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Epidemiologistas dizem que lixões podem gerar a próxima pandemia

Convivência próxima entre humanos, animais e dejetos nestes locais facilita o aparecimento de doenças infecciosas emergentes.

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Pesquisa destaca que os depósitos de lixo podem facilitar a troca de material genético entre bactérias. (Foto: Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo/Reprodução)

A expansão dos lixões em países em desenvolvimento pode desencadear a próxima pandemia, de acordo com um estudo publicado recentemente na revista científica One Health. Os pesquisadores alertaram que esses locais concentram pessoas, resíduos e animais nas mesmas áreas e podem ser reservatórios perigosos para doenças como a Covid-19.

Segundo Bruce Gummow, professor da universidade James Cook, na Austrália, e especialista em Medicina Veterinária Preventiva (Epidemiologia) e autor do novo estudo, tem sido observada em todo o mundo uma tendência crescente de epidemias de doenças zoonóticas, que passam dos animais para os humanos e de doenças infecciosas emergentes.

“A maioria dos surtos de doenças infecciosas emergentes tem origem na vida selvagem, e estes surtos envolvem frequentemente a interação agente patogênico-hospedeiro-ambiente. Os depósitos de lixo atuam como uma interface entre humanos, animais e o ambiente, a partir do qual podem surgir doenças infecciosas emergentes”, diz Gummow, em comunicado.

No presente trabalho, a equipe analisou cerca de 350 artigos científicos examinando aspectos da situação.

“Em comparação com os ambientes naturais, os lixões fornecem alimento para os animais durante todo o ano. Uma alta densidade populacional de múltiplas espécies num lixão aumenta a taxa de contato dentro e entre espécies, permitindo a rápida transferência de agentes patogénicos e uma maior probabilidade de novas cepas de patógenos emergentes”, pontua o professor.

Os animais que visitam os lixões apresentam uma alta prevalência de doenças infecciosas e muitas pessoas que trabalhavam como catadores de lixo o fazem em condições anti-higiênicas e insalubres e também geralmente com problemas de saúde.

“A maioria dos catadores de materiais recicláveis ​​nos países em desenvolvimento eram trabalhadores informais que não tinham acesso a cuidados de saúde adequados e, como resultado, poderiam potencialmente transmitir doenças sem terem consciência disso ou sem serem capazes de fazer algo a respeito, caso estivessem. Também têm maior probabilidade de serem expostos a diferentes patógenos zoonóticos”, avalia Gummow.

Além disso, os depósitos de lixo podem facilitar a troca de material genético entre bactérias, levando ao surgimento de novas cepas resistentes aos medicamentos.

“Até 2050, estima-se que as cidades gerarão mais de seis milhões de toneladas de resíduos sólidos por dia. O percentual de matéria orgânica na composição dos resíduos é elevado em países de baixa renda, com descarte descontrolado, como lixões a céu aberto com queima a céu aberto, uma prática comum”, diz Gummow.

Diante disso, é necessário um exame abrangente da ecologia das doenças nos lixões, juntamente com uma gestão sustentável de resíduos que reduza a geração de resíduos e melhore a coleta e eliminação de resíduos.

“Precisamos reduzir urgentemente a interação entre humanos, animais, vetores e agentes patogênicos em lixões se o nosso objetivo for reduzir o aparecimento de novas doenças que podem rapidamente transformar-se em pandemias globais”, conclui o autor.

 


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