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Amazonas

Associação acusa Governo do Amazonas de colocar a vida de gestantes e profissionais da saúde em perigo

Nota enviada a órgãos de Justiça denuncia falta de fluxograma para atendimento de grávidas durante a pandemia, falta de EPIs e falha na desinfecção das maternidades, entre outros pontos

A Associação Amazonense de Ginecologia e Obstetrícia divulgou nota em que acusa a administração estadual de “perigosa e despreparada” e que coloca “em risco constante as gestantes, profissionais e todos os funcionários de apoio” nas maternidades do Estado.

De acordo com a presidente da associação, Sigrid Cardoso, o documento foi encaminhado, ontem (15), ao Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM), Tribunal Regional do Trabalho (TRT), Ministério Público (MPAM), Conselho Regional de Medicina (CRM) e Sindicato dos Médicos do Amazonas (Simeam). “É um desrespeito o que está acontecendo. O que vemos é um total despreparo do governo nessa situação da pandemia, que era previsível que chegaria aqui. Foi falta de planejamento. Esperamos alguma decisão judicial”, disse a médica.

De acordo com Sigrid, a Secretaria de Estado de Saúde (Susam) não definiu um fluxo para o atendimento nas maternidades, que recebe um público com necessidades específicas. “A paciente fica perdida. Ela pensa ‘estou grávida, sinto alguma coisa, não sei para onde ir’. Não existe um controle adequado, ela pode contaminar outras pessoas. O obstetra, teoricamente,, não tem preparação para atuar como intensivista, que é uma especialidade médica. E não temos um fluxo definido para essa situação”, explicou, sugerindo a criação de uma ala específica para gestantes e puérperas no Hospital Delphina Aziz, tido como referência para casos graves de Covid-19 no Estado.

No documento, elaborado a partir de vários relatos de profissionais que trabalham nas maternidades, a associação enumera 12 pontos críticos enfrentados atualmente, que expõem ao risco tanto as pacientes quanto os trabalhadores da saúde. Entre eles está a falta de treinamento das equipes, de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e falhas na desinfecção das unidades.

De acordo com Sigrid, vários médicos têm se ausentado do trabalho devido à contaminação do novo coronavírus, o que prejudica o atendimento e sobrecarrega aqueles que continuam. “Quando tem EPIs, eles são precários e em quantidade mínima. Não dá para aceitar. Estão simplesmente a gente atender, sem nenhuma garantia de proteção. Não se importam se vamos adoecer, se temos familiares, se vamos passar para eles. É inaceitável, pois todos sabiam que o vírus chegaria ao Amazonas e houve tempo para antecipar as ações. Isso foi falta de planejamento”, destacou.

Abaixo, os 12 pontos listados na nota, assinada pela diretoria da Associação (Sigrid Cardoso , Carlos Henrique  Freire, Daniele Monteiro, Monica Bandeira de Melo, Jorge Leão, Luiz Carlos Junior, Katia Correa, Gilson José Corrêa e José Fernandes Viana):

  1. Até o momento não foi estabelecido um fluxograma de atendimento às gestantes, parturientes e puérpera que hoje acontecem de forma totalmente irregular.
  2. Não há um hospital de referência apto a atender este público, portanto não sabemos para onde referenciar estas grávidas.
  3. Não houve treinamento para os profissionais de saúde das maternidades.
  4. Não há EPIs adequados, deixando os profissionais expostos com registros de vários deles contaminados e algumas mortes.
  5. As maternidades em sua grande maioria não seguem as normativas contidas na NT04/2020 da ANVISA com sua última atualização no dia 31/03/2020.
  6. Sala Rosa para atendimento dos casos suspeitos completamente inadequada, sem ventilação , com 1,5m de largura por cerca de 3m de comprimento a qual propicia a contaminação de quem lá adentra.
  7. Não existem aparelhos exclusivos como sonar que são usados em outras gestantes assintomáticas.
  8. Não existe alas específicas, como leitos de internação sem complicação, com quartos ou enfermarias isoladas adequadas para abrigar as pacientes suspeitas.
  9. A desinfecção das áreas comuns das maternidades restringe -se ao chão e somente uma vez a cada 12 horas de plantão.
  10. Não existe rotina de higienização de mesas e utensílios de uso comum no atendimento, isso só ocorre se nós fizermos por iniciativa própria .
  11. Os confortos médicos transformam-se em áreas esquecidas das gestões nos quais somente o chão é limpo, sem qualquer outro cuidado com portas, mesas, geladeiras que são fontes inesgotáveis de contaminação com falta da higienização periódica.
  12. As camas, na maioria das vezes, não possuem sequer lenções para cobri-las, o que dizer de ser higienizadas com álcool a 70% . Os banheiros seguem no mesmo sentido.

Como solução, o documento propõe:

  1. Entrega imediata de todos os EPIs aos profissionais sob pena de tomar as medidas jurídicas cabíveis para o caso.
  2. Que as gestantes sejam direcionadas a um hospital de referência de atendendo aos casos de Covid-19 para uma ala própria  ao atendimento das mesmas pois estariam melhor assistidas com intensivistas, clínicos e obstetras.
  3. Elaboração imediata de um fluxograma de atendimento.
  4. Restrição de visitas e acompanhantes nos locais de atendimento, salvo situações especiais;
  5. Manter o funcionamento dos ambulatórios de pré-natal das pacientes observando-se os cuidados necessários para este atendimento.
  6. Implementar ainda mais todas as medidas de prevenção da disseminação da doença entre a população e os próprios profissionais da saúde.

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