Brasil
Número de queimadas na Amazônia em 2024 já é o maior para o período em quase duas décadas, diz Greenpeace
Apenas nos dias 23 e 24 de julho, a Amazônia teve mais de mil registros de fogo, de acordo com dados do INPE. É um recorde em quase 20 anos.
Com 20.221 focos de calor registrados de 01 de janeiro a 24 de julho de 2024, os registros de fogo na Amazônia nos sete primeiros meses do ano já são o maior para o período desde 2005, segundo dados do sistema BDQueimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Além de um recorde em quase 20 anos, o fogo registrado na Amazônia nos sete primeiros meses do ano teve um aumento de 43,2% em relação ao mesmo período de 2023 (14.116 focos de calor).
O especialista em campanhas do Greenpeace Brasil, Rômulo Batista, vê com especial atenção o mês de julho de 2024, que, a uma semana para o final do mês, já supera o total registrado em julho do ano passado: enquanto foram registrados 5.772 focos de calor de 01 a 31 de julho de 2023 na Amazônia, o período de 01 a 24 de julho deste já soma 6.732 focos.
“O registro de fogo até 24 de julho já superou o total observado para todo o mês de julho do ano passado. Além disso, somente nos últimos dois dias, 23 e 24, foram mais de mil focos de calor”, alerta Batista.
Nos dias 23 e 24 de julho, a Amazônia teve 1.318 focos de calor. Para se ter noção da quantidade de fogo, esses dois mesmos dias no ano passado registraram 671 focos, um aumento de 96%. Em 2022, tais dias tiveram 399 focos.
O porta-voz do Greenpeace Brasil lembra que, historicamente, é esperado um alto índice de desmatamento e queimadas na Amazônia entre julho e outubro, época onde a maioria dos estados passa pelo chamado “verão amazônico”, caracterizado pela diminuição da chuva e da umidade relativa do ar e do aumento da temperatura, o que deixa a vegetação mais seca e sujeita ao fogo. “Mas, considerando que ainda não chegamos ao fim de julho e que ainda temos mais três meses de verão amazônico, a situação do fogo e da seca é de extrema preocupação na Amazônia”, explica Batista.
“A melhor forma de combater o fogo é evitar que ele comece, pois, uma vez começado, ele se alastra e forma grandes queimadas, como estamos vendo acontecer. A Amazônia precisa de um planejamento sistemático do bioma, que passa por continuar combatendo o desmatamento e atingir o Desmatamento zero o quanto antes, mas também precisamos atuar fortemente na prevenção, no manejo integrado do fogo e criar verdadeiros batalhões de combate a queimadas e incêndios de biomas naturais que sejam estruturados, bem pagos e equipados para esse combate. Locais com difícil acesso, como no Pantanal e na Amazônia, precisam que o Brasil invista em um esquadrão de combate ao fogo, inclusive com aviões de grande porte dando suporte a esse combate. Não adianta termos somente brigadistas em parte do ano na Amazônia”, completa o porta-voz.
Múltiplos fatores
Vários fatores contribuíram para o aumento do fogo na Amazônia em 2024: a região está mais seca, o que está intimamente relacionado às mudanças climáticas e foi potencializada pelo fenômeno El Niño.
“Acabamos de passar pelo ano mais quente já registrado nos últimos 100 mil anos e em junho completamos 13 meses consecutivos de temperaturas recordes mensalmente. Quanto maior a temperatura, mais vulnerável a floresta e mais sujeita a queimadas ela está”, explica o porta-voz do Greenpeace.
Batista também aponta que a paralisação dos servidores do Ibama, devido às justas reivindicações salariais e reestruturação de carreiras, pode gerar a sensação adicional de impunidade.
“Somado ao contexto atual de paralisação do Ibama, outro problema histórico é que não há rigor por parte dos governos para punir os responsáveis pelos incêndios criminosos – não adianta apenas multar quem incendeia, é necessário fiscalizar se houve o pagamento da multa, o que não ocorre na maioria dos casos. Essa leniência permite que o crime seja cometido com mais frequência, pela certeza da impunidade. É preciso empenho integrado entre o governo federal e os governos estaduais na fiscalização das queimadas no bioma”, diz Batista.
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