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Candidados de direita devem disputar segundo turno nas eleições presidenciais da Bolívia

O partido governista Movimento ao Socialismo (MAS) sofreu uma derrota histórica, terminando em sexto lugar, com 3,14% dos votos.

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O senador Rodrigo Paz Pereira e o ex-presidente Jorge “Tuto” Quiroga disputarão a presidência da Bolívia em segundo turno.

Eles foram os dois candidatos mais votados nas eleições presidenciais deste domingo (17/8), marcadas por uma profunda crise econômica no país, uma oposição dividida e uma ruptura dentro da esquerda e do partido Movimento ao Socialismo (MAS), que perderá o poder duas décadas após a primeira vitória eleitoral de Evo Morales em 2005.

Rodrigo Paz (Partido Democrata Cristão) obteve mais de 1.561.000 votos (32,08%) e Quiroga (Aliança Livre) ultrapassou 1.311.000 (26,94%), segundo resultados preliminares divulgados pelo Tribunal Supremo Eleitoral com mais de 90% dos votos apurados.

Em seguida, vieram o empresário Samuel Doria Medina — que, segundo as pesquisas, era o favorito — com 19,93% e o principal candidato de esquerda, Andrónico Rodríguez, com 8,15%.

O partido governista Movimento ao Socialismo (MAS) sofreu uma derrota histórica, terminando em sexto lugar, com 3,14% dos votos.

A participação foi de 78,55% de um total de 7,5 milhões de eleitores cadastrados, segundo o TSE.

Paz, que se apresenta como uma figura da renovação política centrista, e Quiroga, mais alinhado à direita conservadora, se enfrentarão no dia 19 de outubro no segundo turno.

Isso é algo inédito, posto que, desde a introdução do sistema de segundo turno na Bolívia, em 2009, todas as eleições foram decididas no primeiro turno.

A Constituição boliviana estabelece que um candidato pode vencer a presidência no primeiro turno se obtiver mais de 50% dos votos válidos, ou pelo menos 40% com uma diferença de dez pontos percentuais sobre o segundo colocado.

O avanço de Paz e Quiroga para o segundo turno também anuncia uma mudança histórica na política boliviana, já que os cidadãos elegerão um presidente não esquerdista após quase duas décadas de governo do MAS.

O resultado confirma a fratura e o declínio da força política fundada por Evo Morales, que entrou na disputa dividida e com apoio eleitoral muito aquém do que caracterizou a política boliviana nos últimos 20 anos.

O que explica a derrocada da esquerda na Bolívia

As eleições gerais deste domingo foram convocadas para eleger o presidente, o vice-presidente, 36 senadores, 130 deputados e nove representantes em órgãos parlamentares internacionais.

O presidente do TSE, Óscar Hassenteufel, descreveu o dia da eleição como tranquilo, sem incidentes graves e com 100% das seções eleitorais abertas.

Os dois candidatos

O segundo turno entre Paz e Quiroga evidencia a fragmentação dentro da oposição, que meses atrás tentou unificar forças em torno de um único candidato, mas acabou se dividindo.

Ambos os candidatos disputam um eleitorado que busca superar a crise econômica e fechar o ciclo político do MAS, mas com estilos diferentes: Paz encarna um perfil mais inovador e moderado, enquanto Quiroga oferece um discurso mais político, ideológico e conservador.

Rodrigo Paz, senador de 54 anos e filho do ex-presidente Jaime Paz Zamora, construiu sua carreira política no Congresso e como prefeito de Tarija.

Nesta campanha, ele se apresentou como uma alternativa às figuras tradicionais.

Sua candidatura surpreendeu pela ascensão nas pesquisas nas últimas semanas — embora não fosse o favorito — e se consolidou com uma mensagem de renovação e o apoio de seu companheiro de chapa, o ex-policial Edman Lara, conhecido por sua retórica anticorrupção.

Jorge “Tuto” Quiroga, de 65 anos, foi presidente de 2001 a 2002, após a renúncia de Hugo Banzer.

Ele se apresenta como um político experiente e com uma linha dura contra o MAS, o que, segundo analistas, lhe dá apoio entre setores de oposição mais radicais, mas limita sua capacidade de atrair eleitores moderados ou desiludidos.

Crise econômica e fragmentação política

A eleição teve como pano de fundo a pior crise econômica do país nos últimos 40 anos.

A Bolívia enfrenta uma inflação anual de quase 25%, escassez de combustível, desvalorização do boliviano no mercado negro e dificuldades de acesso a dólares.

Analistas atribuem a fragmentação do voto à agitação social ligada à crise, o que explica em grande parte por que nenhum candidato ultrapassou 33% no primeiro turno.

Outro fator determinante foi a fragmentação do Movimento ao Socialismo, que chegou a essas eleições dividido.

O presidente Luis Arce desistiu da disputa em maio e apoiou seu ex-ministro, Eduardo del Castillo, que concorreu sob a bandeira do MAS-IPSP, com resultados muito abaixo das expectativas.

Andrónico Rodríguez, presidente do Senado e figura emergente no movimento de esquerda, tentou se apresentar como alternativa com sua própria aliança, mas não conseguiu capitalizar o voto do MAS.

O ex-presidente Evo Morales, inabilitado judicialmente para concorrer às eleições, denunciou a “proscrição” de sua participação eleitoral e promoveu o voto nulo, o que teria reduzido ainda mais o número de votos para a esquerda.

Os votos nulos totalizaram 1.165.000, ou 18,9%, bem acima da média das eleições anteriores, que girava em torno de 3,7%.

No entanto, mesmo considerando esse número e a convocação de Morales, os resultados preliminares indicam que a esquerda passou longe de representar uma força relevante na disputa à Presidência.

Assim, o segundo turno colocará em confronto dois projetos de oposição que concordam na rejeição ao MAS, mas divergem em suas abordagens.

Quem vencer em 19 de outubro, de qualquer forma, enfrentará o desafio de inaugurar um novo ciclo político em um contexto marcado por uma das piores crises econômicas das últimas décadas no país sul-americano.


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