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Pesquisa aponta que Amazônia se torna a maior emissora de gases de efeito estufa do planeta

A conclusão é baseada no volume de aerossóis e de monóxido de carbono captado nessa área de emissão.

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Em meio ao cenário de seca extrema e queimadas no Norte do país, dados do Copernicus, o programa de observação da Terra da União Europeia, indicam que o Sudoeste da Amazônia foi a região que mais emitiu gases de efeito estufa no planeta nos últimos cinco dias , segundo Lucas Ferrante, doutor em biologia e pesquisador da USP e da Universidade Federal do Amazonas. A conclusão é baseada no volume de aerossóis e de monóxido de carbono captado nessa área de emissão. Esses gases estão associados aos que causam o efeito estufa na atmosfera, como o dióxido de carbono, que também é liberado em incêndios.

— A região se tornou uma grande emissora de gases de efeito estufa devido ao avanço do desmatamento e das queimadas — alerta Ferrante, que pesquisa os efeitos da ação humana sobre a Amazônia há mais de uma década.

Os efeitos dessa emissão, se continuarem por um longo período, segundo terão impacto sobre todo o planeta, a pesquisadora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) Camila Silva e o professor de Economia da PUC-RS Gustavo Inácio Moraes, que estudou efeitos climáticos em sua tese de doutorado. Moraes ressalva que o cenário por enquanto é o resultado de uma temporada sazonal de queimadas, e apenas um período de muitos meses “poderia criar uma tendência mais alarmante”.

— Os gases liberados para o aquecimento global, que aumentam os níveis do mar, alteram o clima. Além disso, espécies de fauna e flora desaparecem — alerta Silva.

Fogo na beira da estrada

Com mais de 82 mil focos de incêndio de 1º de janeiro a 9 de setembro deste ano, a Amazônia já alcançou o dobro de queimadas em relação ao mesmo período de 2023, e o número só não é maior do que os 85 mil pontos de fogo registrados em 2007, registro da série histórica. Reportagem do jornal O Globo percorreu cerca de 1,6 mil quilômetros na BR-163, que liga Santarém (PA) a Cuiabá, na BR-230 (na Transamazônica) e na Transgarimpeira (na Bacia do Tapajós) e presenciou o avanço do fogo sobre a floresta , os pastos e as casas que margeiam as rodovias.

Na altura da cidade de Trairão (PA), às margens da BR-163, uma família precisou sair de casa às pressas para tentar conter as chamas do terreno ao lado. Enquanto uma mulher retirava os objetos de casa, um homem tentava jogar terra sobre o fogo com um trator. Alguns vizinhos se aproximaram com baldes e uma mangueira para barrar o fogo. A cena virou rotina na região desde agosto, quando se intensificou a seca.

Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o município com mais focos de calor é São Félix do Xingu (PA), com 4.988 pontos. O prefeito João Cleber de Souza Torres (MDB) atribuiu a queimada à estiagem severa e ao costume da população de usar o fogo para preparar a roça.

— Tem muito fogo acidental e alguns podem ser criminosos. O pessoal põe fogo em pequenas roças e no quintal. A seca neste ano foi a mais severa, como não víamos desde a década de 1980. A última vez que choveu foi em maio — disse.

O município abriga a Terra Indígena Apyterewa, onde o governo federal faz um trabalho de retirada de grileiros e garimpeiros. Agentes e brigadistas do Ibama estão combatendo as queimadas na reserva e, segundo a equipe, alguns invasores iniciaram uma queimada na área para evitar que os fiscais retirassem o gado. A denúncia foi levada à Polícia Federal, que já abriu neste ano outros 19 inquéritos para apurar incêndios criminosos na Amazônia e no Pantanal.

Na área do Parque Nacional do Jamanxim (PA), a situação também é dramática. Durante a noite, o fogo avançou com rapidez nas margens da BR-163. A fumaça provoca ardência nos olhos e dificulta a respiração. A reportagem testemunhou uma casa de madeira devorada pelas chamas, enquanto os motoristas desaceleravam na pista com medo das labaredas atingirem os veículos.

No distrito do Jardim do Ouro, em Itaituba (PA), alguns bosques foram para o meio da rodovia Transgarimpeira para escapar das chamas no pasto. O sol virou uma mancha vermelha às 13h, com a fumaça espessa que cobriu o céu. Na paisagem, subsistiam os troncos das castanheiras, que podem chegar a até 50 metros de altura, em meio ao mato rasteiro em cinzas. Araras-azuis e papagaios fugiram do calor em revoada, enquanto os buritis ardiam.

Mais à frente, em Moraes Almeida (PA), uma fumaça atrapalhava a visibilidade na pista de pouso de pequenos aviões que vinham dos garimpos da região.

— Sempre tem fumaça nessa época, mas não tanto quanto agora — comentou Emília Silva, que mora à beira da BR-163.

Além do pequeno aeroporto do garimpo, o distrito tem serrarias, madeireiras e fazendas de gado erguidas no coração da Amazônia.

Cidade do ‘dia do fogo’

A fumaça se intensificou no município de Novo Progresso (PA), que ficou conhecida nacionalmente pelo “Dia do Fogo” em 2019, quando fazendeiros da região organizaram uma vaquinha para pagar o combustível e abrir o pasto no “Dia D” da queimada. O prefeito da cidade, Gelson Dill (MDB), afirmou que a situação atual é pior do que nos últimos anos.

— Moro aqui tem 25 anos e não me lembro de ter vivido uma seca tão grande. A brigada de bombeiros mais próxima fica a 400 milhas. Estamos tentando usar nossos caminhões pipas, mas eles não oferecem acesso às áreas — contorno.


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