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Fantástico mostra fraude que levou homem a tomar parte da Floresta Amazônica e faturar R$ 800 milhões

O investigado é o médico e empresário Ricardo Stoppe Júnior. Segundo a investigação, há pelo menos 20 anos ele se tornou um dos maiores grileiros de terras no Norte do Brasil.

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O programa Fantástico, da Rede Globo de TC, deste domingo (18/08), revelou detalhes exclusivos da investigação do caso de um médico do interior de São Paulo que se tornou dono de parte da Floresta Amazônica e faturou R$ 800 milhões. Durante dez dias, o programa percorreu terras para mostrar como ele conseguiu fraudar documentos e adquirir uma área do tamanho do Distrito Federal.

O investigado é o médico e empresário Ricardo Stoppe Júnior, ele é de Araçatuba, no interior de São Paulo. Mas, segundo a investigação, há pelo menos 20 anos se tornou um dos maiores grileiros de terras no Norte do Brasil. Saiba mais abaixo.

A Polícia Federal (PF) diz que Ricardo armou um esquema de fraudes de documentos que o tornou proprietário, de papel passado, de mais de 500 mil hectares de áreas da Amazônia. Grande parte das terras, que têm o tamanho do Distrito Federal, pertence à União. Mas, ao mudar o passado, ele e seus sócios conseguiram alterar o que os documentos oficiais diziam.

“Houve fraude. Uma mesma pessoa forjou essas duas folhas e inseriu de forma fraudulenta nos livros”, afirma João Pedro Alves Batista, perito criminal da Polícia Federal.

A perícia da Polícia Federal analisou dois livros de registros de imóveis rurais que têm quase 100 anos e comprovou como a organização de Ricardo Stôppe Júnior montava processos criminosos de apropriação de terras. A quadrilha conseguiu inserir folhas falsas no livro de registros.

Segundo a investigação, tudo com pagamento de propina para que funcionários de cartórios da região e do Instituto Nacional de Colonização de Reforma Agrária (Incra), atestassem a operação, o que dava a aparência de ser uma documentação legal.

As negociações foram feitas por telefone.

“Doutor, é o seguinte, eu tinha dado lá aqueles cem que o senhor mandou. Ele quer mais cem mil pra entregar o documento. Falou que o secretário tá p…, não queria mais dar”, diz um áudio.

A polícia nega que Ricardo seja dono legítimo de algum pedaço de terra na Amazônia.”São todas terras da União. É uma grilagem que começou em torno de 2004″, ressalta o agente da Polícia Federal, Wilker Goular.

Segundo a PF, documentos indicam que o grupo forjou uma negociação comprando terras de uma família poderosa da região no passado, dona inclusive de um casarão que foi sede do governo do Amazonas.

Os investigadores dizem que enfrentaram muitas dificuldades por causa da falta de transparência nos processos de regularização de terras e porque as fraudes foram montadas com a participação de órgãos oficiais.

Ricardo Stoppe Junior foi preso em junho deste ano. Mas as operações de busca e apreensão contra ele e os sócios continuam. No mês passado, o Fantástico acompanhou a Polícia Federal e o ICMBio até Lábrea, no interior do estado do Amazonas, outra região em que o grupo atuou e que ainda é ocupada e visitada por pessoas ligadas ao médico.

Parte da área, onde há rios e cachoeiras, foi transformada na Floresta Nacional do Iquiri em 2008, mas Ricardo Stoppe ainda resolveu enfrentar a União pedindo uma indenização de R$ 100 milhões porque afirmou que ele seria o dono das terras. O processo foi suspenso pela Justiça.

Os fiscais foram até lá restabelecer a posse da floresta e voltaram a instalar a placa que é insistentemente arrancada pelos grileiros. Nela, o aviso: é uma área de proteção especial do estado.

A Polícia Federal identificou pelo menos 50 integrantes da organização. Os chefes do grupo, como Ricardo Stoppe Júnior e seus sócios, serão indiciados por desmatamento, corrupção de servidores públicos, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

“A gente já pediu bloqueio e bloqueamos todas as matrículas fraudadas dessa organização criminosa e vamos pedir a restituição desse patrimônio para a União”, diz o delegado.

O que dizem os citados?

Em nota ao Fantástico, a defesa de Ricardo Stoppe Júnior disse que o médico é absolutamente inocente, que perícias técnicas e contábeis vão esclarecer todas as acusações e que a prisão de Stoppe Júnior é desnecessária, já que ele é réu primário, sem antecedentes criminais. A equipe do programa esteve nos endereços de Sâmara de Farias Silva, a oficial de cartório afastada, mas não conseguiu contato com ela.

O Incra declarou também por nota que presta apoio total à Jusitça, que passou a encaminhar os títulos de terra duvidosos para análise de órgãos, como o Ministério Público Federal e a Polícia Federal, e que está investigando a conduta dos servidores envolvidos.

Já empresa as Moss e Verras declaram que, ao tomar conhecimento dos fatos, encerraram suas reações comerciais com as partes investigadas.

COP

O médico e empresário Ricardo Stoppe Júnior participou da COP28, em Dubai, no fim de 2023. É a conferência do clima da ONU em que governos, cientistas e integrantes da sociedade civil de todo o planeta buscam soluções para a crise climática causada pelo homem.

“Nós negociamos esse ano 5 milhões de crédito com a Europa e ano que vem vamos produzir 10 milhões de créditos”, disse ele na Conferência.

Ricardo falou como o “rei do crédito de carbono”. Rei porque se tornou um dos maiores negociadores desses créditos, uma espécie de moeda ambiental usada na tentativa de redução dos gases de efeito estufa.

Em busca de um planeta mais sustentável, países, empresas e até pessoas buscam reduzir as emissões de gás carbônico, um dos mais poluentes. Quem não consegue, e quer compensar as próprias emissões, pode comprar créditos de carbono de projetos que reduzem ou capturam o gás da atmosfera, como uma floresta. Imagine a quantidade de créditos gerados só neste pedaço da Amazônia.

Ricardo Stoppe faturou R$180 milhões nesse mercado ao vender créditos de carbono para mais de 100 empresas, segundo a investigação. Muitas transações foram feitas por meio da Moss, uma plataforma de negociação, e os dados foram confirmados à polícia pela Verra, uma organização internacional que faz a certificação dos créditos.

Como se passava por dono das terras, com o aval de órgãos públicos, o empresário conseguiu aprovar o chamado plano de manejo em diversas áreas da Amazônia. Ele poderia retirar madeira, desde que respeitadas todas as regras e só de onde fosse permitido. Mas a Polícia Federal descobriu que o grupo extraiu ilegalmente madeira de outras áreas da região, inclusive, segundo os investigadores, dentro até de terra indígena. 


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