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Economia

Aposentadoria não é o suficiente para 64% dos brasileiros, revela pesquisa da Serasa

Pesquisa mostra que 60% começam a planejar finanças apenas cinco anos antes de se aposentar.

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O planejamento financeiro é fundamental para garantir uma aposentadoria tranquila e sem grandes preocupações. No entanto, a pesquisa realizada pelo Instituto Opinion Box em parceria com a Serasa revela que essa ainda é uma prática pouco adotada: 37% dos aposentados admitiram que não se planejaram para esse momento, e 23% dos que estão prestes a se aposentar, em até dois anos, também não estão se preparando adequadamente. Outros 41% iniciaram algum tipo de planejamento, mas não o seguiram de forma consistente, o que contribui para a percepção de que o benefício recebido está aquém do necessário, segundo 64% dos entrevistados.

O feirante Sérgio Correia, de 63 anos, afirma que não planejou financeiramente para a aposentadoria. “Quando eu era jovem, comecei a pagar minha autonomia, assumi o compromisso de pagar mensalmente e simplesmente esperei o tempo passar”, explica. Ele acrescenta que, ao se aposentar, percebeu que o valor recebido seria apenas um complemento à sua renda. “Eu já tinha consciência, desde o princípio, que a aposentadoria do INSS não é suficiente para que você pare de trabalhar. É apenas um complemento.”

A professora de ensino fundamental Glória Rangel, de 58 anos, aponta que a falta de planejamento financeiro tem raízes profundas na cultura e no sistema educacional do país. “Nós não somos educados financeiramente, ou seja, não temos educação financeira no Brasil. O brasileiro não cresceu estudando finanças ou planejamento financeiro básico”, observa. Segundo ela, a ausência de debates e ensinamentos sobre o tema contribui para que muitas pessoas cresçam sem pensar no futuro. “Por menos que se ganhe, é possível separar R$ 10,00 por mês ao longo da vida, mas isso precisa ser ensinado desde cedo.”

A falta de preparação financeira resulta em desafios significativos para muitos aposentados. De acordo com o estudo, 37% têm dificuldades para manter as contas essenciais em dia, e seis em cada dez já precisaram recorrer a crédito ou empréstimos para cobrir despesas básicas, como alimentação, saúde e remédios. Além disso, 48% relatam sentir instabilidade financeira, enquanto 45% temem um maior risco de endividamento. Essa realidade força 53% dos aposentados a continuar no mercado de trabalho, seja para complementar a renda ou, em alguns casos, para manter um estilo de vida ativo.

Rangel reforça a importância de incluir educação financeira no currículo escolar. “Isso deveria ser ensinado desde o ensino fundamental e se tornar um hábito das famílias. No entanto, nem sempre os pais têm o conhecimento ou a habilidade para ensinar isso aos filhos”, lamenta. Ela destaca que, no próprio processo de aposentadoria, não houve planejamento: “Eu cresci sabendo que iria trabalhar e, um dia, me aposentaria. Foi mais ou menos assim.”

Para aqueles que ainda têm tempo antes da aposentadoria, o especialista da Serasa em educação financeira, Thiago Ramos, alerta sobre a importância de começar o planejamento o quanto antes. Correia também acredita que um dos principais problemas está na falta de educação financeira: “O brasileiro vive o momento e não pensa no futuro. Isso é um grande problema. Educação financeira deveria ser uma matéria na escola”, defende.

Mesmo para aposentados que não planejaram, a realidade financeira muitas vezes exige complementação. Rangel explica que a aposentadoria que recebe não é suficiente para cobrir todas as despesas. “Com uma família, despesas como alimentação, faculdade, seguro saúde e contas da casa não são cobertas apenas pela minha aposentadoria. Nós nos complementamos, eu e meu marido”, conta.

Segundo a pesquisa, seis em cada dez pessoas prestes a se aposentar só passaram a se organizar financeiramente nos últimos cinco anos. Ramos ressalta que prever ganhos e gastos futuros é fundamental para aqueles que desejam parar de trabalhar assim que começarem a receber o benefício. Já para quem já está aposentado, ele recomenda criar um controle financeiro alinhado à realidade atual para evitar dificuldades adicionais.

Apesar das dificuldades financeiras enfrentadas, a pesquisa também aponta os desejos dos aposentados que continuam trabalhando. Entre eles, quitar dívidas (40%), viajar (35%), aproveitar o tempo livre (33%) e ajudar os familiares (26%) são prioridades. Esses objetivos reforçam a necessidade de um planejamento financeiro sólido, tanto antes quanto durante a aposentadoria, como forma de garantir mais segurança e qualidade de vida nesta fase da vida.

Correia observa que a falta de equilíbrio no sistema previdenciário também contribui para as dificuldades enfrentadas. Ele acredita que o governo poderia adotar medidas para melhorar a vida financeira dos aposentados. “O número de aposentados supera o de pessoas contribuindo. Isso é um desequilíbrio na balança do INSS. Além disso, o assistencialismo do governo retira muitos recursos de quem trabalhou”, analisa.


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