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Amazonas

Mapeamento mostra que 85% da população de Manaus vive em áreas de risco alto para desastres hidrogeológicos

Em Manaus há zonas classificadas como risco de alerta muito alto desde 2019.

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Um mapeamento feito pelo site InfoAmazonia baseado em dados do Serviço Geológico do Brasil (SGB), aponta que em Manaus, 85% da população exposta vive em áreas de risco alto para desastres hidrogeológicos, e os 15% restantes estão em zonas classificadas como risco muito alto.  O levantamento traçou o perfil dos grupos mais expostos a desastres hidrogeológicos na Amazônia, como deslizamentos, inundações, enxurradas e erosões.

De acordo com a pesquisa, na Amazônia Legal, 374 dos 772 municípios foram monitorados pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB), vinculado ao Ministério de Minas e Energia, e constatou-se que 290 deles têm áreas de risco. Para mapear essas regiões, os pesquisadores identificam terrenos com encostas e barrancos e, em seguida, analisam a possibilidade de ocorrência de eventos hidrogeológicos.

O risco foi classificado como alto em áreas com barrancos e morros, onde existem casas que podem ser atingidas, e muito alto onde já ocorreram deslizamentos e rachaduras nos terrenos e há presença de habitações.

A partir de um cruzamento entre dados do Censo 2022, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e o mapeamento de risco do SGB, a InfoAmazônia revelou que as áreas de risco a desastres hidrogeológicos na Amazônia estão majoritariamente em zonas urbanas, com condições de saneamento significativamente piores do que em outras regiões do país.

Os dados mostram que 61% das pessoas que vivem nessas áreas estão em terrenos com alto risco e 39% em terenos com risco muito alto. Nesses lugares, a maioria das casas (55%) são chefiadas por mulheres, jovens com menos de 30 anos representam 51% e pessoas pardas ou pretas são 81% do total.

Constatou-se também que 45% das áreas de risco na Amazônia estão concentradas em favelas e comunidades urbanas, localidades que se caracterizam pela presença de ocupações informais, ausência ou oferta incompleta de serviços públicos, infraestrutura precária ou autoproduzida.

Manaus

Em Manaus, 85% da população exposta vive em áreas de risco alto para desastres hidrogeológicos, e os 15% restantes estão em zonas classificadas como risco muito alto. Na comunidade Fazendinha, por exemplo, no bairro Cidade de Deus, na Zona Norte da capital amazonense, há trechos com esse nível de alerta desde 2019.

Elton Andretta, pesquisador do SGB, explicou à InfoAmazônia que o solo de Manaus é conhecido pela sua estrutura solta, leve e que se desfaz facilmente. “[Os solos] são formações sedimentares com alimíticos, siltitos e argilitos. Quando se alteram, são mais propensos a sofrer com erosões. Em Manaus, em torno de 13º [graus de desnível] já começa a ocorrer movimento de deslizamento, enquanto no resto do Brasil a média é 16º, 17º – já é um fator que piora”, comentou.

A análise aponta ainda que, em toda a Amazônia Legal, 75% dos domicílios em áreas de risco não têm acesso ao serviço de saneamento básico, sendo que mais de um terço deles destinam o esgoto em fossas rudimentares ou buracos. Para efeito de comparação, nas demais regiões do país, onde há maior acesso à rede de esgoto em áreas de risco, 28,7% dos domicílios não têm acesso à rede de esgoto.

Realidade amazônica

O risco de desastres hidrogeológicos existe em várias partes da Amazônia há anos. Ainda assim, aponta a InfoAmazônia, medidas para novas moradias, dentro do contexto da crise climática global, não são uma prioridade dos governos locais.

A assistente social Najara Amaro, doutoranda da Universidade Federal do Pará (UFPA) que estuda políticas urbanas para as cidades, relatou que as casas do Programa Minha Casa Minha Vida, maior programa de habitação do Brasil, não contemplam as realidades amazônicas, como as casas de palafitas.

“Nós temos unidades habitacionais construídas em áreas sem infraestrutura básica. Sem acesso fácil à escola, a posto de saúde, asfaltamento, esgoto sanitário. No interior, temos famílias grandes. Um apartamento com dois quartos, sala, cozinha e banheiro não cabe todo mundo. Então, fica aquele ambiente adensado. Isso porque existe uma padronização no programa, que não funciona em todos os lugares”, ela salientou.

A InfoAmazônia perguntou ao Ministério das Cidades se há algum avanço para adaptar as moradias às realidades amazônicas, se a questão está sendo discutida no programa Minha Casa Minha Vida e como o ministério avalia as críticas apresentadas pela pesquisadora.

O órgão respondeu o seguinte: “Não há um modo único de construção no programa: as diretrizes do MCMV priorizam soluções arquitetônicas compatíveis com aspectos regionais, ambientais, climáticos e culturais”.

Sobre a necessidade de mais quartos nas casas dos beneficiários, afirmou que o padrão mínimo são dois quartos, mas não há impedimento para propostas com mais dormitórios. “O programa está em constante aprimoramento, acolhendo críticas construtivas para seu aperfeiçoamento contínuo”.


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