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Intoxicação por metanol: ao menos 12,6 mil pessoas morreram no mundo em 20 anos, mostra levantamento
Monitoramento do Médicos Sem Fronteiras inclui surto que ocorreu na Bahia, em 1999, que afetou 450 pessoas e deixou 35 mortos após consumo de cachaça clandestina contaminada.

Nos últimos 20 anos, desde 2005, pelo menos 12.604 pessoas morreram pelo mundo em casos suspeitos de intoxicação por metanol, geralmente ligados ao consumo de bebidas adulteradas, mostra um monitoramento do Médicos Sem Fronteiras (MSF). Somente neste ano, foram 364 vidas perdidas. Ao todo, desde 1998, o levantamento registrou 40,1 mil afetados e 14,3 mil óbitos.
No Brasil, por exemplo, o MSF considera o surto que ocorreu na Bahia, em 1999, que afetou 450 pessoas e deixou 35 mortos em 10 cidades por consumo de cachaça clandestina contaminada com metanol. Neste ano, desde junho, seis casos de intoxicação foram confirmados no Estado de São Paulo, e três pessoas morreram.
Diferente do etanol, que é o álcool usado nas bebidas alcoólicas, o metanol é um composto químico industrial muito utilizado como solvente, combustível ou anticongelante. Quando ingerido, transforma-se em formaldeído e, depois, em ácido fórmico, que é o subproduto altamente tóxico para o organismo.
O ácido fórmico causa danos a diferentes tecidos do corpo, como ao nervo óptico e ao sistema nervoso, por isso leva o indivíduo a quadros graves, como cegueira, coma e mesmo morte, se não tratado rapidamente. O tratamento busca frear a metabolização do metanol em mais ácido fórmico e, para isso, é comum usar o próprio etanol como antídoto, porque ele compete com a quebra do metanol.
De acordo com a Associação Brasileira de Neuro-oftalmologia (ABNO), os sintomas da intoxicação costumam aparecer entre 12 e 24 horas após a ingestão, ou antes quando a quantidade ingerida é grande. Entre eles, estão dor de cabeça, náuseas, vômitos, dor abdominal, confusão mental e, principalmente, visão turva repentina ou cegueira.
Surtos de intoxicação por metanol são geralmente ligados à adição do composto em bebidas adulteradas para reduzir custos, já que ele é mais barato que o etanol. O cenário é especialmente alarmante considerando que 21% do consumo de álcool no mundo é proveniente de fontes ilegais, segundo estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS).
De acordo com o monitoramento do MSF, milhares de pessoas são envenenadas por metanol todos os anos, e a taxa de mortalidade em um surto costuma ser de 20% a 40%. Apenas 10 ml da substância já é suficiente para causar cegueira, e 30 ml é considerada a dose mínima fatal para um adulto.
O MSF alerta que “devido aos desafios no diagnóstico e à limitada conscientização pública, muitas mortes e ‘surtos’ nunca são identificados como intoxicações por metanol”. Ainda assim, as estatísticas mostram que a Ásia apresenta a maior prevalência de casos no mundo, com surtos ocorrendo comumente na Indonésia, Índia, Camboja, Vietnã e Filipinas.
Os dados utilizados pelo grupo no monitoramento são coletados a partir de reportagens, publicações de estudos e comunicações oficiais. O país com mais registros de surtos de intoxicação por metanol é a Indonésia, com 334 episódios desde 1998.
“A fonte de intoxicação por metanol na Indonésia é, na maioria das vezes, causada por bebidas alcoólicas clandestinas, conhecidas localmente como “miras oplosan” ou Arak – uma bebida alcoólica local ilegalmente destilada à base de flor de coco, arroz e cana-de-açúcar, que pode ser comprada em “lojas de garrafa” não licenciadas”, diz a página do MSF destinada ao assunto.
No entanto, o país com mais pessoas afetadas é o Irã, com 9,6 mil indivíduos atendidos. Isso porque, em apenas uma ocasião, no começo de 2020, 5.876 pessoas foram intoxicadas, e 800 morreram, após uma fake news alegar que o consumo de álcool poderia proteger contra a Covid-19.
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