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Amazonas

Pandemia: crimes violentos no AM caem em março, mas têm alta de 10,8% no trimestre

Pesquisador pergunta se as autoridades estaduais estão fragilizadas com a crise criada pelo coronavírus e a percepção de fragilidade levou quadrilhas rivais a disputarem poder e territórios.

O Amazonas registrou alta de 10,8% no número de crimes violentos nos três primeiros meses de 2020, com relação a 2019. Em março, o Amazonas registrou queda, com relação ao ano passado, de 81 para 59. O maior aumento no Amazonas no trimestre foi em janeiro, de 85 para 121. Nos três primeiros meses de 2020, foram registrados 266 homicídios, latrocínios e lesões corporais seguidas de morte, contra 240 em 2019.

O levantamento faz parte do Monitor da Violência, uma parceria do G1 com o Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV-USP) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O índice nacional de homicídios criado pelo G1 é com base nos dados oficiais dos 26 estados e do Distrito Federal.

O Brasil teve uma alta de 11% no número de assassinatos em março deste ano em comparação com o mesmo período do ano passado. É o que mostra o índice nacional de homicídios criado pelo G1, com base nos dados oficiais dos 26 estados e do Distrito Federal.

De acordo com a ferramenta, houve 4.146 mortes violentas no Brasil, em março de 2020. No mesmo mês no ano passado, foram 3.729. O crescimento ocorre mesmo em meio à pandemia da Covid-19. Já considerando o trimestre, foram 11.908 vítimas de assassinatos neste ano contra 10.924 em 2019, uma diferença de 984 mortes.

A alta no início deste ano vai na contramão de 2019, que teve uma queda de 19% no número de assassinatos em todo o ano. O Brasil teve cerca de 41 mil vítimas de crimes violentos no ano passado, o menor número desde 2007, ano em que o Fórum Brasileiro de Segurança Pública passou a coletar os dados.

O G1 já havia antecipado que um terço dos estados tinha apresentado alta nos assassinatos no último trimestre de 2019, o que acendeu o alerta para uma possível reversão da tendência de queda da violência no país, segundo os especialistas. A reversão foi confirmada no início deste ano.

Os dados apontam que: o país teve 4.146 assassinatos em março de 2020; houve 417 mortes a mais na comparação com o mesmo mês de 2019, uma alta de 11%; já no trimestre, foram 11.908 crimes violentos, um crescimento de 9%; 17 estados do país apresentaram alta de assassinatos no trimestre; 10 registraram queda no período.

Para Bruno Paes Manso, do NEV-USP, esse crescimento no contexto atual de quarentena é preocupante. Ele afirma que ainda é cedo para apontar as causas por trás da alta da violência, mas aponta que a hipótese relacionada a um aumento nos conflitos entre grupos criminosos se sobressai.

“Esse tipo de homicídio não está relacionado a conflitos cotidianos e ocasionais, como os decorrentes de briga em bar, em trânsito etc. São assassinatos relacionados a disputas de poder, de mercado, de território, envolvendo execuções sumárias previamente planejadas. Os homicidas vão buscar a vítima não importa onde ela esteja”, afirma.

Paes Manso afirma que é importante entender os motivos por trás disso. “Será que as autoridades estaduais estão fragilizadas com a crise criada pelo coronavírus? Será que essa percepção de fragilidade levou quadrilhas rivais a disputarem poder e territórios?”, questiona.

“Não existe, contudo, um padrão claro. Estados como Amazonas e Pará, fortemente atingidos pela pandemia, reduziram homicídios em março. Ceará, também bastante impactado, viu os homicídios crescerem. Nesses momentos, às vezes, é mais importante fazer perguntas que dar respostas.”

Nordeste puxa a alta

Samira Bueno também cita outros elementos que podem estar por trás da alta da violência. “Também é de se considerar a falta de um projeto nacional coordenado para reduzir a violência (a exemplo do que propunha o Sistema Único de Segurança Pública e que não foi continuado pela gestão Bolsonaro), novas dinâmicas associadas à ação do crime organizado e o crescimento nos assassinatos de mulheres”, afirma.

A queda registrada no número de assassinatos no Brasil em 2019 bateu recorde e foi a maior se for levada em conta a série histórica do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O número de vítimas também foi o menor desde 2007, ano em que foi iniciada a coleta dos dados.

Os especialistas do Núcleo de Estudos da Violência da USP e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública elencaram alguns pontos para explicar os números, como uma nova configuração do mercado de drogas, um maior monitoramento e controle por parte dos estados dos chefes de facções presos, uma liderança dos governadores em um ano pós-eleitoral e uma política pública consistente de parte dos estados.

Em 2020, porém, fica a dúvida com o cenário apresentado no início do ano e com as incertezas geradas pela pandemia do novo coronavírus.

Os dados coletados mês a mês pelo G1 não incluem as mortes em decorrência de intervenção policial. Isso porque há uma dificuldade maior em obter esses dados em tempo real e de forma sistemática com os governos estaduais. O balanço de 2019 foi realizado dentro do Monitor da Violência, separadamente, e foi publicado em 16 de abril. O de 2020 ainda será feito.

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