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Brasil

Estudo diz que desmatamento da Amazônia já ameaça segurança energética do país

Relatório do CPI/PUC-Rio e Amazônia 2030 revela que hidrelétricas como Itaipu e Belo Monte perdem juntas mais de R$ 1 bilhão por ano em geração devido à redução das chuvas provocada pela destruição da floresta.

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A Floresta Amazônica deixou de ser apenas um símbolo ambiental e tornou-se um ativo econômico estratégico, e sua degradação já cobra um preço alto do Brasil, segundo um novo estudo do Climate Policy Initiative (CPI/PUC-Rio) e do projeto Amazônia 2030, O Estudo aponta que o desmatamento na Amazônia tem impactos diretos sobre os rios voadores, correntes de umidade formadas pela evapotranspiração da floresta, alterando o regime de chuvas em boa parte do território nacional e reduzindo a produtividade de setores-chave, como energia, agronegócio, transporte hidroviário e abastecimento urbano. As informações são do site Cenário Energia.

De acordo com o relatório, a perda de cobertura florestal já se traduz em prejuízos bilionários anuais, especialmente para o setor elétrico, que depende do equilíbrio hidrológico para garantir a estabilidade do Sistema Interligado Nacional (SIN).

Segundo os dados do estudo, as hidrelétricas de Itaipu e Belo Monte perderam, juntas, 3.700 GWh de potencial de geração por ano em razão da redução das chuvas associada ao desmatamento. O volume desperdiçado equivale ao consumo anual de energia elétrica de todo o estado de Rondônia.

Em valores econômicos, isso representa mais de R$ 1 bilhão em perdas anuais, um impacto que repercute em tarifas mais altas, maior dependência de termelétricas e pressão sobre os reservatórios do Sudeste e Centro-Oeste.

Os pesquisadores explicam que a Amazônia desempenha papel essencial no transporte de umidade para outras regiões do país, especialmente para o Centro-Sul, onde se concentram as maiores hidrelétricas e centros consumidores. Quando a floresta é destruída, a circulação atmosférica se desequilibra, comprometendo o regime de chuvas e afetando diretamente a matriz elétrica brasileira.

O estudo destaca que o problema transcende o setor elétrico, com efeitos diretos sobre a água, a agricultura e o transporte.

Entre os principais impactos identificados estão:

Abastecimento urbano: sistemas críticos como o Cantareira (SP), que abastece cerca de 7 milhões de pessoas, dependem da umidade vinda da Amazônia. A redução dos “rios voadores” pode comprometer a oferta hídrica, sobretudo em períodos de estiagem prolongada.

Agropecuária: a produção de soja, milho e cana-de-açúcar, altamente dependente das chuvas, enfrenta perdas crescentes com secas. Entre 2013 e 2022, os prejuízos acumulados chegaram a R$ 186 bilhões, segundo o levantamento.

Incêndios: a menor umidade aumenta a vulnerabilidade da vegetação, e o número de queimadas na Amazônia ultrapassou 30 milhões de hectares apenas em 2024, agravando o ciclo de degradação.

Hidrovias: estiagens severas em rios como o Madeira e o Tapajós têm afetado o transporte de grãos, elevando custos logísticos e comprometendo a competitividade das exportações brasileiras.

O relatório alerta que, se o ritmo atual de desmatamento persistir, até 47% da floresta amazônica poderá sofrer distúrbios graves até 2050, comprometendo de forma irreversível a oferta de serviços ecossistêmicos vitais para o país, como a regulação climática, a manutenção de aquíferos e a fertilidade do solo.

“A proteção da Amazônia não é apenas uma pauta ambiental, mas um imperativo estratégico para a segurança energética, hídrica e alimentar do Brasil”, afirmam os autores Gustavo Pinto e João Pedro Arbache, do CPI/PUC-Rio.

A afirmação reforça o entendimento de que a floresta em pé é uma infraestrutura natural essencial à estabilidade econômica e social, devendo ser tratada como parte integrante da política energética nacional.

O estudo lembra que o Brasil já demonstrou capacidade de reduzir o desmatamento, citando o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm), que reduziu a destruição da floresta em cinco vezes entre 2004 e 2014.

Contudo, os pesquisadores defendem que é preciso atualizar e fortalecer os instrumentos de política pública, integrando segurança ambiental e planejamento energético. Isso inclui monitoramento climático avançado, incentivos à bioeconomia e regulação mais eficiente do uso do solo, além de coordenação entre ministérios e agências do setor elétrico.

Segundo o CPI, a manutenção da Amazônia como ativo estratégico pode gerar bilhões em ganhos indiretos para a economia, reduzir a vulnerabilidade energética e atrair investimentos internacionais voltados à descarbonização da matriz.

O relatório reforça que o debate sobre desmatamento não pode mais ser isolado das discussões sobre planejamento energético e segurança hídrica. A redução da capacidade hidrelétrica, o aumento do custo da energia e o risco de racionamentos regionais são efeitos tangíveis de uma crise ambiental que já atinge o núcleo da economia brasileira.

Ao colocar dados econômicos concretos sobre a mesa, o estudo do CPI/PUC-Rio transforma a preservação da Amazônia em um tema de política de Estado, capaz de unir setores elétrico, agrícola e industrial em torno de uma agenda comum: a proteção do capital natural que sustenta o desenvolvimento do país.


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