituições não credenciadas e envolvidas em escândalos e/ou suspeitas de irregularidades, sem decisão do colegiado dos conselheiros e sem análise formal de risco, o que viola as diretrizes de governança e normas legais da própria Amazonprev”.
Segundo ele o “sumiço” dos R$ 300 milhões foi percebido durante as reuniões trimestrais dos conselheiros, ocasião em que o diretor-presidente da Amazonprev informou que os recursos previdenciários tinham sido investidos em duas aplicações financeiras entre junho e setembro de 2024 nos bancos C6 e Master, a primeira no valor de R$ 50 milhões e a segunda de R$ 250 milhões.
Roberto Dávila disse que até hoje o diretor-presidente, Evilázio Nascimento, ainda não apresentou os comprovantes dessas aplicações e que tais investimentos financeiros podem nem ter sido realizados. “Fica a pergunta: aonde foi parar o dinheiro da aposentadoria dos servidores públicos estaduais do Amazonas?”, disse.
Com base nesses questionamentos, o Sintjam protocolou duas representações, uma no MP-AM e outra no MPF, pedindo a instauração de inquéritos para que os órgãos investiguem a suspeita de desvio e de violações à ordem financeira e à legislação que regula investimentos previdenciários no Amazonas.
Dávila também disse que os bancos C6 e Master são instituições financeiras digitais de alto risco e estão envolvidos em escândalos financeiros no país. Segundo informou, o Master é investigado pelo Banco Central e pela Polícia Federal em um esquema de fraudes em precatórios e fundos de pensão. E o C6, afirmou, enfrenta escândalos relacionados ao não pagamento ou pagamento incorreto de Participação nos Lucros e Resultados (PLR) aos seus funcionários e à prática de empréstimos consignados não solicitados a aposentados e pensionistas do INSS.
Em outubro, a presidência do Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM) instituiu um grupo de trabalho com a finalidade de avaliar fatos e impactos das despesas custeadas exclusivamente pelo Tribunal junto ao Fundo Financeiro de Aposentadorias e Pensões do Estado do Amazonas (FFIN) e Fundo Previdenciário do Amazonas (FPREV), além do processo de segregação de massa desses fundos, que são administrados pela Amazonprev, órgão gestor do Regime Próprio de Previdência estadual.
A medida de liquidação, assinada pelo presidente do BC, Gabriel Galípolo, também vale para o Banco Master Múltiplo, Banco Master de Investimento, Banco Letsbank e Master S/A Corretora de Câmbio, Títulos e Valores Mobiliários.
Segundo o BC, a liquidação extrajudicial é o regime de resolução que se destina a interromper o funcionamento de uma instituição e promover sua retirada, de forma organizada, do SFN. É adotada quando ocorrer situação de insolvência irrecuperável ou quando forem cometidas graves infrações às normas que regulam sua atividade, entre outras hipóteses legais.
O BC nomeia um liquidante, que buscará a venda dos ativos existentes para viabilizar o pagamento, que for possível, aos credores.
Também é acionado o Fundo Garantidor de Créditos (FGC), uma espécie de “seguro” aos investidores e correntistas contra calotes. O FGC garante o pagamento de até R$ 250 mil por CPF ou CNPJ e por instituição bancária.
Não há prazo determinado para o encerramento da liquidação: ela termina por decisão do Banco Central ou pela decretação da falência da instituição.
Para os investidores que possuem CDBs emitidos pelo Banco Master, a regra é clara: os recursos estão protegidos pelo FGC até o limite de 250 mil reais por CPF ou CNPJ, por instituição financeira. Esse valor inclui tanto o valor aplicado quanto os juros acumulados até a data da liquidação. Na prática, quem tem investimentos dentro desse limite receberá integralmente o montante corrigido.
Já os investidores com valores superiores ao teto poderão ter perdas, restritas ao valor que exceder os 250 mil reais.
Não deixe de curtir nossa página no Facebook, siga no Instagram e também no X.














Faça um comentário